segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A CRUZ UM GRANDE TESOURO

A CRUZ UM GRANDE TESOURO Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* No dia no qual a liturgia da Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz nada melhor do que recordar a feliz expressão de Santo André de Creta: “ Que grande coisa é possuir a Cruz, pois quem a possui, possui um tesouro”. Nesta solenidade cumpre, de fato, penetrar ainda mais no significado deste mistério de Cristo morto no alto de um madeiro para salvação da humanidade. São João proclamou: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único para que os homens sejam redimidos” (Jo 3,16). O Verbo divino encarnado se fez vulnerável, tomando a condição de servo, obediente até à morte e morte numa cruz, como lembrava São Paulo aos Filipenses (Fl 2,8). O instrumento de suplício que manifestou o julgamento de Deus sobre o mundo prevaricador se tornou a fonte da vida, do perdão, da misericórdia e sinal de reconciliação e de paz. Por isto Santo Agostinho aconselhou que “para ser curados do pecado olhemos Cristo crucificado”. Elevando os olhos para Jesus imolado lá no Calvário, adoramos o Cordeiro que veio tirar o pecado do mundo e ofereceu a todos a vida eterna. Neste dia a Igreja convida os fiéis a contemplarem com confiança esta Cruz para que cada um possa se imergir e vibrar ainda mais no amor de Cristo. Mostra, desta maneira, que é preciso dar graças a Deus porque de uma árvore na qual se deu a morte, surgiu de novo a vida perdida pelo pecado. Como se canta na Sexta-feira Santa, neste lenho bendido Jesus patenteou sua soberana majestade: “Regnavit a ligno Deus- Deus reinou do alto do madeiro”. Jesus, após sua ressurreição, foi exaltado na glória. Tal então o convite da liturgia: “Vinde, todos e O adoremos”. Dele devemos nos aproximar com toda confiança. Lá no Gólgota, os inimigos de Jesus não percebiam outra coisa senão alguém que mereceu aquele terrível castigo. Para quem tem fé, porém, a inteligência esclarecida pelo Espírito da Verdade, o faz penetrar neste mistério, deixando-se atrair pela imensidade da dileção daquele que nos amou até o fim, regenerando com seu sangue precioso todos os homens. Doce lenho, doces cravos que sustentaram o Redentor! No dia do julgamento final esta Cruz aparecerá gloriosa no céu e o Senhor julgará definitivamente os vivos e os mortos. Naquele instante todos verão o poder do Crucificado. Aqueles que se deixaram atrair por Ele conhecerão a ressurreição para a vida eterna feliz junto de Deus. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto a qual foi salvação para muitos, do mesmo modo, todos que olham com amor para esta Cruz conhecem a redenção. Ela terá sido para eles a fonte de toda bênção e o principio de todas as graças. Jesus crucificado faz passar os que crêem da fraqueza para a força, do opróbrio para o triunfo, da morte para a vida eterna. O sinal da Cruz que traçamos sobre nós é a síntese de nossa fé a nos dizer que com o divino Crucificado tudo podemos contra as forças infernais e os embustes do demônio. Indica claramente que o amor é mais forte do que o mal que cerca o ser humano neste exílio terreno. O Mártir divino restituiu a possibilidade de se recuperar a dignidade de filhos de Deus perdida lá no Paraíso terrestre por nossos primeiros pais. Neste Madeiro Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Recebeu em si as humilhações e as discriminações, as torturas infligidas pelos poderes humanos a serviço da maldade e da perversidade. Entretanto, ninguém se salvará se não fizer de sua parte. Entretanto. a esperança dos cristãos está em que, correspondendo ao sacrifício de Jesus pelas boas obras, serão salvos. Lembremo-nos ainda que esta solenidade de hoje remonta aos primeiros séculos da Igreja. Foi com a visão da Cruz que o imperador pagão Constantino se converteu e pelo Edito de Milão em 313 sancionou a liberdade dos cristãos. Em 335 os discípulos de Cristo edificaram uma Basílica no local da Crucifixão de Jesus. Presente no Calvário o Centurião romano havia exclamado: “Verdadeiramente era este o Filho de Deus” (Mc 15,19) e, assim, a Cruz sempre foi o sinal da glorificação do Redentor da humanidade. São Paulo proclamaria na carta aos Filipenses: “Deus o elevou acima de tudo”. (Fl 2,9). Desta maneira, os seus seguidores pelos séculos afora seriam os anunciadores da Cruz reconhecendo nela o sinal da vida e da redenção a repetirem com o Apóstolo: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14) Eis aí uma sentença que resume bem o sentido mais profundo da festa de hoje. A transformação do coração nos vem, realmente, deste Lenho Sagrado que é penhor de vitória sobre as invectivas do maligno e sobre a morte.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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