quarta-feira, 23 de junho de 2010

JUÍZO PARTICULAR E UNIVERSAL

JUÍZO PARTICULAR E UNIVERSAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cumpre refletir sempre sobre o juízo particular na hora da morte e a parusia, isso é, a volta gloriosa de Jesus Cristo, no final dos tempos para estar presente ao Juízo Final. Lemos na Carta aos Hebreus: “Está estabelecido que os homens morram uma só vez e, depois disso, venha o juízo" (Hb 9,27). Cristo advertiu: "Estai preparados porque o Filho do Homem virá na hora que ignorais" (Mt 24, 44). São Paulo assim se expressou: "Todos compareceremos ante o tribunal de Cristo" (Rm 14,10) [...] "Cada um receberá a sua recompensa, conforme o seu trabalho" (1Cor 3, 8) No que tange o juízo universal são claras também as passagens bíblicas. Lemos no Evangelho de São Marcos: “Naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecer-se-á, e a luz não dará a sua claridade, e cairão do céu as estrelas e as potências que estão no firmamento serão abaladas. Então verão o Filho do homem vir sobre as nuvens, com muita potência e glória. E então enviará os seus anjos e chamarão à reunião os seus eleitos, dos quatro ventos do extremo da terra ao extremo do céu” (Mc 13,24-27). Ao explicar a parábola do joio do campo Cristo mostrou como no fim do mundo virão os anjos para separar os iníquos dos justos, indo aqueles para a condenação eterna e os bons para o reino de seu Pai (Mt 13,36-43). Por isto, este juízo universal tem todos os caracteres da apoteose, no sentido grego da palavra, ou seja, a vinda de Cristo na plenitude de sua majestade infinita, diante dos olhos da humanidade atônita, de toda a humanidade, com todos os mortos, que terão recuperado a vida para aquele instante supremo e definitivo. Percebe-se que o juízo particular e o juízo universal exigem-se e completam-se um ao outro. Nem um nem outro é supérfluo, desnecessário. A razão é simples, pois, assim como o homem é por um lado um indivíduo, por outro ele é um ser social, enquadrado nos complexos coletivos da família, da nação e de toda humanidade, de cuja solidariedade histórica é típico motivo o pecado original transmitido ao longo dos tempos. Deste modo, o juízo de cada um deve completar-se com o juízo universal, de todos os seres racionais. É de se notar que cada pecado, por mais individual que seja, interessa a toda a humanidade, assim como o bem que é praticado. Razão teve Elisabeth Leseur ao afirmar que “uma alma que se eleva, eleva o mundo todo” e a recíproca é também verdadeira. O juízo particular e o juízo universal são correlativos, implicam-se, pressupõem-se. Grande será o aumento de glória que sentirá o justo cuja felicidade eterna aparecerá diante de toda humanidade reunida, como enorme será a vergonha do ímpio no dia do julgamento final. Uns ressuscitarão para a glória e outros para a condenação eterna, onde já se encontravam suas almas. No último ato do drama da humanidade total vêm a cumprir-se, outrossim, os últimos atos do drama individual. Todas estas considerações devem levar à aversão ao pecado. Num e noutro juízo só o pecado é que condenará o homem. O pecado somente será a causa de sua ignomínia, de sua ruína, de sua reprovação perene. Cumpre, daí, uma penitência constante até a hora da morte. No Sacramento da Confissão se apagam os pecados, donde a diligência em bem se purificar nesta fonte de redenção. Cumpre também zelo pela conversão dos pecadores, pois,“aquele que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará desaparecer uma multidão de pecados” (Tg 5,20). Além de tudo isto, é preciso confiança absoluta na misericórdia divina dado que “diz o Senhor. Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve! Se forem vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã” (Is 1,18). Diante da realidade do Juízo Particular e Universal é preciso colocar em prática o conselho de São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé” (Gl 6,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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