quarta-feira, 23 de junho de 2010

REFLEXÕES SOBRE O SOFRIMENTO DE MARIA

REFLEXÕES SOBRE O SOFRIMENTO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quer durante a Semana Santa, quer por ocasião das festas em honra de Nossa Senhora das Dores, nem sempre, se desce a pormenores de seu grande sofrimento. Tal meditação ajuda ao cristão a levar com mais ânimo as tribulações inerentes a este exílio terreno diante do exemplo de Maria. Assim , na Rua da Amargura ela entrou em contato com uma peculiar angústia, suscitada por sua sensibilidade materna: o medo algesiógeno, o pavor algente. Ao fugir para o Egito ela isto já percebera ao passar por ermos e ínvios caminhos, por perigosos desertos. O pavor das feras lhe despedaçava os nervos de horror. Mil vezes, porém, as feras mais terríveis, pois estas talvez, ante a bondade de seu Jesus, se mudassem como, um dia ante Daniel na cova se aquietaram esfaimados leões. Aquelas feras humanas que com gritos de morte caminhavam pelas ruas de Jerusalém e eram mais insensíveis. Em torno do presépio voejavam anjos do céu e se faziam presentes pastores a entoarem louvores a Jesus. Na Rua da Amargura andavam, voavam tenebrosos anjos do Averno e, em vez de pastores, lobos vorazes! Oprimida de tristeza e medo, ela viu o Filho arquejando entre as convulsões que prenunciavam a morte que dentro em breve lhe adviria. Por maiores que tenham sido as crueldades cometidas com os mártires, elas pouco representam, ante a grandeza do sofrer de Maria tomada de pavor imenso. A medida dos padecimentos da mãe naquele instante doloroso outro não era senão a grandeza do amor que votava a seu Filho. Há, realmente, uma emanação celeste que se difunde naqueles que se amam. O amor que suaviza a existência ante as alegrias dos triunfos do ente amado, arma-se de punhais para dilacerar o coração que ama quando o ser querido sofre e padece. Nada é maior neste mundo, nem mais grandioso, nem mais sublime, nem mais sincero, nem mais necessário, nem mais reconfortante que o amor de mãe. Todas as mães amam desmesuradamente seus filhos. Apregoam-lhes as qualidades e escondem-lhes os defeitos e insuficiências. Quando isto não conseguem, se amarguram, se entristecem. No momento em que um de seus filhos se encontra na penúria, a mãe sofre, a mãe agoniza, a mãe padece, quando não se revolta. O amor que Maria dedicava ao seu divino Filho é um amor intenso, incomensurável. O afeto de todas as mães reunidos é pálida amostra, é frágil vislumbre daquela dileção imensa que a mais perfeita das criaturas nutria por seu Jesus. Como a dor se equaciona com o amor, é fácil aquilatarmos o quanto dilaceraram o coração da Virgem os episódios circunstanciais daquele doloroso quadro que constitui seu encontro com Jesus na Rua da Amargura. O coração das mães, as mães, o compreendem melhor, é um oceano profundo e sem limites de abnegação e amor. Para uma mãe viver é amar e amar é sacrificar-se por seus filhos. Seus sacrifícios são a lenha viva que intensifica o mesmo amor. Sofrer o filho e não padecer a mãe, vê-lo submerso em dores e não sentir partido o seu coração, é impossível, seria aberração imensa que não se coaduna com o amor materno. Sendo, pois, o amor de Maria sem comparação, bem podemos compreender a enormidade deste seu padecimento. Na existência de toda mãe quantas ladainhas dolorosas de apreensões, incertezas, lutas e amarguras! Ó mães, Maria há sofrido tudo isto e no mais alto grau, para ser os vossos modelos. Ela recebeu todas as vossas lides e ali na Rua da Amargura as transformou, sublimando para sempre o sofrimento materno. Quando estalar de dor vossos corações ante algum golpe cruel, como a perda do filho amado, no momento em que a desgraça e a desventura descerem sobre vosso solar, quando a angústia e a tristeza ameaçarem calcinar vosso espírito, quando atroar dentro de vós o fantasma do temor, do pavor e da tortura, volvei, ó mães, vossos olhares para Maria. Lembrai-vos de seus sofrimentos na Rua da Amargura. Não vos entregueis nunca ao desespero e à revolta. Correi pressurosas e lançai-vos no regaço da Virgem Dolorosa que ela vos propiciará alento e resignação. Ela, sabe o quanto sofre o coração materno ante a perda do filho amado, à beira da morte, diante de um túmulo.. Quando nuvens negras vos ameaçarem os dias, sejam os braços da Mãe dorida vosso refúgio e vossa guarida!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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