terça-feira, 28 de dezembro de 2010

REAÇÃO NECESSÁRIA

REAÇÃO NECESSÁRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De um notável e sábio correspondente do Rio de Janeiro este articulista recebeu este desabafo: “Este é, infelizmente, o nosso dia a dia na política, na sociedade e na família que, desgarrada, vai se distanciando cada vez mais, a perder de vista, dos valores cristãos que deveriam orientá-la. Montesquieu (1689/1755) dizia: “Uma família virtuosa é bem semelhante a um navio, que durante o temporal se firma em duas amarras – a religião e os costumes”...! — Mas, na prática, hoje em dia, a teoria é outra. Na política, Tiririca e quejandos são os protagonistas desta vergonhosa fase em que vivemos, na qual Deus parece ter querido nos submeter a esta dolorosa provação de vivência. Contam-se nos dedos, nos dias de hoje, os “Varões de Plutarco” que enobrecem a nossa cidadania”.
De fato, entre outros fatos lamentáveis, estarrecida ficou a nação diante do aumento astronômico nos salários do presidente, ministros e parlamentares. 279 deputados votaram a favor de tal aumento e 35, merecedores de todos os aplausos, foram contra este absurdo na sessão da Câmara de Deputados do dia 15 de dezembro de 2010. Quem paga a conta é o povo sofrido, o brasileiro que trabalha três meses por ano para pagar impostos!
Já foi publicado na imprensa que o atual Presidente deixa agora o Planalto para entrar na galeria dos maiores mitos da História.
O que se esquece é que uma cosmovisão simplista caracteriza o mito, fazendo aparecer fatos e vultos com um peculiar exagero, promovido isto pela imaginação. Daí resultam conceitos falsos, fantasmagóricos e utópicos. O mito é, de fato, fantasioso dado que se vale das forças da ilusão e, por isto, traz em si elementos contraditórios. Deve-se distinguir entre heróis e mitos na política. Heróis são personalidades dotadas de especial magnetismo, de total coerência filosófica, de profunda cultura e que se tornam admirados por feitos notáveis que deixam marca na trajetória de um povo. São aqueles que glorificam, realmente uma nação. Há uma veneração pelo herói que realiza com êxito o que se reconhece como digno de sincero aplauso e perene gratidão . Trata-se de uma pessoa a quem se tributa especial respeito. Nele se concentram os encômios por seus atos adamantinos. Uma pessoa que se torna mitológica, porém, é uma criação muitas vezes lendária em torno da qual se criam fatos e feitos, o que, em nossos dias, por força da mídia se torna comum. Surgem então os pais dos pobres, os salvadores da pátria, os insubstituíveis que se tornam os novos donos do poder. A função socializadora é explorada com perspicácia pelos experts da comunicação e o povo se deixa levar por aquilo que é divulgado. A verdade é que há no Brasil um grupo elitista e mesmo alguns que saíram do meio do povo, uma vez no poder, esquecidos de sua origem, contraditóriamente, abraçam teses que antes combatiam com veemência.
Cumpre a fuga dos mitos populares que, positivamente não trazem a libertação integral. É preciso cultivar novos moldes mentais para decodificar os discursos de certos políticos endeusados pela propaganda e esquecidos de que elogio em boca própria é vitupério.
Apenas assim a atuação de cada cidadão conhecerá um dinamismo que procede verdadeiramente de um entranhado amor pela autêntica justiça e pelo verdadeiro progresso nacionais. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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