terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Entregar-se a Deus

ENTREGAR-SE A DEUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* A união espiritual da alma em estado de graça com Deus é sempre fruto de uma fé profunda. Surge então uma reciprocidade de amor que envolve numa imperturbabilidade absoluta, fruto de uma total entrega da criatura a seu Criador. Este, sendo a fonte do amor eterno, submerge o ser criado numa felicidade imensa, imunizando-o de todo e qualquer temor. Para se atingir este ideal cumpre, antes de tudo e sobretudo, uma completa pureza interior, segundo o que ensinou o Mestre divino, Jesus Cristo: “Bem-aventurados os puros porque eles verão a Deus”. É claro uma visão não com os olhos do corpo, mas pela contemplação do espírito. Trata-se da efusão da Santíssima Trindade que habita no íntimo do verdadeiro seguidor de Cristo: “Se alguém me ama, meu o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada”. Então o fiel transforma todas as suas ações em atos de amor. Pela manhã, ao se levantar, diz na sinceridade uma prece intensa: “Senhor, tudo que eu fizer neste dia é para a vossa maior honra e glória”. Todas as ações ficam, deste modo, sobrenaturalizadas, o que não significa que não haja as provações. Estas exatamente vêm para provar a realidade do oferecimento matinal. Deus, porém, é sempre um admirável companheiro de jornada. Certa feita, por entre grandes tribulações Santa Teresa de Ávila, após as suportar, indagou a Cristo: “Onde estáveis, Senhor, enquanto eu estava submersa em angústias, inúmeras agitações a minha volta” – Teresa, respondeu Jesus, estava bem dentro de teu coração para a ajudar a triunfar destas provações”. Todas estas reflexões mostram o que vem a ser viver na presença de Deus e como usufruir das luzes divinas, o que torna o batizado um iluminado. É preciso, contudo, ficar atento às inspirações do Divino Espírito Santo que afasta um perigo, previne uma queda, inspira uma aversão para as ilusões terrenas. Por vezes, Deus parece se afastar e se retira bem para o interior da alma, mas isto para que ela sinta a sua aparente ausência. Ele quer purificar o amor de ligas estranhas. Deus deseja sempre corações vazios de si mesmos para os plenificar de seu Amor sublime, abrasando quem O ama com o fogo de sua dileção maravilhosa. Eis porque o cristão, desta maneira, foge das futilidades, temendo sempre perder a dileção divina por qualquer negligência sua. Entretanto, para ajudar o ser humano, tão envolto no sensível, o cristão tem na Eucaristia um meio para se afervorar e se imergir na fornalha de amor infinito que é o Coração de Cristo eucarístico. Este Coração purifica, transforma e diviniza o coração humano pelo fato mesmo de aumentar a graça santificante. Assim se abrem novos espaços para a Santíssima Trindade dentro alma. A Eucaristia, além disto, fortifica e premune o fiel contra todo pecado. As ocupações diárias, as contrariedades, os sofrimentos, os menores incidentes da vida se tornam propícios para o crescimento na fidelidade a Deus. Aí está a razão pela qual uma alma sempre unida a Deus leva o cristão a ser afável, polido, caridoso, pontual nas suas obrigações, pouco se importando o com o juízo dos homens. Contudo, o amor desinteressado do verdadeiro cristão forma-se gradativamente. A graça tende a desenvolver, a purificar o fiel de toda mescla de amor próprio. Faz reconhecer que o caminho da virtude é árduo e são necessários anos para se atingir a meta da perfeição. Por isto mesmo, o cristão nunca se fixa nos seus defeitos, mas persevera sabedor de que somente Deus é o Ser sumamente Santo. Neste mundo todos vivem sob o véu do mistério, mas cobertos pela sombra da fé. Deus reserva a eternidade para desvendar a cada um tudo em que se acreditou neste mundo todo o bem que tenha praticado. O que importa é cada um se dedicar com todos os ardores do coração, com toda a energia da vontade, com todas as luzes e recursos da inteligência na procura da união com Deus. É estar à disposição do Ser Supremo em qualquer lugar seja em casa, seja em outros locais de trabalho, seja nos momentos de diversão, seja na praça pública, seja onde for, levando uma vida inteiramente agradável a seu Criador. Dá-se o que falou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”! O verdadeiro cristão tem, portanto, o mundo em suas mãos!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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