segunda-feira, 13 de junho de 2011

CINCO PÃES E DOIS PEIXES

CINCO PÃES E DOIS PEIXES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Entre as mensagens que a prodigiosa multiplicação dos pães oferece não se pode deixar de admirar a imensa munificência de Cristo ante a perplexidade dos seus discípulos a lhe dizerem num lugar deserto: “Despede as multidões para que possam ir aos povoados comprar comida”. (Mt 14,13-21). Eles tinham apenas cinco pães e dois peixes, mas ali estava o poderoso Filho de Deus que possuía um coração transbordante de amor e que se compadeceu de quantos tinham vindo a Ele. O Evangelista detalhou que eram mais ou menos cinco mil homens sem contar mulheres e crianças. O pouco que havia não inquietava o Mestre. O que contava a seus olhos era Sua intenção sincera de realizar um ato de generosidade. Ele ensinaria que se deve fazer o bem ainda que as dificuldades sejam enormes e deixaria o seu recado de que nunca o nosso pão é tão pequenino que não o possamos repartir com o próximo em necessidade. O que conta diante de Deus é a reta intenção de ajudar o irmão em todas as circunstâncias. O amor aos outros é indissociável do amor de Deus, pois os dois mandamentos são o vértice e a chave da Lei. Dirá São João: “Quem não ama seu irmão a quem vê não poderia amar Deus a quem não vê”. São Paulo mostrará aos Gálatas que “toda a lei compendia-se nestas simples palavras: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14). Trata-se da obra única e multiforme de toda fé viva. Portanto, no fundo, só há um só amor. Este, porém, se manifesta na doação. Lembrava, com razão, Victor Hugo: “O Espírito enriquece com o que recebe, o coração com o que dá” lembrava Victor Hugo. Entretanto, cumpre observar que o amor do próximo é essencialmente religioso. Não é uma simples filantropia. Com efeito, o modelo é o próprio amor de Deus. Além disto, sua fonte é a obra divina no interior de cada um. Não poderíamos ser misericordiosos com o Pai celeste, se o Senhor não no-lo ensinasse, como mostrou São Paulo aos Tessalonicenses: “Quanto à caridade fraterna, não precisais que eu vos escreva, pois vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros” (Tl 4,9). Foi o que ele frisou também aos Romanos: “O amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5,5). O fundamento de tudo isto é que o próprio Deus nos toma por filhos, como ensinou São João: “O amor vem de Deus e todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus {...] porque Deus é amor (1 Jo 44, 7-8). Amando os nossos irmãos amamos o próprio Senhor como está no relato do Juízo universal: “Na verdade vos digo que tudo que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes (Mt 25,40). É de se notar ainda como base do magno ensinamento de Jesus quando multiplicou os pães o fato de formarmos o Corpo de Cristo e, por isto, o que se passa com o próximo não pode ser indiferente ao verdadeiro cristão. Aí está a razão pela qual Cristo fez do preceito do amor o seu sublime testamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Tão grande dileção não permitiria que Ele despedisse a multidão faminta e, ao mesmo tempo, deixasse de oferecer tão inefável lição. Ele desejava deixar claro que seu amor continuaria a se exprimir através da caridade que os discípulos mostrassem entre si. Amando como Cristo os cristãos viveriam uma realidade divina e eterna. A fraternidade deveria ser uma comunhão total na qual cada um se engajaria com toda sua capacidade de amor e de fé. Trata-se de um amor exigente e concreto. Tocante o desejo que Jesus expressou ao Pai: “Que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,26). A generosidade seria inclusive a carteira de identidade do batizado: “Nisto todos vos reconhecerá como meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros” (Jo 13,35). A quididade, a essência, desta dileção é a doação. Foi o que o Apóstolo compreendeu e pôde proclamar: “Fiz-me tudo para todos para a todos salvar” (1 Cor 9,22). O coração do cristão deve ser como a Hóstia Consagrada, que é outro Pão multiplicado maravilhosamente por Jesus, no qual cada parcela infinitésima em que fosse dividido seria capaz de conter, vivo e perfeito, o tesouro do amor do Coração daquele que se apiedou da multidão lá no deserto. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário