terça-feira, 28 de dezembro de 2010

SER PROFETA É SER LUZ

SER PROFETA É SER LUZ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os profetas no Antigo Testamento não eram apenas aqueles que vaticinaram em nome de Deus acontecimentos messiânicos, mas os denunciadores do desprezo dos mandamentos divinos. Condenaram, deste modo, a falta de pagamento do salário, a fraude, a venalidade dos juízes, a recusa de libertar os escravos no tempo devido, a ausência de humanidade dos que emprestam e dos que “esmagam o rosto dos pobres” (Is 3,25). A Davi Natã denuncia abertamente o seu crime de adultério que o levou a fazer morrer Urias, esposo de Betsabá. Após a morte de Urias, Davi foi confrontado por este profeta que lhe avisou sobre a cólera de Deus. Por seu carisma os profetas atingiam em cada homem aquele ponto secreto onde se rejeitam a luz, a inspiração divina. Ai dos que negam a lei e a distorcem, eis aí um tema constante de suas recriminações. A mentira, a falsidade são veementemente condenadas. Lemos em Ezequiel: “Os pastores turvam a água das ovelhas (Ez 34,18 ss). Os profetas vituperavam ainda, fortemente, os sacerdotes e todos os responsáveis que são detentores das normas e as falseavam. Na plenitude dos tempos veio a esta terra o Profeta por excelência que é Jesus Cristo e este, embora sempre se mostrando bondoso, misericordioso, foi claro nas suas mensagens. Ele retomou a crítica e a severidade para com aqueles que têm a chave, mas não deixam ingressar (Lc 11,52). Denunciou a hipocrisia religiosa: “Hipócritas! Bem profetizou de vós Isaías quando disse: Este povo honra-me com os lábios, enquanto seu coração está bem longe de mim. Em vão me prestam culto, ensinando doutrinas que são preceitos humanos” (Mt 15, 7-9) [...] Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar (Mt 23,13). Muitos cristãos atropelam os Mandamentos da Lei de Deus se esquecendo do que Jesus disse: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram” (Mt 7,13). Aqueles que se dizem seguidores de Cristo, mas aderem ao aborto, à pílula anticoncepcional, aprovam as uniões ilegítimas e outros delitos deveriam se lembrar desta advertência: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O que Jesus sempre exigiu foi a sinceridade total, absoluta: “Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno” (Mt 5,37). Este articulista nos idos dos anos 50 teve a dita de passar uma manhã com Gustavo Corção que o recebeu em sua residência no Rio de Janeiro. Corção dizia que muitos católicos eram vaselinas, ou seja, indivíduos inteiramente maleáveis nas opiniões, melífluos, isto é, que impressionam agradavelmente, nas maneiras e no falar, mas desejosos de agradar e de adaptar-se a todas as situações, dando aval a atitudes as mais escabrosas e ratificando os erros mais lamentáveis. Em outras palavras, pessoas às quais faltam a mais absoluta coerência. O grande escritor e pensador se hoje vivesse haveria de ratificar ainda mais sua opinião e, quem sabe, se queixaria de algumas autoridades eclesiásticas que têm receio de condenar abertamente certos erros e despautérios que se multiplicam no contexto atual. São aqueles que se esquecem de que um dia Jesus expulsou os profanadores do templo os quais maculavam o lugar sagrado com um negócio ilegal, motivo e ocasião para rapacidades e usuras, pois, inclusive, “derrubou as mesas dos trocadores de moedas e os bancos dos vendedores de pombas. (Mt 21,12-13). Quantos católicos amasiados ou pecadores públicos se aproximam da Mesa Eucarística ignorando o que advertiu São Paulo: “Todo aquele que comer o pão e beber o cálice do Senhor indignamente, torna-se culpado para com o corpo e sangue do Senhor. Examine, pois, cada qual a si mesmo e como deste pão e beba este cálice, pois quem come e bebe sem fazer distinção de tal corpo, come e bebe a própria condenação” (I Cor 11, 27-29). Aliás, já preconizava Isaías: “Ai de vós que chamais bem ao mal e mal ao bem; que tendes as trevas por luz e a luz por trevas; que pondes o amargo no doce e o doce no amargo! (Is 5,20). Muitos não se lembram de que por um pecado perdeu Adão o paraíso; por um pecado perderam os anjos o céu; por um pecado perdeu Abraão o exército; por um pecado perdeu Saul o reino; e pensam que podem acender uma vela a Deus e outra ao diabo! Que o verdadeiro cristão, porém, seja sempre um profeta, denunciando com coragem os erros e vivendo não mais absoluta coerência. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.





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