segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A MISSÃO DE SANTA TERESINHA

A MISSÃO DE SANTA TERESINHA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Em um dos manuscritos autobiográficos de Santa Teresinha se acha qual foi sua missão no coração da Igreja. Ela não se encontrou em nenhum dos membros do Corpo Místico de Cristo enumerados por São Paulo nos capítulos doze e treze da primeira Carta aos coríntios. Entretanto, prosseguindo na leitura decodificou para si a grande mensagem do Apóstolo, ou seja, que o amor é o caminho mais excelente que leva com segurança a Deus [...] O amor deu-me o eixo de minha vocação”. Envolta no amor a Deus ela atingiu a culminância da santidade e suas preces e sofrimentos levaram à conversão milhares de almas. Cumpre então bem conceituar em que consiste este amor que transfigurou a santa de Lisieux. Trata-se do amor que não é manchado pela autoestima. Esta consiste em tudo fazer girar em torno de si mesmo, sendo Deus banido por não ser Ele o fim último dos atos daquele que age só em função do amor-próprio. Como Santa Teresinha tudo referia a Deus, lhe foi possível acatar sacrifícios, sofrimentos, mortificações e viver em oração contínua. Ela de tal forma se desligou das coisas da terra que já percebia neste mundo algo das delícias eternas. Por tudo isto ela se purificava dia a dia e de tal maneira que com apenas 24 anos foi digna de ir para o céu de onde continuaria a derramar as graças divinas para seus devotos. Através deles operaria admiráveis mudanças de vida por parte de milhares de transviados. É impossível ao comum dos mortais atingir o amor puro de Deus no grau a que chegou Santa Teresinha, mas ela traçou um ideal plausível a todos os cristãos. Com efeito, é possível o esforço para que cada um se despoje de si mesmo e seja em tudo fiel a Deus. Entrega de tudo. ao Senhor com generosidade, não desfalecendo ante as provações que Deus permite para testar a lealdade de quem diz que O ama. Neste mundo o cristão tem que conviver com as tentações, as contrariedades que podem a cada passo surgir. Por vezes a Providência divina permite até humilhações vindas de pessoas com as quais se convive, mas a paciência tudo suporta e leva à santidade existencial. Sobretudo na vida de muitos santos se lê que uma terrível provação foi o se julgarem abandonados por Deus, mas este não deixa sobrevir nunca o desespero. O intuito divino é sempre a total. Confiança nele. A entrega à vontade divina se torna então a mais sublime oferta do ser racional a seu Criador. Jesus, enquanto homem, deixou um exemplo magnífico, por ter “se aniquilado a si mesmo” (Fl 2,7). Eis ´por que o verdadeiro cristão a exemplo de Cristo, de Santa Teresinha e tantos outros santos, procura harmonizar sua existência com o beneplácito divino. Para cada um Deus tem seus planos específicos. São Paulo, num momento de pulcra inspiração, exclamou: ”Ó profundeza inexaurível da sabedoria e da ciência de Deus! Como seus juízos são insondáveis e incompreensíveis os seus caminhos! Porque quem jamais conheceu o pensamento do Senhor ou lhe foi o conselheiro”?”(Rm 11,33). A adesão irrestrita ao Todo-poderoso Senhor é a plenitude da sabedoria. Ele advertiu através do Profeta Isaias: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55,8). Aí está a razão pela qual nada mais maravilhoso do que cumprir a cada instante a Sua vontade santíssima e não fazer a vontade própria. Deste modo, a tarefa de cada hora, grande ou pequena, agradável ou desagradável, ganha um valor imenso. Não é fácil agir continuamente desta maneira, a não ser que o cristão esteja ancorado na convicção de que Deus é quem sabe o que é mais vantajoso para cada um de seus filhos fiéis. O olhar perspicaz da fé leva então o cristão não apenas à observância dos mandamentos, mas ainda mais à fidelidade nas mínimas circunstâncias da vida. É preciso estar atento ao menor sinal de Deus para poder discernir suas inspirações, sendo sensível ao toque da graça. É assim que se conhece o que Deus quer, podendo conformar a Ele a conduta diária. Daí resulta a calma, o recolhimento, a tranquilidade como frutos não de uma passividade mórbida, mas de uma harmonia com Deus que, por sinal, é em si exigente. Aceitar tudo que vem de Deus conforme aconselhou São Paulo: “Quer comais, quer bebais, que façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Cor 10,31). Desta maneira, o cristão cumpre a missão que o Criador lhe reservou neste mundo e terá, a exemplo de Santa Teresinha, uma grande recompensa na Casa do Pai. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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