A HOMENAGEM PERFEITA A DEUS

A HOMENAGEM PERFEITA A DEUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* A essência de uma homenagem ininterrupta a Deus por entre os afazeres diários é a entrega total a Ele do coração e da alma. Apegar-se inteiramente a Ele a todo instante, sendo um mesmo espírito com Ele. Isto sem tergiversações, hesitações ou tardança, mas sem inquietações porque Ele não aprova a agitação. Tal atitude sobrenaturaliza tudo que se realiza no dia a dia. Há uma ordem dada por Deus a Abraão: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gên 17,1). Está registrado no livro do Deuteronômio o que Ele falou através de Moisés: ”Escuta Israel, o senhor nosso Deus é o único senhor. Tu amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,4). Submeter a Ele o coração é fazer deste Senhor o centro de todos os afetos. Isto com todas as energias que o amor supõe e exige. Deste modo, nenhuma criatura, nada que rodeia o homem podem subjugar a dileção devida de direito e de fato ao Ser Supremo. Ele é infinitamente amável, mas não é fácil ao cristão se desprender de seus falsos ídolos. Trata-se então de derrubar tudo que obnubila a supremacia divina, inclusive, numa visão baconinana, as convenções meramente sociais que contraíram a integral fidelidade ao Criador. Muitos não gozam da beatífica tranquilidade e do íntimo júbilo exatamente porque cedem lugar às ilusões terrenas sobrepondo-as ao próprio Deus. Inúmeras vezes pequenos apegos passam a dominar e não há, além disto, uma luta persistente para destruir o amor-próprio. Este com suas imposições ofusca as luzes celestes. O amor-próprio é o que há mais íntimo no ser humano. Apenas com a graça é que pode ser reprimido para que haja o domínio soberano de Deus. Trata-se da purificação integral do coração exterminando certas inclinações que em nada engrandecem o cristão. Quanta idolatria pode haver, por vezes, para com pessoas e as coisas que são supervalorizadas não numa visão sobrenatural, mas numa concepção completamente terrena. Por meio do Profeta Ezequiel Deus foi dada uma ordem: “ Lance fora cada um os ídolos dos próprios olhos e não vos contamineis com os fantoches do Egito; eu sou vosso Deus” ( Ez 20,7). Além do amor integral a Deus vindo do coração cumpre amá-lo com toda a alma. Quando a inteligência humana, que é uma das faculdades da alma, reconhece a dependência absoluta com relação a Deus o ser racional renuncia a si mesmo e se une estreitamente a seu Senhor. Na prática isto nem sempre ocorre e a autoestima prevalece acima dos desígnios divinos. A prova maior da arrogância é a conduta contra os preceitos estabelecidos por Deus. Entretanto, mesmo os que se preservam das faltas graves nem sempre demonstram uma total submissão ao Senhor de tudo, o que impede um louvor perfeito a Ele. É mando a Deus de todo o coração e de toda a alma que o cristão patenteia a Ele lealdade absoluta. É se fixando apenas .nele que cada um pode deparar a verdadeira felicidade e conhece a realidade do que está na Bíblia: “ Entrega tua sore a Deus, Ele te amparará ‘( Sl54,23)_.Quando Deus é o primeiro objeto do amor, sem restrição alguma, paira tal serenidade que nenhum mal pode perturbar. O cristão deixa-se dirigir por Ele passo a passo. Daí o valor da prece ensinada pelo Pe. Grou: “Ó meu Deus, governai o meu espírito, purificai o um coração e fazei--vos reder a vós mesmo, por um e por outro, a homenagem que Vos é devida em toda sua plenitude” Muitos despendem muito tempo e energia em toda sorte de práticas religiosas, num sem números de orações e sacrifícios, mas não param para verificar até onde vai a entrega amorosa a Deus de todo o seu ser, a saber de toda seu coração e de toda sua alma. Deste modo se evita o perigo de se extraviar do caminho desejado por Ele. Desta maneira nos momentos de aflição ou de tentações do Inimigo o cristão fica firme, dado que se submeteu amorosamente à vontade divina. Para quem tem fé, como observou Karl Adam tudo que advém de fora ou de dentro, cada acontecimento, concretiza o que Deus quer e resulta, em consequência, profundo gáudio interior. Na Bíblia este Deus se apresenta zeloso de sua glória, porque Ele é infinitamente merecedor dos louvores de suas criaturas, imensamente digno de ser amado e de receber uma homenagem perfeita sem ambages., com total sinceridade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.