SIGNIFICADO DOS 260 ANOS DO SEMINÁRIO DE MARIANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O renomado Seminário de Mariana completa em 2010 uma gloriosa trajetória de 260 anos. Rever a história eclesiástica partindo do homem, dos homens, do povo de Deus, que a Igreja salva, regenera, reestrutura interiormente, é meta que evita distorções. Pois bem, dentro desta perspectiva é que se deve observar a humanitária e evangélica atuação do Seminário de Mariana em dois séculos e sessenta anos, nos quais se nota o fulgor de uma atuação que visou sempre uma formação autêntica de Ministros do Evangelho a serviço da libertação do povo. Em conseqüência, se deparamos um passado fulgente, isto significa que objetivos sublimes foram atingidos com galhardia. Entretanto, se o momento presente é luzidio, é porque rejuvenescida se encontra esta célebre Instituição. Ao se analisar a trajetória desta Casa de Formação, desde sua fundação a 20 de dezembro de 1750 , percebe-se que ela tem exercido no cenário nacional um papel de transcendental importância, sendo uma rica seara de esperanças, um viveiro de vocações que ilustraram a Igreja e a Pátria. Núcleo de ciência e disciplina, mãe fecunda de sabedoria e piedade, nestes 260 anos o Seminário de Mariana tem sido um foco de luz, árvore frondosa engrandecendo a Terra de Santa Cruz. Sob as influências benéficas dos jesuítas, em seguida de sacerdotes diocesanos a partir de 1758, dos lazaristas a partir de 1853 e desde 1967 dos sacerdotes seculares, este Estabelecimento de Ensino tem formado homens ilustres que por sua inteligência transcendente têm sido um brazão a embelezar o Corpo Místico de Jesus Cristo e, por suas virtudes heróicas, sempre foram glória da religião e da sociedade. Este Seminário formou inicialmente um clero que educou e amparou o povo de Minas durante as décadas de penúria e empobrecimento da Capitania. Num instante de pulcra inspiração Carrato, no seu livro "Igreja, Iluminismo e Escolas Mineiras Coloniais", escreveu: “Aquela encanecida plêiade de sacerdotes virtuosos e sábios, vigários e padres missionários e catequistas que o viajante A. de Saint-Hilaire vai topando pelos sertões serão como que os últimos Abencerrages dos nobres ideais do Seminário de D. Frei Manuel da Cruz” , ou seja, indivíduos que se mostravam de extrema dedicação à causa da Igreja, derradeiros paladinos de uma idéia sublime como esta de servir ao próximo como São Paulo, "fazendo-se tudo para todos para salvar a todos" . Do Seminário de Mariana partiram na época colonial eminentes alunos que se formaram na Universidade de Coimbra e em outras Universidades européias. Ao fazer o levantamento das Pessoas Ilustres da Capitania o Dr. Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos destaca a presença do clero nas atividades sociais da época, homens afeiçoados ao saber e detentores de um patrimônio cultural invejável. Já naquela época brilhava como Professor de Filosofia do Seminário de Mariana o Cônego Luís Vieira da Silva, filósofo, historiador, orador, analista profundo, que foi o revolucionário por excelência, aliás o verdadeiro ideólogo da Conjuração Mineira, pois como se lê nos Autos da Devassa da Conjuração “havia oito anos tinha bem deitado as linhas do negócio” . Ele o mais instruído e eloqüente de todos os conjurados e o mais “empenhado no dito levante”. Lutava por um Brasil livre, modelado segundo as teorias do iluminismo que ele tão bem conhecia. O cabedal de cultura dos Mestres do Seminário de Mariana era transmitido com competência aos alunos. Atesta ainda o referido cronista Saint Hilaire: “Se entre os fazendeiros de certa idade, das comarcas de Sabará e Vila Rica, se encontram homens educados e de apreciável cultura, isto se deve em grande parte à instrução que receberam no Seminário de Mariana . Um destes fazendeiros, o Capitão Antônio Gomes de Abreu, morava em Itajuru. Relatou Saint Hilaire: "Estudou no seminário de Marina, compreende bem o latim, o italiano e o francês, e sua conversação é atraente e espirituosa. Escutava-me com interesse quando lhe falava da França e da minha família e comprazia-se, por sua vez, em ensinar-me sua língua e informar-me sobre os costumes do país. Diariamente fazia uma pequena excursão e, aos domingos íamos ouvir a missa paroquial na povoação de São Miguel que está situada a cerca de uma légua de Itajurú”. Ser ex-aluno do Seminário de Mariana, sacerdote ou leigo, se tornara, deste modo, sinônimo de uma pessoa culta, temente a Deus e vencedora na vida. Esta trajetória benemérita prosseguiu nos séculos seguintes e persiste até os nossos dias. Que brilhante galeria de celebridades ofereceu este Seminário à Igreja nestes 260 anos! História aurífera, pois apresenta varões extraordinários que burilaram e burilam nos bronzes do heroísmo as mais puras glórias humanas. Enorme a relação de celebridades que estudaram no Seminário de Mariana. Do Seminário de D. Frei Manoel da Cruz, de fato, têm saído epíscopos eminentes, sacerdotes zelozíssimos e cultos, leigos que nas mais diversas profissões e cargos públicos têm contribuído para o engrandecimento da pátria, ajudando a construir uma sociedade mais humana e justa. * Da Academia Mineira de Letras
sábado, 8 de maio de 2010
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