quarta-feira, 23 de junho de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A morte acompanha a nossa vida como o término segue a essência da coisa finita. A Vida de cada um é crédito limitado que se pode gastar mas com uma liberdade responsável. Ninguém sabe qual é o seu limite. Apenas Deus, o Senhor de tudo conhece o dia e a hora em que cada ser humano deve deixar esta terra. Pessoa alguma pode mensurar o número de anos que vai viver neste mundo. A vida para quem tem fé e juízo é uma ocupação de si mesmo, porque existir para o homem é construir com dignidade a sua vida para glória de Deus e bem dos outros. Disto resulta uma existência inteiramente realizada. Para quem assim age ao morrer dele se poderá dizer: o mundo ficou melhor, ele por aqui passou. Infeliz daquele do qual se disser o contrário. Assim, porém, como tiver sido a vida de cada um, assim ele será para a eternidade. Refletir sobre a morte é pensar necessariamente na vida, porque a morte é apenas uma passagem desta cidade terrena para a urbe celestial. A morte é o termo ou fim de um modo de ser e começo ou início de outro modo se ser. Diz claramente a Bíblia: “Não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hb 13,14).
Ao nascer o ser racional tem diante de si um número imenso, quase infinito, de possibilidades vitais. Cada um, porém, é livre para ser esta ou aquela pessoa, para enveredar rumo ao bem ou ao mal, para aceitar a verdade ou o erro. O ser racional é livre para aceitar a Jesus, o Salvador, como Dimas lá no Calvário, ou recusá-lo como Gestas. A palavra de Deus nas Escrituras esclarece, os sinais feitos por Cristo indicam sua divindade. Entretanto, nem a poderosa palavra divina, nem os milagres feitos por Jesus podem tolher a liberdade humana. Deus quer uma adesão pessoal, consciente de cada um. É por isto que é tão beatificante a entrega a Ele pela fé e aí está o valor da virtude, pois é um ser dotado de inteligência que se volta para o seu Senhor. Aí a fonte de todo o mérito de quem sabe valorizar sua vida. Há, porém, um grande obstáculo ao poder da graça, por assim dizer maior do que a palavra do Todo-Poderoso e do que tudo que está no Evangelho que é o endurecimento do coração. Bem-aventurados, entretanto, aqueles que se deixam iluminar pelas inspirações celestes e se imergem na beleza das mensagens de Jesus, na grandiosidade de seus prodígios, pois este, sim, dá um sentido à sua existência.
É preciso considerar, porém, que à medida em que os anos vão passando a área do possível para cada um vai-se reduzindo cada vez mais. Ao morrer termina a possibilidade de mudar o destino na eternidade. Donde ser importantíssimo aproveitar a vida para se preparar para a morte, porque a vida, por mais longa que seja, está, infalivelmente, sujeita a morte. Nunca se reflete demais que a morte é algo que vai acontecer, e, portanto, está inserida na vida. Ora o conteúdo é sempre menos extenso do que o continente. Logo, o homem é imortal. Morre o corpo material, mas a alma espiritual jamais pode morrer. A imortalidade da alma é uma verdade tão patente e tão evidente como esta: Eu existo. Segundo os médicos de quinze em quinze anos, aproximadamente, todas as moléculas do corpo são substituídas, por outras. A alma, porém, continua a mesma. O metabolismo fisiológico pressupõe a imortalidade da alma. Ainda que o corpo esteja, post mortem, disseminado em milhões de moléculas de hidrogênio, azoto e carbono o espírito permanecerá. O que será de cada um na vida eterna, cujo pórtico é a morte, vai depender de suas ações neste exílio terreno.
Está na Bíblia: “Felizes os mortos que doravante morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os seguem” (Ap 14,13). É que “as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará” (Sab 3,1). A felicidade perene está ao alcance de cada um, pois Deus oferece sempre a sua graça para tal, mas nem todos a acolhem. Cumpre viver unido a Deus neste mundo para estar com Ele para sempre no outro mundo.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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