sábado, 31 de janeiro de 2015

SER HUMILDE COMO JESUS

SER HUMILDE COMO JESUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* De uma criatura presunçosa Deus retira sua força e a abandona a si mesma. Ele e somente Ele é o único autor e consumador de todo bem que há no cristão. Donde quem confia em si e se blasona de suas ações está a caminho certo de toda miséria moral. É sabedoria celestial se apoiar apenas na graça divina. Nada mais detestável à onisciência do Senhor Onipotente do que a auto complacência, a exaltação mórbida do próprio ego, a autoadmiração. Eis por que tantos cristãos que, bem intencionados, procuram se santificar, logo que começam a interiormente se julgar virtuosos abandonam a caminhada. Esta empáfia, realmente, impede que Deus continue a outorgar sua proteção e ajuda. Como deixam de orar ainda mais intensamente por se julgarem pessoalmente suficientes passam s sentir até desgosto, repugnância da prática das virtudes, dado que, lhes faltando o amparo celeste, fica difícil superar obstáculos, e se lhes agigantam na mente dificuldades que parecem insuperáveis. De fato, como ajuizavam que eram fortes e podiam realizar façanhas espirituais pelas suas próprias forças, diante dos contratempos que surgem, percebem que são, ao contrário, fracas e indecisas. No momento, contudo, que o cristão toma consciência de seu nada, de sua incapacidade e se volta para Deus numa humilde oração, ele faz uma revisão de vida. Proclama então a seu Senhor que sem Ele nada pode e reconhece ser necessário o arrimo celeste para se fazer o bem. Fica então em condições de superar a malignidade da natureza humana e reconhece que de si mesmo não consegue realizar a mínima boa ação. Tal cristão não conta mais consigo, mas se torna capaz de receber a energia do alto. Com esta força já consegue enfrentar sofrimentos, humilhações, trabalhos, fadigas para glória de Deus e bem dos outros. Quer ser nas mãos divinas um mero instrumento. Repete com São Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1 Cor 16,10). Por isto intensifica seus pedidos ao Ser Supremo para que o ajude. Mentaliza as palavras de Cristo: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Fica convencido do que diz o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 108,13). Permanece deste modo vencido também a pusilanimidade. Esta é filha da falta de fé e torna o cristão inerme, irresoluto. O remédio contra a presunção é a intima convicção de que Deus é a fonte de todo bem e que a criatura humana é limitada, não tem em si a razão de seu existir. Quando tudo se atribui ao Onipotente Senhor desaparece a fraqueza de ânimo, a debilidade, a insegurança. Portanto, o verdadeiro seguidor de Cristo precisa ser humilde, pois a humildade o inundará nas luzes divinas, nunca negadas a quem sempre agradece a Deus todo bem que pratica, tudo que possui. Cumpre, contudo, perseverar no espírito de humildade, pois a perseverança deve conduzir a uma perfeita conduta, como adverte São Tiago (Tg 1,26). A humildade deve e se tornar um estilo de vida que erradica a autossuficiência e leva ao autêntico louvor a Deus, reconhecendo a superabundância de seus dons. Esta virtude entra no plano histórico-salvífico de cada cristão, pois imerge continuamente em novas graças divinas. O fiel passa a reconhecer a Deus em sua sabedoria e poder absolutos. Aceita-se como é com suas qualidades a serem cultivadas e seus defeitos que precisam ser combatidos. Confia sem limites e sem reservas na sabedoria de Deus e na sua força infinita. Trata-se do antipecado, da antisoberba e assim o homem não ousa se sobrepor ao Ser Supremo. Os anjos rebeldes, chefiados por Lúcifer, quiseram suplantar o Criador e se tornaram espíritos das trevas. A humildade é exatamente a relação pessoal com Deus e rejeição do maligno. O humilde de coração vive e cresce em Cristo e se deixa levar pelo modo de ser do Filho de Deus. Com efeito, afirmou São Paulo, Cristo “se humilhou, fazendo-se obediente até à morte e à morte de cruz” (Fl 2,8). É que em Jesus e de Jesus nasce o coração humilde. Por tudo isto a humildade não é uma avaliação pessimista do ser humano, mas a afirmação de que Deus é a fonte da luz, da força transformadora que age nos que nele confiam. Exime-se assim o batizado da preocupação de garantir-se a si mesmo. A humildade induz à sintonia com o poder divino. Portanto, esta virtude deve ser um sinal do cristão que não furta nunca a glória divina, mas rende a Deus toda honra por tudo de bom que tem e faz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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