sábado, 3 de outubro de 2015

O APEGO CONDENÁVEL À RIQUEZA

O APEGO CONDENÁVEL À RIQUEZA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* O episódio do homem rico relatado por São Marcos mostra a lição de partilha que Jesus prega a seus seguidores (Mc 10, 17-30). Cristo ia pelo caminho quando intempestivamente foi abordado por alguém que se ajoelhou a seus pés. Não tinha vindo pedir alguma cura para si ou para seus parentes e amigos. Ele não deprecava nenhum milagre estupendo do divino Taumaturgo. Queria, isto sim, uma resposta à questão que o preocupava. Tratava-se de um assunto que interessa a todo aquele que tem fé: “Que hei de fazer para alcançar a vida eterna? Note-se que ele era de uma pessoa realista, pois almejava viver de tal forma que pudesse alcançar uma eternidade feliz. Com as coisas transitórias ele desejava garantir, desde agora, a passagem da morte para a ventura perene. Louvável a atitude do interlocutor de Cristo, pois pensar no que iria acontecer além túmulo é sempre uma elogiável preocupação a conduzir à prática de boas ações. Ótima oportunidade para que Jesus firmasse a observância dos mandamentos de Deus. Aquele homem os obedecia, mas queria se limitar a passar pela porta do céu e não possuía o ideal de uma perfeição que lhe obteria uma recompensa maior no Reino eterno. Pelo visto, ele se mostrava por demais apegado a seus bens materiais e não cultivava a partilha. A ajuda aos pobres, aos necessitados precisa fazer parte da existência de quem se candidata a entrar na Casa do Pai. O personagem em tela tinha muitos haveres e bem poderia socorrer quem estivesse em situação de pauperismo. São Paulo ensinaria aos Coríntios: “ Dê cada um conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento pois Deus “ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9, 7). Em seguida este Apóstolo acrescenta: “Como está escrito: “Distribuiu generosamente, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre” (v. 9). Isto não entendia o homem rico que foi até Jesus. Como ele observava desde sua juventude os preceitos do decálogo, Cristo o olhou ternamente. Havia algo de positivo na sua vida moral, era fiel, justo, mas Jesus queria que ele possuísse uma sabedora nova, indo além do poder terreno, da vontade de ter egoisticamente bens materiais. O verdadeiro cristão usaria de tudo que Deus lhe outorgou, mas não seria escravo daquilo que possuísse. Haveria inclusive os grandes heróis que seguiram ao pé da letra a recomendação do Mestre divino e, embora ricos, distribuíram tudo para os pobres como Santo Antão que tendo herdado uma fortuna imensa se desfez de tudo em obras de caridade ou São Francisco de Assis o qual renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”. Assim inúmeros outros santos. Se este ideal não pode ser comumente seguido, o que Jesus está a pregar é, no mínimo, não se ter apego a nada material. Quantos se deixam escravizar por ninharias, esquecidos de que para a outra vida nada se levará deste mundo. Tantas vezes, até objetos sem valor em si se tornam um tesouro, cuja perda seria uma catástrofe pessoal. São os que colocam obstáculos para uma maior entrega a Deus, envolvidos que se acham nas falsas evidências de seu sistema pessoal. Não se pode, porém, olvidar que a previdência não vai contra a providência divina nem contra o altruísmo recomendado pelo Evangelho. É que a caridade começa com o cuidado consigo mesmo para não ser depois pesado aos outros. Em tudo, inclusive na vida espiritual, é preciso o meio termo, o equilíbrio, o bom senso que carecia o interlocutor de Jesus. Este dirá no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus”. São os que agem sem prepotência, nem arrogância, sem apego ao dinheiro, apoiados na humildade. Jesus de rico que era, tornou-se pobre por causa de nós, para que nos tornássemos ricos por sua pobreza (2 Cor 8,9). Os apóstolos haviam deixado tudo para seguir a Cristo e este lhes afiança no século futuro a vida eterna. O importante é colocar os valores espirituais acima de tudo. De fato a tesouros sobre a terra se apresentam com muitas variedades como casas luxuosas, ações na Bolsa, iates, aparelhos da última geração. Muitos deles são realmente supérfluos e em nada ajudam para a eternidade. Cumpre haver discernimento. Cada um vale pelo que é e não pelo que tem. Bens materiais não devem ser o critério de felicidade. Os tesouros do céu, estes sim, são eternos, duram para sempre, mas só são conhecidos pela fé, pois os tocamos apenas pela esperança. Estas virtudes teologais desvendam a fugacidade de tudo que se possui neste mundo. Entretanto, Jesus foi claro: “Lá onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21). Assim sendo as coisas do mundo não devem absorver a vida do verdadeiro cristão. Este fixa seus olhares para o céu. Para lá devem estar voltados seu tempo, suas energias e tudo que possua. Nunca é tarde para usar tal juízo crítico, pois “muitos dos primeiros, serão os últimos e os últimos, primeiros”. Há sempre oportunidade para aumentar otesouro na Casa do Pai. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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