terça-feira, 23 de novembro de 2010

A PRESENÇA EUCARÍSTICA

A PRESENÇA EUCARÍSTICA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A narrativa da multiplicação dos pães (Mt 15,20-37) traz à lembrança uma outra multiplicação ainda mais extraordinária, ou seja, a do Pão Eucarístico. Desde a instituição da Eucaristia no Cenáculo até nossos dias Cristo vem alimentando seus seguidores, que apreendem o que Ele asseverou: “Quem come a minha carne permanece em mim e eu nele”. (Jo 6,56). Jesus é, de fato, o Emanuel o “Deus conosco”. É o mesmo que está sentado à direita do Pai e é o Senhor da glória. Deste modo, o culto eucarístico fora da Missa é também uma antecipação da felicidade perene de uma eternidade da qual a Eucaristia, memorial de sua Paixão e Ressurreição, é penhor seguro. Eis porque a presença de Cristo na Eucaristia é um apelo permanente ao encontro pessoal com Ele. A presença de Jesus Eucarístico é fundada no dom de si e no amor que liga o fiel a seu Senhor. Como se trata de uma presença real, substancial, pessoal ela permite a mais profunda realização de comunicação que se possa imaginar. Aí está o motivo pelo qual não apenas grandes santos, mas inúmeros cristãos de todas as classes sociais se deixam inebriar de imenso deleite espiritual diante dos Sacrários das Igrejas ou no momento da exposição solene nas Horas Santas tão repletas de louvores ao Santíssimo Sacramento. Trata-se, deste modo, de uma presença dinâmica, transformadora, espiritual, mística. O cristão se expõe então à ação irradiante do Redentor, a qual, quando acolhida com dileção, opera maravilhas. Isto se dá todas as vezes que o fiel percebe que está diante do Divino Mestre e se abre ao seu mistério e à sua transcendência numa atitude de fé, adoração, de ação de graças e súplica. A irradiação da bondade do Salvador inebria então a alma, fortificando-a para os embates da existência terrena. Para que o diálogo espiritual com Jesus produza todos os seus efeitos cumpre, porém, uma atitude de agradecimento não apenas pelas graças multiformes dele recebidas, mas também reconhecimento da grandeza infinita do mistério de amor desta presença eucarística. Adorar, louvar, bendizer e dar graças eis, em síntese, qual deve ser a atitude perante a Hóstia Santa. Ela é a lâmpada de nossos passos e cajado em nosso caminho até a Casa do Pai. Diante dela a fé fica fortalecida, a esperança reafirmada, a caridade acalorada. Quando tudo isto ocorre, a alma entende a necessidade de silêncio e contemplação. Com efeito, o mistério eucarístico é interioridade que significa a comunhão de pensamento a pensamento, de coração a coração. Disposição interior que gera o desejo de harmonizar a prece com a vida, a fé com as obras. Dá-se um culto em espírito e verdade, em oposição ao culto vazio e externo que Cristo lamentava da parte de tantos de seus ouvintes. Por tudo isto, estar na presença de Jesus eucarístico conduz a um exame de consciência no sentido de aprimorar a busca da própria perfeição. A alma se sente como que invadida pela graça divina que solicita sempre mais esforço, mesmo porque é o próprio Cristo a garantia deste nobre desejo. É que Jesus, presente no Sacramento da Eucaristia, não está inerte. Quer agir e, quando a alma capta seus recados, se torna tão poderosa a ação de Cristo que ela atingirá infalivelmente o ideal de uma vida cristã, prescrito por Ele próprio: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito” ( Mt 5,48). Cristo eucarístico vem ao coração de quem se coloca na sua presença com sua divindade, méritos, riquezas, para ser luz, via, verdade e santidade. A fim de ser a vida da alma, para na alma viver Ele próprio e nela viver Sua Vida para o Pai. Ele vivifica com sua graça como o tronco de uma árvore vivifica os ramos com a seiva. As almas verdadeiramente eucarísticas passam a repetir com São Paulo:”Vivo, não mais sou eu quem vive, é Jesus Cristo que vive em mim” (Gl 11,20). Ele locupleta o cristão com suas energias para que, em qualquer circunstância, se possa agir como Ele o faria em seu lugar e cumprir, sob sua influência, a missão providencial que a cada um incumbe na síntese do seu plano de amor sobre o mundo. Como, contudo, Jesus não vivifica o cristão senão na medida em que este o aquiesce, se conformando com sua vontade santíssima, o estar diante do Sacrário já é um gesto de anuência à sua ação vivificadora. Maravilhas, realmente, se dão diante do Sacrário, pois ali está, verdadeiramente, o Pão descido do céu! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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