terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SIM,SIM;NÃO, NÃO

SIM, SIM; NÃO, NÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem lê com atenção o trecho do Sermão da Montanha sobre a Lei antiga e a lei nova, exposto por São Mateus no capítulo 50, versículos 17 a 37, percebe que a sentença final sintetiza todas as assertivas anteriores. Diz taxativamente Jesus: “Seja, pois, o vosso falar: “Sim, sim; não, não”. Tudo que Deus falou será cumprido, porque Ele é o Deus fiel. Lemos no Deuteronômio que o Senhor é a rocha de Israel (Dt 32,4). Isto significa que sua fidelidade é imutável e que a verdade de suas palavras, a firmeza de suas promessas são inalteráveis. Através do profeta Isaías Ele afirma: que a palavra que sai de sua boca não retorna senão depois de ter cumprido a sua missão (Is 55,11). Lemos no Livro dos Números que Deus não mente e daí a arguição de Balaão: “Acaso, ele diz e não faz? Ou promete e não cumpre? (Nr 23,19). Jesus, Filho e Verbo de Deus, veio para cumprir fielmente a Escritura e a obra de seu Pai e, por isto, antes de morrer pôde proclamar solenemente: “Tudo está consumado” (Jô 19,30), ou seja, as Escrituras cumpriram-se plenamente. Ele sofrera o que deveria padecer. As figuras do Messias nele se realizaram. Ali no Calvário Ele era o novo Abel morto, não por um irmão apenas, mas por muitos que o levaram a tal suplício. Era Nóe salvando a humanidade com o madeiro da Cruz; Isaac sacrificado pelo Pai; Davi com as cinco chagas derrotando o insidioso Inimigo. Cristo, de fato, pôde dizer com toda a verdade: Missão cumprida! É preciso ao cristão imitar a fidelidade de Cristo ficando firme até a morte. Cumpre, de fato, então imitar a veracidade divina quer no cumprimento das promessas matrimoniais, quer nas relações com os irmãos e as irmãs ou em todos os outros negócios da vida. O Ser Supremo exige fidelidade total em tudo. Não basta estar cristão, é necessário ser cristão em particular e em público, dentro da Igreja e na sociedade. Do contrário, se dá o que Jesus condenou nos fariseus, chamando-o de sepulcros caiados. Cristo está conclamando pela coerência de todo que foi batizado. Quantas vezes, por exemplo, perante o que passa na televisão muitos aprovam as cenas mais escabrosas e se tornam coniventes com o desprezo não só do sexto e do nono mandamentos, mas de todos os outros aprovando no seu íntimo o que afronta a sagrada Lei de Deus. Quando se trata das novelas então é que as maiores barbaridades são ratificadas. Os verdadeiros cristãos são os fiéis de Cristo, ou seja, aqueles que têm fé nele (At 16,45). Já São Paulo clamava na sua Carta aos Coríntios: “Não queirais emparelhar-vos a um jugo heterogêneo com os infiéis. Pois que consórcio pode existir entre a justiça e a iniqüidade? Ou que sociedade entre a luz e as trevas? Ou que acordo entre Cristo e Belial? Ou que coisa de comum entre o fiel e o infiel?” (2 Cor 6,14-15). A lealdade para com Deus deve impregnar todos os pensamentos, todas as palavras, todos os desejos, todos os planos, todos os projetos. Muitas vezes se esquece que a fidelidade religiosa é uma das mais importantes prescrições cuja observância Cristo exige de seus epígonos. Ela aparece nas minudências da vida. São Paulo desceu a detalhes ao dizer aos Gálatas que “as obras da carne são bem conhecidas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, malefícios, inimizades, contendas, ciúmes, iras, disputas, discórdias, faccionismos, invejas, embriaguez, orgias e coisa semelhantes” (Gl 5,19-21). O Apóstolo estava bradando pela lógica de uma existência cristã. Não se pode, verdadeiramente, acender uma vela a Deus e outra ao diabo. Para que o preceito de Cristo “seja o vosso sim, sim; o vosso não, não” o meio é o verdadeiro amor a Deus. Ele conclamou aos Apóstolos: “Permanecei no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, sede constantes no amor, como eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor" (Jo 15,9 ss). Isto significa andar na verdade, pois como insistiu São João na sua segunda carta, “o amor consiste em viver segundo os mandamentos de Deus"(2 Jo 6). É a esta fidelidade que se reserva a recompensa de participar da alegria de Deus. Esta fidelidade, porém, exige uma luta contra o Tentador, o Mundo e suas idiotices, e supõe muita oração para que se seja constante na prática da fé, dando sempre um sim a Deus e um não ao diabo. Segundo São Pedro “depois de um pouco de sofrimento, ele mesmo vos aperfeiçoará e vos tornará firmes, fortes, inabaláveis” (1 Pd 5,10). *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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