terça-feira, 7 de junho de 2011

UM DOCUMENTO PRECIOSO SOBRE SANTA RITA

UM DOCUMENTO PRECIOSO SOBRE SANTA RITA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Revista do Mosteiro Agostiniano de Cássia, intitulada “Das Abelhas às Rosas”, publicou, em novembro de 2007, um louvor popular do sarcófago de Santa Rita. Trata-se de uma urna funerária do ano de 1457 que pode ser visitada no referido mosteiro. Esta urna estava muito danificada e apenas com a restauração de 1925 foi possível ler corretamente o epitáfio e distinguir claramente as imagens que a ornavam. Belíssimos os dizeres: “Ó bem-aventurada, quanto nos iluminastes com tua constância e virtude diante da Cruz da qual recebestes do Rei grandes sofrimentos, depois de haver abandonado a triste vida do mundo de Roccaporena para ir alegrar-te com teus sofrimentos morais e desconhecidas feridas da tua alma inebriante naquelas muito mais atrozes de Cristo! Que mérito tão grande ganhaste! Que grande fé, superior àquela de qualquer outra mulher, te foi concedida! Tanto que recebeste de Cristo um de seus espinhos, não como recompensa terrena, porque quiseste jamais ter outro tesouro superior a Cristo a quem te consagraste completamente; sem embargo, não pareceu bastante para considerar-te bem purificada, tanto que o levaste em tua fronte por quinze anos antes de partires para o céu. 1457”.
Como se pode deduzir os contemporâneos desta santa admirável, por ocasião de sua morte, relataram exatamente o que depois os grandes biógrafos haveriam de analisar e as imagens dela feitas por artistas primorosos retratariam.
Observa o Pe. Remo Piccolomini que pelo texto se pode perceber que Santa Rita sofreu muito e, na verdade, grandes tormentos. Suporto-os, contudo, por amor a Cristo Crucificado a quem ela inteiramente se consagrou. Deste modo, a dor foi para ela uma dádiva por meio da qual ela se purificou. Foi por isto mesmo que ela desejou ter na sua fronte um sinal da paixão do Redentor, o que se tornou luz e conforto para todos os seus devotos.
Como Santa Rita, o verdadeiro cristão deve se matricular na escola do divino Redentor que tanto padeceu pela salvação do mundo. É-lhe preciso penetrar fundo no significado das provações que Deus permite neste mundo, dando-lhes uma aplicação divinamente transcendental. Cumpre que cada um se lembre do que disse Santo Agostinho: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti”. Este santo explicava então: “A cruz é um navio; ninguém pode atravessar o mar deste mundo sem ser levado pela cruz de Jesus Cristo”.
São Paulo advertiu: “Nós, porém, pregamos a Cristo, o crucificado, escândalo para os Judeus e loucura para os gentios (1 Cor 1,23). Como o Apóstolo, Santa Rita podia repetir: “Longe de mim, porém, gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6,14). Ela vivia aquilo que, mais tarde, ensinaria Santa Catarina de Sena: “Esteja a árvore da Cruz plantada no vosso coração e na vossa alma. Sede semelhantes a Jesus Crucificado”.
Eis aí a razão pela qual tão gloriosa foi Santa Rita, pois São Vicente de Paulo afirmou, com muita razão, que “nas obras de Deus e das almas, o sinal de que o Todo-Poderoso tem grandes desígnios sobre elas é enviar-lhes penas sobre penas, desolações sobre desolações”.
Identificada com Jesus na sua Paixão muito padeceu Santa Rita, mas ela sabia o que diria mais tarde São Geraldo Majela: “O sofrer nada custa, quando se sofre por amor a Deus”. É que no sofrimento o cristão mostra quanto ele vale aos olhos de Deus e quanto vale Deus a seus olhos.
Santa Rita é tão glorificada no mundo todo porque, já dizia Santo Afonso de Ligório que “as pérolas mais preciosas na coroa dos santos são as cruzes carregadas com paciência durante a vida”. Ela soube, realmente, transformar os sofrimentos que padeceu em pérolas que fulgem no diadema que ostenta em suas estátuas.
Santa Terezinha mostrou que a gota de fel não deve nunca faltar em nenhum cálice, e que as provações são um grande meio de se desprender da terra e fazem elevar o olhar acima deste mundo miserável. Santa Rita, que soube suportar com tanta resignação grandes dores em sua existência, estava tão desligada da terra que ao deixar este exílio entrou gloriosa no céu e, imediatamente, recebeu a glorificação de quantos a conheceram, os quais propagaram sua santidade que a fez tão poderosa junto de Deus.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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