sábado, 8 de maio de 2010

PENTECOSTES

PENTECOSTES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Significativas as palavras de Jesus: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Aquele que crê mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior” ( Jo 7, 37-38). São João explicou: “Jesus falava do Espírito que deviam receber os que tivessem fé nele (v 39). No dia de Pentecostes os Apóstolos receberam a plenitude desta água viva e sairiam depois transmitindo aos que aceitassem o Redentor tão sublime realidade. Paulo de Tarso estaria de tal forma imerso nela que se transformou no Apóstolo das Gentes. Através da Liturgia se renova a recepção do Divino Espírito Santo recebido no Batismo e na Crisma, desde que não se coloquem obstáculos a sua ação santificadora que desaltera as almas e as transforma em irradiadoras da fé em Cristo. Para bem se compreender as palavras de Jesus cumpre remontar ao oráculo do Profeta Isaías: “Vós tirarei com alegria águas das fontes do Salvador; e direis naquele dia: Louvai o Senhor e invocai o seu nome; publicai entre os povos a suas obras” (Is 12,3-4). É necessário se ater também ao que disse o Profeta Ezequiel: “Derramarei sobre vós uma água pura, sereis purificados de todas as vossas imundícies, purificar-vos-ei de todos os vossos ídolos” (Ez 36,25). Trata-se, portanto, claramente do apelo comum à salvação messiânica que deveria ser levada por toda parte. Lemos no Apocalipse que o Cordeiro conduz os eleitos às fontes da vida (Ap 7,17), o rio de vida jorrando sob o trono de Deus e do Cordeiro (Ap 12,1), o que fora predito pelo Salmista falando do rio impetuoso que alegra a cidade de Deus (Sl 45,5). Jesus prometera enviar o Paráclito para unir seus seguidores ao Pai. Assim como do trigo seco não se pode, sem umedecê-lo, fazer um pão, assim não pode haver uma multidão que se torne uma só coisa em Cristo Jesus sem esta água do céu dada pelo Espírito Santo que cumpre seja levada por toda parte por aqueles que a receberam. Com efeito, assim como a terra seca, se não é molhada, não frutifica, do mesmo modo os cristãos não seriam senão um ramo seco, não poderiam dar frutos de vida, sem a água do alto que Deus se compraz em dar, ou seja, o Espírito divino. Depois que Jesus converteu a Samaritana a quem ele falou da água que salta para a vida eterna, “muitos samaritanos creram em Jesus, por causa da palavra daquela mulher que dava este testemunho: Ele disse-me tudo o que tenho feito” (Jo 4,39). Recebido o dom celeste é preciso ser apóstolo levando a graça do Espírito Santo àqueles que não a receberam. Segundo São Cirilo de Jerusalém são rios que jorram de dentro do discípulo de Jesus e lançam a luz às almas através dos que crêem no Filho de Deus. Entretanto, por que se chama água a graça espiritual comunicada pelo Espírito Santo. A resposta é que a água faz subsistir todas as coisas. Do alto desce a água das chuvas com todos os benefícios que traz com a multiplicidade das plantas de todas as espécies, bem símbolo isto das virtudes que os discípulos de Jesus haveriam de possuir, além de todos os dons, frutos e carismas do Espírito Santo para o bem próprio e dos outros. Àqueles que caminham por regiões áridas do mal cumpre trazê-los também para que venham às nascentes da redenção oferecida por Cristo. Isto foi o que profetizou Deus através de Isaías: “Eu derramarei águas sobre a terra sequiosa e rios sobre o solo seco”. É preciso, contudo, que se preparem os corações para receberem em plenitude esta água viva. São os que ignoram o Evangelho e transitam por regiões infrutíferas que carecem de apóstolos para os inebriar nas benesses espirituais. Muitos só pensam nas coisas terrenas como a Samaritana que, à beira de um poço, de plano, julgou que Jesus lhe falava da água natural até que foi instruída por Ele sobre a água espiritual. É preciso, porém, que se lembre que é participando da Eucaristia e levando os outros até este Sacramento que se obtém, na caminhada de cada semana, a água viva, pois Jesus afirmou: “Aquele que comer de minha carne não terá mais fome e aquele que crer em mim não terá mais sede” (Jo 6,35). A Eucaristia é exatamente, outrossim, o mistério da fé no Redentor do qual tantos se afastam. As fontes do Salvador não designam somente a graça santificante comunicada pelo Espírito Santo, mas também os carismas do apostolado. Pentecostes é, portanto, um chamado a cada um para que contemple a riqueza interior que está dentro de si, “rios de água viva” de que fala Jesus no Evangelho, para que repletos do Espírito Santo se possa difundir por toda parte esta felicidade de se estar unido a Deus, fonte de toda beatitude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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