terça-feira, 23 de novembro de 2010

UMA ANÁLISE FILOSÓFICA DA ARTE DE VALÉRIA VIDIGAL

UMA ANÁLISE FILOSÓFICA DA ARTE DE VALÉRIA VIDIGAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras.
O objetivo deste texto é enfocar a arte de Valéria Vidigal, numa tentativa de abordagem de sua mensagem sob ângulo ainda não visualizado pela crítica. A partir de uma realidade que existe, sob o prisma da filosofia da história, uma interpretação dentro da filosofia da arte. Parte-se das premissas de que a obra de arte é o reflexo da essência do ser e o artista é um ser situado. Uma visão global das telas da referida artista revela que, de fato, quem se dedica às belas artes, está sempre lançado numa situação histórica que imerge numa tensão existencial. Logo aparece então o caráter essencial de sua produção, isto é, o significado marcante de obras que vão sendo criadas. De acordo com a teoria de Taine, a arte, sendo a manifestação máxima da consciência comum, deve se concretizar num tema que condensa uma mensagem, atingindo a alma de toda uma sociedade, como fruto de algo que brota de dentro do artista. No que tange a Valéria Vidigal este tema é o café como expressão de valores específicos. Quando o artista reúne as cores para expressar maravilhas da natureza, mas tem como foco, um alimento do qual realça as virtualidades, ele atinge o sublime. Une de fato de uma maneira muito palpável o Criador e as criaturas racionais a um determinado ser ao qual empresta sua voz para cantar as grandezas divinas e suas benesses. Percebe-se que a arte de Valéria Vidigal é um processo artístico desencadeado num contexto hereditário, pessoal, específico, manifestando todo um estado de espírito. Há uma convergência do amor à profissão paterna e da dileção ao Brasil, desabrochando em produções maravilhosas que enlevam. O que se esquece muitas vezes é que a arte fala aos cinco sentidos e ao mais profundo da alma humana, dado que pela arte o ser humano tem capacidade de pôr em prática suas idéias, seus sentimentos, valendo-se da faculdade de dominar a matéria. Eis por que ao se contemplar as telas de Valéria Vidigal todos os valores do café vêm à tona, inclusive pelas cores empregadas com tonalidades que encantam. Para os olhos a beleza de seus grãos e das paisagens; para o olfato o aroma delicioso; para os ouvidos o murmúrio imaginado dos agricultores a lançarem na terra as sementes; para o tato a recordação das vezes com que com emoção se prepara esta bebida e se toma dele uma xícara, e logo se recorda o paladar inconfundível desta planta universalmente apreciada. Tudo isto toca o íntimo de quem observa tais telas. Com efeito, como Gilberto Freyre ensina “... grande parte do não eu só se deixa esclarecer pelo eu do indagador, pelo seu poder de compreensão, de empatia, digamos mesmo imaginação  imaginação científica e mesmo poética  e não apenas pelas técnicas de experimentação e mensuração”. Importa, então, captar o teor humano transmitido através de qualquer obra de arte, perquirindo-lhe caracteres particulares. É este o papel da filosofia: detectar o âmago do conhecimento das coisas e das mensagens. A filosofia não cria os fatos, mas os depara através da história e então procura compreendê-los, captando aspectos que até conduzem a uma mais exata visão de uma realidade abordada, possibilitando estabelecer uma real ontologia que leva, inclusive, a explicar seu valor específico. Nas telas de Valéria Vidigal, devidamente analisadas, se atina seu significado mais recôndito, penetrando o universo de suas significações, objetivando não uma exegese sumária, mas buscando uma intuição de uma idéia que sintetiza um produto importante de nossa cultura, ultrapassando o simples plano descritivo, ostentando sua riqueza ontológica. Este tema do café brasileiro aparece então exprimindo tendências atuantes. Trata-se de um tema de caráter social, dado que a arte, sendo a expressão máxima da consciência humana, se concretiza num objeto ou num personagem, que condensa o tipo ideal, a alma de toda uma sociedade. Ora, o café é tão importante para o Brasil que o Brasão das Armas nacionais apresenta um ramo desta planta e uma de fumo, representando as riquezas agrícolas da época com a inscrição «República Federativa do Brasil - 15 de novembro de 1889. Por tudo isto a arte de Valéria Vidigal tem um significado filosófico que muito a valoriza.

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