terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A BELEZA DA SOLIDARIEDADE

A BELEZA DA SOLIDARIEDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Há uma expressão francesa muito conhecida: “Après moi le déluge” – depois de mim o dilúvio. O Presidente da República deixou o governo e, coincidentemente, houve uma das maiores catástrofes da História do Brasil, a ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro.
Daí o interesse de muitos com relação à referida frase. Segundo alguns foi em 1789 que ela surgiu. Entretanto, ela foi atribuída depois quer a Luís XV, Rei de França, quer a sua favorita Madame de Pompadour. Não se sabe, porém, ao certo quem cunhou tal pensamento. Bem entendido o dilúvio não faz referência uma chuva diluviana ou a uma inundação, mas à catástrofe relatada na Bíblia, ou seja, o Dilúvio do qual apenas Noé saiu vivo com sua família e com os casais de animais que ele colocou na sua famosa arca. A aludida citação dos franceses foi colocada nos lábios de Luís XV que a teria empregado para dizer que ele pouco se importava com o que poderia acontecer quando ele deixasse o trono. Outra versão é a que diz que a Pompadour, quando o artista Quetin de la Tour pintava seu retrato, viu chegar o Rei acabrunhado pelo que acontecera na batalha de Rossbach em 1757, lhe teria dito: “Não é preciso se afligir, pois :ficareis doente; depois de nós o dilúvio”. Outros dizem que a expressão teria vindo à tona quando o célebre astrônomo Maupertuis havia anunciado o retorno do cometa de Halley em 1758, indicando que este astro provocaria um novo dilúvio e talvez, segundo ele, o fim do mundo. Então muitos fatalistas lançaram tal sentença.
Enquanto, todos lamentam, sobretudo, o que ocorreu em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo e adjacências, a solidariedade do povo brasileiro é um ponto luminoso por entre tanta tristeza e sofrimento. Revive-se o que retratam os Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma (At 4,32). O que ocorrera em Angra dos Reis exatamente em 2009 não foi suficiente para alertar as autoridades no sentido de preservar a vida humana. Mais do que ressaltar que toda esta tragédia tenha se dado quando a euforia toma conta da nação destinada a ser uma das maiores economias do mundo, é voltar o foco para as camadas mais sofredoras da sociedade. As Secretarias da Defesa Civil precisam, realmente, atuar de uma maneira mais realística e jamais permitir que injunções políticas coloquem em perigo o ser humano.
A solidariedade social resulta da comunhão de atitudes e de sentimentos, conduzindo a uma unidade sólida, capaz de resistir às forças da demagogia, tornando-se ainda mais firme diante das atitudes dos interesses escusos daqueles que dão presentes de grego, como é a permissão de se contruir moradias em terrenos perigosos.
Que surjam políticos que confirmem as esperanças de uma sociedade mais humana, longe do individualismo. Cumpre impedir que os mais sagazes triunfem e louvar sempre a beleza da fraternidade e seus prodígios a amenizar o sofrimento do próximo.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário