quarta-feira, 23 de junho de 2010

JESUS CARREGOU A SUA CRUZ

JESUS CARREGOU A SUA CRUZ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Esquecidos seus títulos de glória, obliteradas suas insígnias de honra, a humilhação e o opróbrio feitos sua desditosa partilha, objeto de maldição e de horror, Jesus tomou a sua cruz. Esta sigila a degradação e o aviltamento humanos, mas se tornou moeda preciosa para o resgate do mundo. Caminhou, então, heroicamente rumo ao Altar Propiciatório no qual, num torvelinho de amargura e dor, redimiria a humanidade. Que espetáculo dantesco! O descendente de tantos Reis e Patriarcas famosos, o homem dos milagres, o benfeitor do povo se dirigiu com uma cruz às costas para o lugar de seu suplício! Que quadro sinistro! O Filho do Eterno, o Unigênito de Deus, o Bem-amado do Pai, “Pontífice inocente, sem manchas, segregado dos pecadores” (Hb 7,26), levando em seus puríssimos ombros um infame e infamante patíbulo! Ao tomar o pesado lenho no qual consumiria seu sacrifício, Cristo já se encontrava inteiramente abatido por força da agonia no Jardim das Oliveiras e dos maus tratos que tivera nos tribunais nos quais fora injustamente julgado. Sofrera os fulminantes e dilacerantes golpes da flagelação que lhe abriram sulcos profundos no corpo todo. Vertera novamente sangue e a sede se fizera sua martirizante companhia. A coroa de espinhos lhe ocasiona dores terríveis. Violentos golpes, desrespeitosos e cruéis, machucara seu sagrado rosto. Retalhado de feridas, reduzido a um frangalho humano, indefesa presa nas mãos de incontrolável turba, Jesus, quando lhe colocaram sobre os ombros a pesada cruz, percebeu que já não podia ser maior a imensidade de seu martírio, torturante, tormentoso. A algesia lhe chegara ao máximo e todo o sofrer que um ser humano poderia suportar era sua inditosa partilha. Suas feições se contrairam. Vibraram as mais delicadas terminações nervosas do sagrado corpo. Ele se tornou a imagem viva do sofrimento. Ao dar os primeiros passos as vagas tempestuosas da tortura cresceram assustadoramente. Seus passos se fizeram vacilantes. Ele caiu por três vezes. Foram as vertigens momentâneas. O oceano da tribulação foi pavoroso e, enquanto caminhou, o tema dos sofrimentos em todas as suas facetas foi sendo abordado, recebendo horrípilas variações. Ao andar ele se curvou, pois, mananciais exuberantes de dolorosas sensações, provocando-lhe crispações doridas nos mais sensíveis nervos, os espinhos, as feridas, lhe foram proporcionando novos sofrimentos. Ante as gigantescas tribulações, se mirrou, se consomiu no padecimento seu transfigurado ser. Cruciante omalgia dele se apossou. Realizou-se o que profetizara Isaías e é isto que deve ecoar fundo em nossos corações que meditam esta passagem da vida do Redentor: “Ele foi trespassado por causa de nossos pecados, esmagado em virtude de nossas iniqüidades” (Is 53,5). Como muito.bem mostrou São Pedro, “sobre o madeiro, levou os nossos pecados em seu próprio corpo” (l Pd 2,24). Ao marchar assim por entre padecimentos incomensuráveis, Jesus, no reboar dos ultrajes, no cintilar das blasfêmias, no estuar da irrisão, no ferver do descaso, percebeu ainda mais ao vivo que era um réu. Nas páginas da História se registrava para sempre que Ele conduzira uma cruz, suplício dos mais celerados criminosos. Humilhação infinita, abatimento sem limites para o Senhor, Soberano do Universo! Exalaram-se as ferocidades latentes no coração humano, confrangendo-o profundamente. Nos passos novas dores, nas dores novas angústias, nas angústias novos abatimentos, nos abatimentos novas agonias que o fizeram andar nos confins da tristeza. No entanto, quantos cristãos não seguem exemplo de Jesus e não querem tomar a cruz de cada dia com sofrimentos muitíssimo menores do que sofreu o amável Salvador! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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