segunda-feira, 12 de abril de 2010

Concentração nas orações

CONCENTRAÇÃO NAS ORAÇÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos são aqueles que indagam como se comportar diante das distrações que podem sobrevir no momento da oração. É lógico que antes de tudo, e sobretudo, o fiel deve se colocar em estado de união com Deus num ambiente propício à elevação da alma até o Ser Supremo, ou ao diálogo com a Virgem Maria e os Santos. De um modo geral, a participação nos atos litúrgicos dentro de um templo é sumamente favorável para que se possa imergir no contato com as realidades celestes e receber as luzes do Divino Espírito Santo. Para a oração em particular vale a sapientíssima diretriz de Jesus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6,6). Perante as distrações uma primeira atitude é transformá-las em oração, isto é, antes de retomar as preces ou a meditação em curso, apresentar humildemente a Deus aquelas preocupações ou mesmo alguma agitação, que é sintoma de insegurança, e tentar se concentrar de novo no louvor divino. O empenho em afastar a desatenção é, de si, muito agradável a Deus e indica o desejo de se fazer uma prece fervorosa. Trata-se da sábia administração da imaginação numa ação calma, paciente e confiante na misericórdia do Pai celestial que conhece bem as fraquezas humanas. Como ensina, porém, Santa Teresa de Ávila, é preciso corajosamente “pensar o que estamos dizendo e a quem o estamos dizendo. Não seria justo falar com uma pessoa pensando em outras coisas ou com o olhar distante, como quem está cansado da presença do amigo”. Seria uma indelicadeza inominável. Dado que, entretanto, o Inimigo pode perturbar quem quer bem orar, uma outra solução seria colocar em prática imediatamente o que está no Profeta Isaías: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (Is 43,18) e o que ensina São Paulo: “Uma coisa, contudo, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente” (Fl3,13). Com efeito, se o orante fica desarvorado com a distração outras se encadearão, ao passo que cortada a divagação como algo que passou, como um fato antigo, como algo superado, e se regressando à prece em tela se dá um passo a mais para fixar a atenção naquela oração. Adite-se que quando, porventura, surge uma preocupação do cotidiano mais aguda, é também de bom alvitre não só a entregar logo a Deus, mas também a anotar para que, depois, oportunamente, se tomem as providências possíveis a serem realizadas longe de qualquer indolência. É deste modo que o fiel vai pontilhando de lances luminosos sua vida, os quais são os momentos em que está venturosamente concentrado na reza mental ou vocal. A oração se torna, deste modo, uma linguagem pura, santa, invisível, a face do coração que está mergulhado no Invisível. Trata-se, de fato, da luz, da força, da própria ação de Deus e se transforma num refúgio para toda a tribulação, um fundamento da serenidade, uma fonte de contínua felicidade, de total imperturbabilidade.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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