quarta-feira, 23 de junho de 2010

JESUS E A CANANÉIA

JESUS E A CANANÉIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A grande lição que Jesus deixou no episódio da Mulher Cananéia, sírio-fenícia, foi a necessidade de uma fé inabalável para se obter as graças divinas (Mt 15,21-28). Com efeito, muito é de se admirar a humildade daquela mulher, que sendo pagã, faz seu pedido a um judeu, taumaturgo poderoso, a fim de lhe implorar a proteção para sua filha vexada pelo demônio. Esta humildade vem exatamente deste fato e não tanto do que lhe disse Cristo. Com efeito Jesus profere uma frase que, à primeira vista, parece dura, mas era um dito popular: “Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. Tanto isto é verdade que Jesus disse à Cananéia: `Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres´. E desde aquele momento sua filha ficou curada”. Cristo reclamou sempre uma fé ardente, sem reserva, sem limites. Isto se pode verificar também no que Ele disse a outros miraculados como ao leproso, ao cego de Jericó: “Tua fé te salvou” (Lc 17,19; 18,42). Do centurião Jesus pôde afirmar aos apóstolos:”Não encontrei tanta fé em Israel” (Mt 8,10). Trata-se não de uma simples adesão intelectual a verdades abstratas. Nem tão pouco, outrossim, um repouso inerte num conteúdo adquirido; mas atitude de permanente movimento, de vida, como bem entendeu o Apóstolo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Mister se faz encarnar a fé em ações concretas. É, portanto, uma disposição habitual da alma que leva o cristão a situar toda a sua existência, ou seja, todos os seus pensamentos, anelos e atos sob uma crença inabalável no Filho de Deus. Este quer o engajamento de todo o ser na sua Pessoa divina. A fé é, por excelência, a homenagem que se presta ao Filho de Deus. É apregoar o seu poder, sua divindade. São Paulo proclamará: “Eu sei em quem eu acreditei” (2 Tm 1,12). Sem uma fé viva em Cristo a existência do cristão seria um contra-senso, não teria nenhum sentido. Crendo firmemente em Jesus todo o mistério redentor, toda imensa misericórdia divina ganham uma explicação profunda. Apóiam-se no Salvador todos os critérios de valor, dado que Ele é a própria Verdade. Eis por que São João afirmou: “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 Jo 5,4). Indaga em seguida: “Quem vence o mundo, a não ser aquele que crê que Jesus Cristo é Filho de Deus?”. De fato, crer em Jesus permite perceber sua ação contínua na vida cotidiana e tudo se torna possível, pois Ele disse que sem Ele nada pode o seu discípulo realizar e, portanto, com Ele tudo pode seu seguidor. É que a fé no poder de Jesus torna o cristão invencível. A fé em Jesus, além disto, provoca uma tomada de posição e resposta vital proporcional à consciência que cada um adquire acerca da pessoa e da função do próprio Jesus na história da salvação pessoal. Esta é a fé que salva e, por isto, São João Batista asseverou: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3,36). Crer é, deste modo, o movimento de adesão à pessoa de Jesus, que inclui ruptura com tudo que não é de seu agrado, porque o que nele crê penetra fundo nas suas palavras: “Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha” (Mt 12,30). Como dizia Santo Agostinho, “ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Cristo escreva nela o que quiser”. Trata-se de uma opção fundamental por Ele, o que conduz à obtenção da beatitude eterna, dado que Ele disse também: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre em condenação, mas passa da morte para a vida” (Jo 5,24). Por tudo isto cumpre repetir sempre o pedido dos Apóstolos: “Senhor, aumenta-nos a fé” (Lc 17,5). Adite-se que é preciso tudo fazer com arraigado espírito de fé porque está na Carta aos Hebreus que “o justo vive da fé” (Hb 10,38). É preciso que nos lembremos sempre que o teste da nossa fé não é feito somente nos momentos felizes da vida, mas sobretudo nas provações, quando se repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13). É preciso, de fato, uma fé arraigada em Jesus, porque nós e Ele somos como uma pergunta e uma resposta, um problema e uma solução e aquele que encontra em Cristo a resposta a sua pergunta e a solução de seu problema este está salvo. É que Jesus condensa em sua pessoa tal riqueza de significados, que escuta os desejos humanos mais profundos e oferece amplo leque de estímulos, questionamentos e inspirações. Feliz o que nele firmemente crê como a Cananéia”!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário