sábado, 8 de maio de 2010

O LIVRO SOBRE BILAC PINTO

O LIVRO SOBRE BILAC PINTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras
Quando se fala do eclipse da biografia histórica no coração do século XX, como bem o notou Jacques Le Goff, é porque poucas são, de fato, as obras dignas de serem exaltadas. Este gênero, no campo historiográfico, é de suma importância e outros historiadores da Escola dos Annales não deixaram que ele ficasse de todo na penumbra, sendo notável, por exemplo, “Guilherme o Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo”, de Georges Duby. O citado Jacques Le Goff consagrou um estudo a São Luis e depois outro a São Francisco de Assis. São biografias que não rompem com o método dos Annales, como também a obra de Lucien Febvre de 1928: “Martinho Lutero, um destino”. Percebe-se o esforço de uma reflexão crítica que recusa a simples apresentação cronológica dos feitos do biografado. No Brasil cumpre que se ressalte a obra de Joaquim Nabuco “Um estadista do Império”, a de Raimundo Magalhães Júnior “Rui, o homem e o mito”. No final do século XX e início do século XXI , sem sombra de dúvida, merecem destaque os livros de Murilo Badaró “José Maria Alkmim – Uma biografia (1998), “Milton Campos – O pensador Liberal (2000), Gustavo Capanema – A revolução na cultura (2000) e agora “Bilac Pinto – O homem que salvou a república” (2009). Esta última obra é objeto das considerações que se seguem. O biógrafo que sabe analisar as realizações dos grandes homens percebe que as personalidades marcantes decidem a marcha e o rumo dos destinos coletivos. As inter-relações entre o indivíduo e a coletividade são múltiplas, complexas, delicadas e só quem possui olhos de lince e a sabedoria do filósofo da História é capaz de apresentar em toda sua pujança um vulto que chancelou uma época e se tornou um benemérito por ter agido no momento oportuno com perspicácia e real patriotismo. É o que se nota nos livros do Presidente da Academia Mineira de Letras. Com rara seriedade ele apresenta Bilac Pinto como o autêntico democrata que se empenhou para que o Brasil não caísse nas garras do comunismo ateu, sendo um dos líderes da Revolução de 1964. Mostra, porém, que nada mais teve ele a ver com os fatos que se seguiram depois, quando o Brasil se tornou vítima da Ditadura Militar. Além disto, expõe a atuação benemérita de Bilac Pinto que, como ministro e ex-deputado, foi o mentor de decisões importantíssimas para o progresso do Brasil, para a moralização da vida política, sempre intrépido defensor da verdade, paladino da luta contra as mentiras daqueles que sob a aparência de democratas não passavam de cruéis algozes de pessoas probas e dignas do porte de um Ulisses Guimarães. Compulsando numerosas fontes primárias e secundárias, por ter pertencido ao PSD e não à UDN à qual era filiado Bilac Pinto, Murilo Badaró pôde com rara felicidade ultrapassar a barreira da subjetividade, atingindo as raias de uma objetividade que falece em tantos historiadores que não primam pela imparcialidade. Nota-se que Murilo Badaró tem plena consciência de que não cabe ao historiador julgar, mas analisar o que se deu dentro de determinado contexto histórico. Contou ele com a valiosa cooperação da pesquisadora Vanuza Moreira Braga que lhe possibilitou acesso a uma vasta documentação da qual resultou outros aspectos importantes da referida obra sobre Bilac Pinto, figura que não poderia cair no olvido, mas agora definitivamente consagrada não apenas por uma sábia hermenêutica de sua vida, mas também glorificado pelo primor daquele que sabe unir História e Literatura, sem romancear os fatos atinentes a seu biografado. Por tudo isto louvores à Editora Gryphus, do Rio de Janeiro, que publicou este excelente livro sobre Bilac Pinto, enriquecendo a historiografia brasileira. Que a coleção desta Editora que focaliza mineiros notáveis continue apresentando ilustres cidadãos deste Estado que se gloria de tantos patriotas que devem mesmo ser enaltecidos para exemplo das novas gerações.

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