sábado, 8 de maio de 2010

JESUS, LUZ VERDADEIRA

JESUS A LUZ VERDADEIRA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Lemos no Evangelho de São João a afirmativa do Mestre divino: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12, 45). Ele é, de fato, a luz interior que afasta a escuridão do coração. Esta luminosidade deve ser acolhida com amor. Quem se deixar envolver por esta iluminação celestial pode dizer a Jesus o que está expresso em bela canção: “Senhor, Eu sei que tu me sondas. Sei que também me conheces. Se me assento ou me levanto conheces meus pensamentos. Quer deitado ou quer andando sabes todos os meus passos e, antes que haja em mim palavras, sei que tudo me conheces”. Esta presença de Cristo é tutelar sobretudo para os que sinceramente O amam, pois o mundo mau procura apagar esta luz. Com efeito, Ele asseverou: “Quem me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida!”(Jo 8,12). A sua ação iluminadora é uma decorrência daquilo que Ele é em si mesmo, ou seja, o Verbo de Deus Encarnado, “Luz verdadeira que ilumina todo aquele que vem a este mundo”(Jo 1, 4 ss). Através de Cristo-luz se revela algo da essência divina. Tal a doutrna de São Paulo: “Porque Deus que disse: Das trevas brilhe a luz, é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo” (2 Cor 4,6). Por isto aconselhava este Apóstolo aos Colossenses: “Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos santos na luz” (Cl 1,12). Aos Efésios ele lembrava: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes” (Ef 5,8). É que a luz qualifica o domínio de Deus e de Cristo como sendo o império do bem e da justiça, ao passo que as trevas qualificam o campo de Satanás como sendo o do mal e da impiedade. Esta é a realidade gloriosa do cristão: Cristo luziu sobre ele. O verdadeiro epígono do Mestre divino prova o dom celeste e se torna participante da vida divina. O segredo da vida espiritual é exatamente este de não deixar apagar-se a luz interior, revestindo-se cada um, como recomendou São Paulo, com as armas da luz (Rm 23,12). Isto significa andar na luz por se estar em união com Jesus. Aquele, porém, que vive como verdadeiro filho da luz, faz brilhar entre os homens a luz divina de que é depositário. Eis por que Cristo proclamou: “Vós sois a luz do mundo” (Mt, 5,14). Sublime, de fato, esta missão do batizado no meio das trevas do mundo. Um dos santos que penetraram fundo no significado da luz foi São Bento. Gregório Magno apresenta-o como modelo de um santo sempre envolto em luz celestial para levar uma vida de atenção para com Deus. Através de um esquema equilibrado de vida e oração, São Bento chegou ao ponto em que ele vislumbrou a glória de Deus. Gregório Magno narra a visão que Bento recebeu no final de sua vida, segundo a mesma declaração deste santo: “Na calada da noite, de repente, vi uma inundação de luz brilhando por cima mais brilhante que o sol, e com ele todos os vestígios da escuridão dissipou”. De acordo com a sua própria descrição, o mundo inteiro foi recolhido até diante de seus olhos "no que parecia ser um único raio de luz" (cap. 34). É que São Bento, o monge por excelência, atingiu em vida a visão da luz eterna. Aliás, se tornou uma máxima a expressão que ele empregou num outro sentido, mas que os seus biógrafos estenderam para todas as atividades humanas: Cum luce fiant omnia – que tudo se faça com a luz. Com efeito, embora ele se referisse à luz do dia (Regra cap 41), muitos de seus seguidores viram nesta expressão a luz espiritual que Deus lança sobre as almas através de Jesus Cristo. A frase de São Bento entendida assim numa extensão muito mais ampla. De fato, as almas também têm sua luz e seu alimento. Elas se nutrem da verdade eterna, elas se desalteram na fonte da vida que é o próprio Cristo que se identificou com a verdade. A luz do dia é inferior à luz espiritual que Deus lança nas almas. Em todas as coisas há uma luz que São Bento deseja a seus devotos. As trevas têm, realmente, algo de triste, de repugnante, de terrífico. Ele estava na alheta de São Paulo que proclamou: “Vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não, nós não somos da noite nem das trevas” (Ts 5,5). Grandes filósofos deixaram belos textos sobre a metafísica da luz, como Santo Alberto Magno que dá um fundamento ao ser de modo semelhante ao de Roberto Grosseteste. Para eles Deus é a luz incriada e produz, como o intelecto universal agente a primeira inteligência e tudo que existe. Grandes santos de tal modo se envolveram na luz divina que deixaram rastilhos luminosos. Por vezes estavam impregnados de uma luminosidade indescritível. É que eles souberam viver intensamente o que Jesus disse: “Vim como luz do mundo” e receberam em plenitude esta luminosidade e a souberam irradiar por toda parte. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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