sábado, 8 de maio de 2010

O PÃO DA VIDA

O PÃO DA VIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nem sempre se reflete com profundidade nas palavras de Cristo? “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,35). Com efeito, além de todas as considerações válidas no que tange a presença real do Redentor sob as espécies do pão e do vinho o importante é submeter ao plano de salvação toda a vida de cada instante e todos os contextos existências nos quais cumpre dar o testemunho cristão. Em outras palavras, cumpre transferir para o modo de ser e de pensar a lógica do sacrifício do Calvário em cujo contexto foi instituído este sacramento. A narrativa da última ceia é sumamente significativa: “Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu-o aos discípulos” (Mt 26, 25). A doação está inserida naquele gesto. Oblação de todo o ser a Deus, ao próximo, à causa do Evangelho. Seria um erro individualizar, personalizar simplesmente a recepção do pão da vida, não dando a este termo o sentido de irradiação para fora de toda força santificadora, vivificadora da presença do Salvador dentro do coração de seu discípulo. Isto supõe então o sacrifício pessoal no que tange à própria santificação e conversão do próximo. São Paulo entendeu isto luminosamente e afirmou: “Todas as vezes, portanto, que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha”. O cristão verdadeiro nunca deixa de ver a sombra da cruz de Cristo na sua vida, mesmo porque toda ação humana por mais pequenina que seja exige esforço, disposição, abnegação e a Eucaristia existe exatamente para transubstanciar tais ações em atos redentores para si e para os outros. É que a verdadeira vitória do processo redentor vem do fato de que o Filho de Deus reina servindo, ou seja, a recepção do Pão da vida não pode ser um ponto de chegada, de união física com Cristo, mas deve ser sempre um ponto de partida para saciar a fome espiritual de tantos que não têm a ventura de usufruir dos benefícios da obra salvífica. É preciso viver o dinamismo da Comunhão eucarística em toda sua plenitude para que a Eucaristia seja, de fato, o ponto culminante da vida religiosa. Urge, deste modo, que se celebre e viva o memorial da morte e da ressurreição de Cristo se transformando cada um sob todos os aspectos em prova jubilosa, alegre, reconhecida da salvação que jorrou do Coração eucarístico de Jesus. É a vivência do cotidiano como uma aspiração sem cessar da vontade do Pai, penetrando o fiel na doação de Jesus. Eis por que o cristão que comunga deve ser a memória viva do Mestre divino, dado que é inserido em seu projeto de redenção. Comungar significa deixar-se atrair por Jesus e conduzir pelo Seu espírito. No gesto do pão que foi partido e distribuído no banquete do Cenáculo está a visão que se deve ter do mundo no qual se deseja que Cristo aja e impere. De imensa fecundidade, portanto, o ardor que anima os comensais da Mesa do Senhor, tanto mais que Jesus explicou: “Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,58) A Eucaristia comunica uma vitalidade extraordinária por ser exatamente o Pão do céu., que é a meta de todo o batizado.A dinâmica interna deste alimento celestial faz crescer a esperança da grande conquista de um lugar junto de Deus, envolvendo o comungante numa irradiante expectativa do que vai ocorrer além morte. Trata-se da comunhão infindável com o Senhor, comunhão mística de amor com as Pessoas das Trindade Santa. Por isto se diz que a Eucaristia é penhor da vida eterna. Cristo, o Pão da vida, descido do céu, se torna então o centro procurado, desejado, amado, contemplado e testemunhado. Por ser um sustento divino este Pão leva à conformidade com a vontade divina na mais perfeita docilidade, maleabilidade ao Espírito Santo. Este aspecto trinitário da Eucaristia não pode ser olvidado, sob pena de se mutilar a grandeza deste Sacramento. Esta inserção total no mistério eucarístico faz a força da Igreja que conta com milhares de comungantes que vivem em plenitude tudo aquilo que Cristo quis dizer ao se revelar como o Pão da vida descido do céu. Há uma clara direção escatológica na expressão de Jesus, ainda uma vez, direcionando a atenção de seu seguidor para as realidades do Alto. Este Pão é o anúncio luminoso do que vai se realizar por todo sempre lá na Casa do Pai. Por tudo isto cumpre entrar na quididade da mensagem eucarística que é este prenúncio da realização efetiva do Reino eterno de Deus, já iniciado nesta terra pelo influxo vivificante do Pão da vida, vivido em todos os pormenores do dia a dia.. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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