sábado, 8 de maio de 2010

AS OVELHAS E O PASTOR

AS OVELHAS E O PASTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma segurança total, absoluta flui destas maravilhosas palavras de Cristo: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão” (Jo 10 27-28). Garantia da uma existência perene é o que oferece aquele que se distingue pela seu amor para com o seu rebanho. Há uma interligação completa entre o Pastor e sua ovelha a qual decodifica perfeitamente a Sua voz e, em a distinguindo dos falsos pastores, O seguem. Isto resulta de uma relação pessoal de conhecimento mútuo. Nunca agradeceremos demais ao divino Redentor este privilégio extraordinário de nos introduzir no Seu conhecimento, na Sua proteção. O cristão pode proclamar jubiloso: “O Senhor é meu pastor nada me falta” (Sl 22,1). Nem sempre cada um percebe a felicidade da união pastor-ovelha do que deveria resultar uma radical imperturbabilidade, dado que ainda que ele andasse por tenebroso e funéreo vale nada tem que recear (Sl 22, 4). Eis por que São Gregório Magno indagava com toda razão: “Vede, irmãos caríssimos, se sois ovelhas do Senhor, vede se vós o conheceis, vede se vós percebeis a luz da verdade através do amor do Pastor”. É que Jesus ainda asseverou: “Meu Pai, que me deu essas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um” (Jo 10 29-30). Que ventura sublime! Aquele que crê neste Bom Pastor se acha nas mãos do Pai. Mãos poderosas que tudo criaram, pois o céu é obra de suas mãos, como cantou o salmista (Sl 102). Com estas mãos poderosas Deus fez surgir as estrelas, as montanhas, traçou o leito dos rios, plantou o jardim do Éden, fez o homem à sua imagem e semelhança. Quando este Deus Onipotente abre a mão, Ele sacia todo vivente de júbilo, de felicidade como está no salmo 144 (v.16). No Deuteronômio lemos que por estas mãos ele libertou o povo da servidão do Egito (Dt 7,19). Em Isaías se acha uma afirmativa deslumbrante: “Vede, eu gravei teu nome nas palmas de minhas mãos” (Is 49,16). Que ventura então estar nas mãos do Deus que cria e que salva! Cumpre, em conseqüência, estar envolto na presença daquele que tanto ama sua criatura e as guarda com Sua graça, com Sua força vital e potente. No entanto, quantos preferem viver na tribulação, na tristeza, na melancolia, esquecidos da Providência deste Pai amoroso que nunca abandona quem nele confia. Jesus ensina que Ele e o Pai se identificam e se tornam o Pastor que coisa alguma deixa faltar a suas ovelhas. Daí deve resultar uma serenidade total. O maligno poderá bem rodar em derredor de nós, como alertou São Pedro (1 Pd 5,8), mas nada ele poderá contra aquele que Deus ama como sua ovelha predileta a qual não dará entrada ao diabo em seu coração (Ef 4,27). Se por fraqueza humana nos desgarramos das mãos deste Pai amoroso, Ele, como ensina São Paulo, virá “nos arrancar das trevas para nos plantar no Reino de seu Filho bem-amado” ( Col 1,13). Cumpre então ao cristão usufruir da bondade do divino Pastor e se deixar conduzir, instruir, aclarar e formar por Ele. Eis por que São Paulo podia afirmar: “Se Deus é por nós quem estará contra nós”? (Rm 8,39). Por tudo isto, o Evangelho do Bom Pastor comunica alegria, paz, serenidade. É preciso, porém, corresponder aos apelos divinos, saber escutar sempre o Pastor celeste, jamais, se afastando dele. Para ouvir o som de Sua voz é necessária muita coragem para não se deixar seduzir pelas ilusões do Maligno. Cumpre colocar os passos nas suas trilhas, apreciando a luminosidade de Sua presença e a força de Sua ajuda. Lemos na Odisséia de Homero que Ulisses e seus marujos para passarem sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias, ninfas que tinham o poder de atrair com seu canto todos quantos as ouviam, tomaram sérias medidas. O herói grego cobriu com cera os ouvidos dos seus marinheiros e se amarrou a si mesmo no mastro do navio para poderem passar perto da ilha fatídica e não serem enfeitiçados. Na travessia do mar deste mundo há inúmeras ilhas de onde saem os cânticos fatais dos espíritos do mal. Quem não se agarra ao Bom Pastor, fechando os ouvidos ao canto sedutor do mundo, acaba perdendo uma felicidade eterna. Todo cuidado é pouco, mas com Cristo a vitória está garantida, pois o Bom Pastor pôde asseverar: “Coragem, eu venci o mundo” e com Ele suas ovelhas podem entoar o canto épico de um triunfo glorioso. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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