quarta-feira, 23 de junho de 2010

DEUS DOS VIVOS

DEUS DOS VIVOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A questão insidiosa que os Saduceus certo dia levaram a Jesus não dizia respeito tanto à questão do casamento, mas à ressurreição e à vida eterna. (Mc 12,18-27). Eles não tinham a mínima compreensão destas sublimes verdades. Eles ensinavam claramente que não haveria a ressurreição dos mortos, o que demonstra que eles tinham uma visão limitada do que está nas Escrituras. A promessa da ressurreição é uma promessa da vida. Neste mundo não se pode, porém, facilmente compreender o que significa a ressurreição, dado que o referencial que se tem é o conceito da vida terrestre que é bem pálida em comparação com a plenitude da vida ressuscitada. Como os Saduceus do tempo de Jesus pululam através dos tempos os céticos que julgam uma monotonia a vida além túmulo. Pensam que o céu é algo tedioso como quem teria fastio ao escutar os sons de uma música melodiosa o dia inteiro. Os que só vivem em função dos prazeres mundanos não podem ter uma idéia exata do que vai ocorrer na eternidade e imaginam um turbilhão constante de experiências que satisfaçam os sentidos. Têm da vida futura a alegria ilusória das coisas desta terra. O que os mundanos não compreendem é o que São Paulo disse categoricamente: “Hoje vemos a Deus como num espelho, confusamente; mas então O veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1 Cor 13,20). Ora Deus é um Ser infinitamente bom e belo, no qual se encontra uma beatitude sem limites. Portanto, a criatura jamais verá esgotada sua felicidade ao contemplar a beleza suprema e ao se imergir naquele oceano de bem-aventurança. Será um êxtase eterno. Neste mundo os grandes místicos falam que, por vezes, eles tocam o Infinito e daí o seu desejo inexprimível de deixar esta terra para se unir definitivamente com Deus. Foi o que aconteceu com São Paulo: “Para mim, viver é Cristo, e morrer, um lucro. Entretanto, se o viver na carne mortal deve proporcionar-me fruto de obras apostólicas, não sei mesmo o que hei de escolher [...] desejaria desvincular-me do corpo para estar com Cristo e, por certo, isso seria muitíssimo melhor” (Gl 1, 21- 23). Paul Claudel notável escritor francês assim se expressou: “Vivo à espera do encontro com Deus. E uma alegria inexplicável me invade”. Ele estava na alheta do Apóstolo que ensinou: “A nossa cidade está nos céus, de onde esperamos ardentemente, como salvador, o Senhor Jesus Cristo, que há de transfigurar o nosso corpo de miséria para o conformar com o seu corpo de glória, em virtude do poder que ele tem de submeter a si todo o universo” (Fp 3,20). É um novo universo (Ap 21, 5), constituído, como o nosso, de “novos céus e de nova terra” como está também no Apocalipse (21,1), mas de onde terão desaparecido “morte, pranto, grito, dor” (Ap 21,4), para dar lugar à felicidade e à alegria sem fim. Com efeito, “já não haverá noite, nem se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e (os justos) hão de reinar pelos séculos dos séculos (Ap 22,5). O céu é, realmente, a morada do Ser Supremo e esta morada celeste de Deus evoca Sua transcendência invulnerável e significa também Sua onipresença, então uma presença bem próxima. Uma proximidade maravilhosa de Deus visto face a face. É de se notar que Jesus inúmeras vezes se referiu ao céu. Assim, por exemplo, Ele falou no Reino dos céus, do prêmio lá reservado aos que são perseguidos por Sua causa: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” ( Mt 5,12). Afiançou: “Se, pois, vós, embora sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai está nos céus dará coisas boas aos que lhas pedirem? (Mt 7, 11) É que este Pai celeste com uma presença paternal, invisível solícita envolve seus filhos na terra com ternura inexprimível. Expressivas estas palavras de Jesus: “Ninguém subiu ao céu, exceto aquele que desceu do céu, o Filho do homem que está no céu” (Jo 3,13). Ensinou aos seus seguidores a rezar ao Pai, pedindo que a Sua vontade “seja feita na terra como no céu” (Mt 6,10). Portanto, existe o céu e tal o destino glorioso do seu seguidor fiel, pois no dia da Ascensão ele subiu para junto do Pai e está lá a nossa espera. Todas estas reflexões confirmam que, realmente, o nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos, dado que, não há dúvida, Ele lá no céu oferece a vida eterna feliz para os que lhe foram fiéis nesta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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