terça-feira, 23 de novembro de 2010

VIVER NA PRSENÇA DE DEUS

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Viver na presença de Deus é o grande meio para se exercitar nas virtudes. Trata-se de uma oração virtual que continua através das mínimas atividades de cada instante, mesmo porque o pensamento se eleva continuamente até o Ser Supremo. Tal foi a ordem dada pelo Criador a Abraão: “Caminha na minha presença e sê perfeito” (Gn 17,1). É o que recomendava Tobias a seu filho: “Todos os dias de tua vida tem sempre a Deus em tua mente” (Tb 4,6). Assim se expressou Davi: "Meus olhos estão sempre fixos no Senhor, porque ele livrará do laço os meus pés" (Sl 24,15). O sábio São Boaventura aconselha: “Convém que com o esforço do intelecto e o fervor do coração te dirijas a teu Senhor, de tal modo que, olvidado de todas as coisas inferiores, tudo o que realizas, onde quer que te encontres, em qualquer negócio que te ocupes, de dia e de noite, em toda hora e em todo momento tenhas sempre presente a Deus na tua memória”. Indo ao fundamento filosófico desta realidade vivencial se depara a explicação: a imensidade e a onipresença do Todo-poderoso que está em todas as coisas. Isto se dá de três maneiras: pela potência, pois tudo está submisso a seu supremo domínio; pela presença, enquanto tudo ele vê e penetra; por essência, enquanto Ele é a plenitude do ser e a causa primeira de tudo que existe, pois é Ele quem comunica a existência, a vida, o movimento. Aos doutos de Atenas pregava São Paulo: “Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça” (Atos 17,28). Com razão o salmista asseverou: “Para onde irei, longe de vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também. Se tomar as asas da aurora, se me fixar nos confins do mar, é ainda vossa mão que lá me levará, e vossa destra que me sustentará. Se eu dissesse: Pelo menos as trevas me ocultarão, e a noite, como se fora luz, me há de envolver. As próprias trevas não são escuras para vós, a noite vos é transparente como o dia e a escuridão, clara como a luz (Sl 138,10-12). O embasamento teológico desta verdade é a habitação da Santíssima Trindade na alma que está em estado de graça. Deus está de uma maneira íntima na alma do justo e reside nela conforme as palavras do Mestre divino: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada" (Jo 14,23). O Todo-poderoso adota o batizado como seus filhos, não por uma ficção legal como nas adoções humanas, senão por meio de uma participação real da divina natureza, com o dom de uma nova vida que faz o cristão semelhante a Ele, seus herdeiros, co-herdeiros com Cristo e consortes da divina natureza. Foi o que São Paulo explicou maravilhosamente: "Conseqüentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus" (Ef 2,19). São Pedro também mostrou esta dignidade excelsa ao afirmar: "Temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos, por este meio, participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo".(2 Pd 1,4).
Esta familiaridade com Deus ocasiona doce confiança, profunda paz e íntimas consolações. Mostra a nobreza sobrenatural do ser pensante, o que magnificamente lembra o Apóstolo: "Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1Cor 3,16) [...] "Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?" (1 Cor 6,19). É preciso viver em função destas verdades! * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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