terça-feira, 14 de junho de 2011

JESUS A RESSURREIÇÃO E A VIDA

JESUS A RESSURREIÇÃO E A VIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes de ressuscitar a Lázaro, no diálogo com Marta, Cristo pôde afirmar solenemente: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá” (Jo 11,25). Marta era amiga de Jesus e lhe era profundamente devotada e tinha fé no seu poder divino. Queixou-se por ter Ele chegado tão tarde: “Se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”. Segundo ela, portanto, teria sido necessário que o Filho de Deus estivesse presente localmente e tivesse intercedido antes da morte ocorrida. Quando Jesus lhe fala da ressurreição ela diz que acreditava na ressurreição de Lázaro, mas mais tarde, no “último dia” e pensa logo no fim dos tempos. Jesus, contudo, teria apreciado mais que a fé ardente de Marta nesta verdade fizesse com que ela já visse nele toda a vida e toda a ressurreição, ou seja, que quem nele crê já possui em si o esplendor desta verdade. A fé que necessita ter o cristão deve ser bem mais firme do que a tímida fé que Marta possuía. Com efeito, muitas vezes se acredita que haverá a ressurreição, mas Jesus quer que todo o olhar se ligue nele, se volte para Ele, se centralize nele, e, desde agora, se adore nele a força que possui para nos ressuscitar. Isto significa que é dele que vivemos e que experimentamos sempre a vida nova recebida no batismo, pois nele a ressurreição já está preparada e consumada. Esta foi uma das grandes lições que ele deixou nesta sua ida a Betânia. Como, outrora a Marta, ele indaga a cada um de seu seguidor: “Crês isto”? Ele exige que tal realidade seja vivida no dia a dia, trata-se de crer e viver constantemente em função desta crença arraigada na vida eterna com todas as suas fulgentes consequências. Pela fé se pode experimentar no presente o que será acontecerá no futuro. Cumpre, simplesmente, seguir o conselho de uma grande santa: “Olhar sempre para Jesus que é a ressurreição e a vida”. O que não se pode esquecer é que a preparação para a ressurreição prometida por Ele, a qual é necessário degustar desde já, deve coincidir com um processo espiritual de constante purificação interior. Ressuscitado com Cristo no batismo, o cristão precisa oferecer à vida divina passagens em toda sua existência até poder repetir o que São Paulo disse aos Gálatas: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). Tal foi, de fato, o grande objetivo da vinda do Filho de Deus a este mundo, perfeito como o Pai, mas revestido da natureza humana ele veio a esta terra agir, falar e querer como poderia agir, falar e querer um homem-Deus. A vivência da vida divina era muito mais difícil antes da Encarnação e Ele veio revelar como esta realidade seria possível. Por isto, antes de ressuscitar a Lázaro, tendo em vista outros objetivos como preparar a sua própria ressurreição, Ele patenteou a Marta a necessidade de uma integral certeza de que Ele era a própria ressurreição e a vida. São Paulo decodificou magnificamente esta doutrina do Mestre Divino e asseverou aos romanos: “Àqueles que ele distinguiu na sua presciência, predestinou-os também para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29). São João explicará: “Deus enviou ao mundo o seu Filho unigênito para que por seu meio tivéssemos a vida” (1 Jo 4,9). Portanto, quem está revestido de Nosso Senhor Jesus Cristo já está ressuscitado com Ele. Eis porque Jesus na sua oração ao Pai assim se expressou: “Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste (Jo 17,3)”. A incorporação a Cristo é uma obra árdua até que a vida do cristão se confunda com a dele e que esteja identificado com a pessoa do Redentor. Este cristão já se percebe um ressuscitado pela força de Jesus que cobre seus defeitos com Sua perfeição, sua dúvida com Sua sabedoria, sua morte com Sua vida, suas flutuações emocionais com Sua constância. Bem se diz que o batizado é outro Cristo, mas isto deve significar que sua personalidade esteja imersa na de seu Salvador, sua vontade conformada com a dele, toda a vida animada com seu Espírito, compenetrada de sua ternura, impregnada de seu amor, ou, numa palavra, que o ser mortal esteja revestido da imortalidade de Cristo. Aos Filipenses São Paulo poderá confirmar o que dissera aos Gálatas: “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1,21). Era esta a verdade que Jesus quis passar a Marta, pois é nele que deve estar fixada toda a existência cristã que tem sua razão de ser nele no qual se deve viver desde já, pois Ele é, realmente, a Ressurreição e a Vida e, por isto, não há mais tristeza, ansiedade, medo, aflição, porque do contrário a fé que nele se deve ter não seria perfeita. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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