terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Lâmpada Acesa

A LÂMPADA DO AMOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus mostrou que ninguém “traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote” (Mc 4,21). É que a lâmpada do amor a Deus transforma o discípulo de Cristo numa luz que deve se irradiar por toda parte. Quem ama o seu Senhor difunde o bem onde quer que esteja, pois suas ações, suas orações têm uma eficácia que supera a maldade que campeia pelo mundo por força das obras do espírito das trevas. O cristão autêntico tem esta missão de tocar as almas e atraí-las para Deus, penetrando-as do amor divino. A dileção da parte do Ser Supremo não é platônica, fria, convencional, é um amor apaixonado que vai até o que a sabedoria humana chama de loucura. Ele nos amou desde toda a eternidade. Quem dele se aproxima se torna luminoso, um iluminado. É que quem foi batizado deve ser na terra um novo Cristo e a seu exemplo, aclarar as veredas que conduzem à luminosidade celeste. O perigo para o seguidor de Jesus seria se deixar levar pela fadiga, pela lassidão espiritual e, em conseqüência, surge o risco da lâmpada se tornar menos intensa e atraente. É nestas horas que vale a prece do notável Cardeal Newman: “Vós, Senhor, sois a lâmpada viva e ardeis sempre de amor pelos homens; entrai em mim, para que eu Vos seja semelhante, inflamai-me do vosso fogo para que eu possa alumiar aqueles que andam na escuridão”. Para que tal oração produza seu efeito é preciso que o cristão se desprenda de si mesmo e se prenda profundamente a Deus numa união profunda. Não se trata de um amor sensível, traduzido em lances inflamados, mais amor manifestado pelo desejo constante de amar o Ser Amado pelo anseio de Lhe agradar nos milhares de pequenos nadas das menores atividades que são como que o florir da delicadeza da dileção sincera. A prova de que se ama a Deus não consiste, de fato, em emoções passageiras, mas na resignação, na paciência, na generosidade ativa das tarefas do cotidiano, inclusive nas mais insignificantes. A dileção para com o Criador dá um sentido a tudo que se faz. Simplifica, unifica toda a vida espiritual. Este amor conduz a um espírito de oblação interior que permanece subjacente a todas as ações. Então o cristão vê, deseja, procura, cumpre e aceita em tudo a vontade divina. Perceberá que não se trata de uma comunhão com Deus de uma maneira sentimental, suave, sem holocausto. Os presentes dos Reis Magos a Jesus exprimem bem a trilogia que deve fulgir na vida do batizado, ou seja, o ouro do amor, o incenso da prece e a mirra do sacrifício. Para que a lâmpada da vida do verdadeiro cristão não venha a se apagar, mas possa clarificar a todos, o segredo é a adesão firme à vontade de Deus, que é a pedra de toque do autêntico amor. Trata-se da caridade desejosa, ou seja, ansiosa por adaptar-se ao Ser Supremo. Amor ascendente que conduz gradualmente aos cumes da perfeição. Torna-se então um amor combatente, que contraria todo comodismo e gera integral maturidade espiritual. Este amor, que é luz, flui da escuta das inspirações do Espírito Santo. Isto porque, sendo o amor a manifestação mais alta de Deus e o dom mais sublime outorgado ao ser racional, ele só pode ser compreendido e tornar-se operante onde age a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade que é o amor eterno do Pai para com o Filho e deste para com o Pai. Daí a luminosidade de horizontes que se abre a partir de quem vive esta realidade sublime. Há sempre para o cristão a possibilidade de se unir Ser divino para transferir um pouco de sua grandeza infinita à existência do próximo, tornando-se uma lâmpada que envolve os outros no clarão celeste. Este amadurecimento espiritual de todo batizado é indispensável não só para sua vida, mas para a de toda a Igreja. É na medida em que o batizado se faz uma lâmpada incandescente que as verdades reveladas passam a ser acreditadas pelo mundo, pois ele se faz o sinal do reino de Deus. A chama do amor é Deus entre os homens. É o impulso ascensional pelo qual se atualiza Seu reino por toda parte. Eis porque o cristão deve ser uma lâmpada acesa e, ele onde está, é dia claro. Por isto o batizado se esforça por se mostrar transparente como cristal para sempre transmitir a luz. O que muitos se esquecem é que ser lâmpada acesa não é expor grandes idéias, mas mostrar por palavras e obras como é feliz quem encontra em Cristo sua única felicidade. Não se trata de ser um fogo sobre a montanha, mas lâmpada, por pequena que seja, no meio em que se vive. Os batizados que não procuram ser esta lâmpada acesa são causa de desvios e ruínas para muitos. Devemos, então, sempre rezar para que todos os cristãos sejam lâmpadas incandescentes, corações ardentes, almas em fogo e o mundo será melhor, porque inúmeros os que serão impelidos a virem para junto do divino Salvador. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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