sábado, 8 de maio de 2010

O MANDAMENTO NOVO

O MANDAMENTO NOVO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Mandamento Maior de Jesus deve sempre ser recordado: ‘Dou-vos um mandamento novo que vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34-35)) .Tão profundo e de tal dimensão é este preceito que poderíamos passar a vida toda refletindo sobre ele e nunca o esgotaríamos. Aliás o amor é forte como a morte (Cant 8,6) e suas ondas sem limites se espraiam. Há sempre facetas novas a serem aprofundadas nesta busca contínua da prática integral da dileção mútua que é o sinal, o distintivo do verdadeiro epígono do Filho de Deus. Estamos no Terceiro Milênio e, mais do que nunca, cumpre viver intensamente o amor ao próximo. Belíssima a diretriz de São João: “Quem ama seu irmão permanece na luz” (1 Jo 2,10), Entre tantos desvios que pairam no contexto atual e pesam na consciência evangélica está, sem dúvida o fenômeno da violência. Há um clamor de medo nos lábios da humanidade de hoje. Existe um susto e um clima de tensão poluindo as cidades mais do que o próprio ruído e a fumaça dos carros e fábricas, da gritaria de pessoas mal educadas. Todos sentem uma onda de insegurança e de medo. A morte por atropelamento nas ruas e nas estradas, os assaltos, as agressões físicas e morais, atos de vandalismo podem surgir a qualquer hora e para qualquer um. A violência, proclamam os cientistas sociais, é o fantasma deste início de século. Segundo Arthur J. Todd na sua consagrada obra Social Progress, a sociedade humana está enferma - The Human Society is sick (p.537). A violência, porém, se opõe frontalmente ao afeto mútuo pregado pelo Mestre divino. Ela está por toda a parte e mesmo em nossas cristianíssimas cidades se faz presente. Basta que a cada semana se leiam os vários jornais das mais diferentes urbes para se deparar com crimes chocantes, atentados à vida sob as mais variadas formas. Numa escala muito maior, é o que se passa nas grandes Metrópoles do mundo. Um jornal de grande circulação destacava: “Há hoje uma explosão de violência nunca vista a qual o Estado tem obrigação de conter”. Entretanto, o dever não é só do Estado, pois cada cidadão pode e deve influir para que haja total harmonia social. Trata-se da defesa da vida, o grande dom de Deus, do respeito aos direitos mais elementares do cidadão. Nota-se um embrutecimento das consciências. Muitos são os corações que já não reagem diante do cruel quadro da morte lenta ou violenta. Existe uma certa falta de sensibilidade moral e isto é um sintoma grave, porque é o império do não-amor. Cumpre se repita hoje mais do que nunca o lema e o tema da Campanha da Fraternidade de 1983: Fraternidade, sim; violência, não. Há vinte e sete anos a CNBB já diagnosticava este mal e alertava para suas conseqüências. Nunca é tarde para se lutar por uma sociedade na qual reine a paz, a ordem, a tranqüilidade na prática de um intenso amor aos irmãos. O que, infelizmente, muitas vezes se esquece é que a dileção ao semelhante preconizada por Jesus é um amor eminentemente social. A unidade da natureza humana, a igualdade dos fins existenciais dos homens, a comunidade do seu término em Deus, o interesse deste Deus para com todo ser humano, tudo isto, converte a dedicação ao próximo no dever fundamental do ser racional. É claro, transparente este alicerce ontológico do magno preceito de Cristo. Disto resulta a disposição enérgica feita de radical disponibilidade que cada um de nós deve ter de respeitar os outros, de desejar e realizar o máximo bem possível seja onde for e em todas as oportunidades. A qüididade, o cerne, a essência da fraternidade é a existência de um Pai comum. Eis por que nem a filantropia individualista, nem a moral humanitária neoliberal ou a fraternidade socialista ou a camaradagem comunista podem substituir a função social do amor cristão. Falta-lhes a crença vivificante na paternidade divina e, deste modo, nunca podem contrabalançar as paixões e obter a ordem da justiça. Aliás, Cristo foi claro “Amai-vos como eu vos amei” (JO 33,340 A justiça tem sua raiz mais profunda no amor ao próximo e, em certo sentido, a justiça antecede à própria dileção fraterna, pois a ação caritativa deve preencher lacunas, sendo apenas um adjutório, um auxílio oportuno, e não pode substituir o que a outrem cabe por direito líquido e certo. Não se dê por esmola o que ao outro pertence, mas a generosidade cristã abre os corações e distribui bens, isto sim, lá onde alguém precisa de amparo efetivo por injunções circunstanciais da vida a gerarem mendicidade ou outras dificuldades insuperáveis. Além disto, a eqüidade é filha da caridade, pois toda exploração é aberrante e frontalmente adversa ao amor. Adite-se que a caridade supera, porém, a justiça e a equidade por predispor e mover os corações e o que o Direito tem de impessoal a Caridade envolve numa ternura pessoal. Por isto, só a força integradora e unificadora do amor ao próximo é capaz de dar à sociedade o calor da paz verdadeira e alicerça uma comunidade no sentido essencial e pleno. Deste modo, o amor social atinge o seu apogeu. Dele nos falam Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, mas foi sobretudo o papa Pio XI na Encíclica Quadragésimo Anno que explicou a densidade destes sublimes vocábulos. Para o papa o amor social é a alma da ordem pública. Ele obriga a todos os membros da sociedade, quer indivíduos, quer os grupos, a pensarem e se comportarem de molde a servirem à completa realização do bem comum, firmando o senso comunitário. Aparta então o espírito de classe fechada, a falta de compreensão, o ódio entre facções, o espírito de vingança, as parlendas e resolve todos os conflitos, afogando-os na união mais fraternal.

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