quarta-feira, 23 de junho de 2010

JESUS E SATÃ

JESUS E SATÃ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando Jesus permitiu que o demônio o tentasse (Mt 4,1-21) logo no início de seu ministério, Ele mostrava o cerne de sua missão: vencer o Inimigo, para oferecer, de novo, aos homens o acesso à verdade e à liberdade dos filhos de Deus. O diabo apresentava a imagem invertida do Pai do Céu, isto é, um Pai por ele imaginado, invocado indevidamente, utilizado para servir os desejos da gula, da invulnerabilidade, do prestígio e da onipotência desregrada. É sempre condenável o emprego do nome de Deus tomado em vão, como lembra o segundo Mandamento. Comparar homens a Deus ou querer fazer deste Deus um mágico é algo verdadeiramente condenável e isto acontece tantas vezes de uma maneira vulgar. Endeusar a criatura é sempre uma tendência mórbida do orgulho humano. Jesus veio para dar a verdadeira idéia do Pai, combatendo todos os obstáculos a uma filiação respeitosa para com o Ser Supremo. Deu um exemplo magnífico: “Meu alimento é fazer a vontade do Pai que está nos céus” (Jo 4,34). Jamais, enquanto homem, Jesus tomaria como pretexto sua filiação divina para uma exaltação pessoal. Era contrário a toda impostura. Chegou a declarar: “Se eu me glorifico a mim mesmo, minha glória não é nada; é meu Pai que me glorifica, Ele do qual dizeis: “Ele é nosso Deus” (Jo 8,54). Toda adoração que não se dirige ao Pai é obra diabólica, pois o homem deve se despojar de si mesmo num elã total e jamais fazer de qualquer criatura um deus. Além disto, na trilha de Cristo, o cristão evita tudo que o afasta da contemplação e do conhecimento da Fonte de todo o Bem, sobretudo apartando-se das solicitações tão mesquinhas como as que o demônio propôs a Jesus no deserto. Luta persistente contra a fascinação do ter, do poder, da vã glória. Em Deus prevalece a doação, a misericórdia e isto mostra que o homem deve combater qualquer egoísmo. Um Deus em três Pessoas em perfeita comunhão sem sombra de confusão, três Relações subsistentes de doação recíproca constituem uma unidade admirável, um oceano infinito de Amor absoluto, o único que pode aquecer o coração humano. Este nunca encontrará a correta dileção longe de seu Senhor. Quando se deixa prender na imanência o ser racional nunca é feliz e a palavra amor se torna vazia, sem sentido. Apenas o Transcendente transmite o fogo de verdadeiro afeto. O fato de tantos se entregarem à busca de práticas esotéricas é exatamente uma prova do vazio que sentem. Presas na sua imanência, muitos se voltam para a divinização de energias cósmicas, para a procura de poderes ocultos. Trata-se de uma auto-suficiência produzida pelo afastamento do Deus pessoal o qual incomoda por exigir a doação de sua criatura a Ele, seu Criador, para a levar ao sacrifício pelo outro. Há uma diferença fundamental entre os naturalismos imperantes e a proposta de Cristo no Evangelho. Este apresenta um Deus que é amor (1 Jo 4,8). O grande desafio que se põe ao homem de hoje é arrancar a máscara com a qual o Maligno reveste o amor, confundido com depravações sexuais e a reboque de prazeres momentâneos, porque dissociado do Deus-Amor. Para se chegar a Ele o caminho é Jesus que deu a prova da verdadeira dileção ao se sacrificar no alto de uma Cruz. O homem de hoje se esqueceu de que o sacrifício é a lenha sagrada que alimenta a afeição. Jesus, “ícone do Deus invisível” (Col 1,15) foi claro ao dizer aos seus discípulos que tomasse cada um sua cruz e o seguisse até o Calvário. No mistério de um Deus sofredor por amor está a base de uma antropologia que mostra as veredas do afeto consistente. Este tira o ser pensante de seus comportamentos regressivos, doentios, para o fazer entrar no reconhecimento maravilhoso da doação total contemplada em Deus. Quem descobre Deus na sua própria história é capaz de amar sem as limitações terrenas que deturpam aquilo que é divino na sua essência e do qual o homem participa. * Professor no Seminário de Mariana - MG

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