quarta-feira, 23 de junho de 2010

O ENCONTRO DE EMAUS

O ENCONTRO DE EMAÚS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O fato de discípulos de Cristo terem custado a crer na ressurreição do Mestre foi até providencial, dado que as aparições do Divino Ressuscitado fixaram definitivamente a fé de seus epígonos. Não foi apenas São Tomé quem duvidou, pois, dos apóstolos ficou registrado no Evangelho que se lhes parecia desatino os relatos das mulheres e não acreditaram nelas (Lc 24,11). Madalena disse a Pedro e a João: “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram”, o que mostra que ela também vacilou. O próprio São João diz que “eles não tinham ainda compreendido que, segundo as Escrituras, ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9). Deste modo, as manifestações visíveis de Jesus tiraram seus seguidores da incredulidade para os transformar em testemunhos de que ele ressurgira e estava vivo. Dentro deste contexto é que se situa o encontro dele com Cléofas e seu companheiro que caminhavam para Emaús, distante trinta quilômetros de Jerusalém. Conversavam sobre os últimos acontecimentos ocorridos na Capital não como quem tivesse fé, mais como assustados por tudo que ali acontecera. Cristo se aproxima como um peregrino e toma conhecimento da perturbação daqueles viandantes, cuja fé havia quase de todo desvanecido. Estavam tristes porque lhes faltava uma crença profunda na pessoa do Redentor. A descrença deles foi veementemente repreendida por Cristo: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram” (v 25)! Jesus os doutrina, mas eles só terão os olhos abertos quando Ele benzeu e partiu o pão (v.31). Há um liame profundo entre a Eucaristia e a fé. A fé em Cristo ressuscitado é absolutamente necessária ao cristão. Sem ela não há salvação. Para fortalecer e aumentar a fé, o batizado tem a Eucaristia. Este sacramento imerge o cristão no mistério redentor o qual compreende a paixão e ressurreição do Salvador. Esta fé está em íntima ligação com o amor ao próximo. O que fez os discípulos de Emaús superar sua descrença foi sua fidalguia com o peregrino que se lhes viera ao encontro. Convidaram-no a ficar com eles, pois o dia declinava e lhe ofereceram gentilmente uma Ceia. Tal generosidade não ficou sem recompensa, dado que, quando Jesus desaparece, eles estavam inundados na luz de uma fé inabalável. É, então, que surge mais uma lição que eles nos legaram, pois puderam afirmar um ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrturas?” (v. 32). Eles tiveram a ventura de escutar Jesus com toda atenção e suas palavras penetraram, em ondas de júbilo, em seus corações. Ouvir a palavra de Deus envolve o ser pensante em torrentes de gáudio, desde que se esteja atento em escutá-la. Esta palavra divina vem a cada um através das Escrituras lidas com amor, sobretudo quando acolhida nas celebrações litúrgicas. Dela são instrumentos os pais e, se os filhos, ainda que adultos escutassem seus progenitores como representantes de Deus, o mundo seria muito melhor. Palavra do Ser Supremo vem ainda através dos jornais, revistas e sites católicos, das redes de televisão que com tanto sacrifício a Igreja vem mantendo no ar, mas, infelizmente, quantos preferem as diabólicas novelas, os filmes satânicos, os programas lascivos de outras emissoras! Muito se esquece de outro veículo de que Deus se serve que é a voz da própria consciência. Por vezes amarga como o fel, ou seja, o remorso após uma má ação praticada; outras vezes, deliciosa como o mel, isto é, logo que se realiza algum bem. Além disto, como diz a Bíblia, as inspirações do Espírito Santo que chegam a cada um com gemidos inefáveis, incitando as boas ações, a fuga das ocasiões de pecado, o cumprimento perfeito do dever de cada hora, levando a uma oração mais meditada, refletida, feita com muita unção. Cumpre, porém, conservar a palavra no coração e agir em conseqüência como fizeram os discípulos de Emaús que “imediatamente se levantaram e voltaram para Jerusalém” para anunciarem que Jesus estava vivo. A fim de que a palavra produza efeitos benéficos é preciso vencer a preguiça, a distração, a inconstância, as paixões. Cada ser humano é um viandante neste mundo e, como Cléofas e seu companheiro, vitimado tantas vezes pelas dúvidas e pela tristeza. Feliz, porém, quem se encontra com Jesus, pois a luminosidade da fé e da esperança aclararão todos os seus caminhos. * Professor no Seminário de Mariana - MG

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