quarta-feira, 23 de junho de 2010

MURILO BADARÓ, NOTÁVEL POLÍTICO E LITERATO

MURILO BADARÓ, NOTÁVEL POLÍTICO E LITERATO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Causou profunda consternação no mundo político e literário o falecimento do Dr. Murilo Badaró dia 24 de junho último. Aos 27 anos o jovem Bacharel em Direito já era eleito deputado estadual, iniciando uma carreira política extraordinária. Tornar-se-ia um benemérito da sociedade. Nele reconcentrar-se-iam como num foco e refletiriam como num espelho as qualidades mais admiráveis dos grandes mineiros que serviram com denodo a pátria. É que sua palavra tão robusta como a sua inteligência e sua inteligência tão elevada como o seu caráter sem jaça o fizeram galgar altos cargos nos quais demonstrou a grandeza de uma personalidade marcante, caracterizada por uma probidade inconcussa. Inspirava confiança a quantos o conheciam e, por isto, em 1962 foi reeleito Deputado com um número considerável de votos. O Governador Israel Pinheiro o nomeou Secretário do Governo. Como político, ele fez da política o verdadeiro campo de batalha de suas lides incansáveis, jamais compactuando com as injustiças. Tornou-se uma espécie de mediador plástico, um formidável centro de equilibro entre as cainhezas de certa parcialidade suspeita e as demasias de certa parcialidade impaciente. Era fiel e firme nos seus princípios. Esta fidelidade e firmeza eram próprias do homem que exprimiu nos seus discursos toda veemência de sua alma. Tanto isto é verdade que, por exemplo, encarando o sentimento de milhares de compatriotas, notabilizou-se na protestação contra a cassação do Presidente Juscelino Kubischeck de Oliveira, sendo sua peça oratória cognominada “Protesto de uma geração”. Deputado Federal em três mandatos se mostrou um dos mais atuantes membros do Congresso Nacional, respeitado pela sua autoridade indiscutível e competência sem rival. Muito honrou também o Senado Federal e suas atitudes corajosas não permitiriam que houvesse laivos de um rastejar sutil, o escorregar macio de uma opinião flexuosa e revirada e jamais ele entraria os laboratórios da conveniência. Por isso teve seu nome incluído na lista para cassação de seu direitos políticos enviada ao Presidente Costa e Silva. Este soube decodificar bem os dizeres e a postura do grande político mineiro e não compactuou com uma tremenda injustiça. Tal a lisura de Murilo Badaró que, posteriormente, o Presidente Figueiredo o indicou para ser líder do Governo. Inscreveu seu nome entre os mentores da abertura política iniciada naquele período. Figueiredo o nomeou para presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal. Foi também por este Presidente indicado para Ministro da Indústria e do Comercio, tomando medidas acertadíssimas, como o fortalecimento da Açominas. Exerceu com eficiência a presidência do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais no governo de Itamar Franco. Magno orador parlamentar, honra e glória da política nacional, o aquilatadíssimo cidadão quis ainda demonstrar seu civismo se tornando Prefeito de sua idolatrada cidade de Minas Novas, cargo a que renunciou para dar maior assistência à sua família e outro grande amor de sua vida: a Academia Mineira de Letras, da qual era Presidente, sucessor do inesquecível Vivaldi Moreira. Durante o período em que esteve na Política fôra um grande orador e na estância parlamentar brilhou o literato que se aprimorava sempre lendo os melhores autores da literatura mundial. Foi por isto que nos seus discursos, nos seus artigos, nas suas crônicas, nos seus livros se notam um fundo sólido, fruto de uma vasta cultura; uma forma lúcida, efeito de seus conhecimentos literários; uma intuição estremada, proveniente de sua acuidade intelectual. Na Academia Mineira de Letras um dos seus mais belos discursos foi o proferido na recepção ao Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, D. Walmor Oliveira de Azevedo, pulquérrima peça retórica na qual brilhou a palavra adamantina e vibrante do orador insigne a brindar o numeroso auditório com o sabor de frases cristalinas de um admirável estilista acadêmico. Distinguiu-se, outrossim, como biógrafo talentoso, sendo seu último livro sobre Bilac Pinto, digno dos maiores encômios. A comemoração do centenário da Academia Mineira de Letras foi como que seu Canto de Cisne, tal o esplendor com que revestiu tal acontecimento em Belo Horizonte, em Juiz de Fora, berço deste Cenáculo de Letrado e, igualmente, na Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro. Nos anais dos grandes políticos e literatos brasileiros há de fulgir sempre o nome de Murilo Badaró, exemplo de civismo e de amor à Língua Pátria. * Membro da Academia Mineira de Letras.

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