segunda-feira, 8 de março de 2010

SIGNIFICADO DO AMO SOCIAL

SIGNIFICADO DO AMOR SOCIAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O que, infelizmente, muitas vezes se esquece é que a dileção ao semelhante preconizada por Jesus é um amor eminentemente social. A unidade da natureza humana, a igualdade dos fins existenciais dos homens, a comunidade do seu término em Deus, o interesse deste Deus para com todo ser humano, tudo isto, converte a dedicação ao próximo no dever fundamental do ser racional.
É claro, transparente este alicerce ontológico do magno preceito de Cristo. Disto resulta a disposição enérgica feita de radical disponibilidade que cada um de nós deve ter de respeitar os outros, de desejar e realizar o máximo bem possível seja onde for e em todas as oportunidades.
A qüididade, o cerne, a essência da fraternidade é a existência de um Pai comum. Eis por que nem a filantropia individualista, nem a moral humanitária neoliberal ou a fraternidade socialista ou a camaradagem comunista podem substituir a função social do amor cristão. Falta-lhes a crença vivificante na paternidade divina e, deste modo, nunca podem contrabalançar as paixões e obter a ordem da justiça.
A justiça tem sua raiz mais profunda no amor ao próximo e, em certo sentido, a justiça antecede à própria dileção fraterna, pois a ação caritativa deve preencher lacunas, sendo apenas um adjutório, um auxílio oportuno, e não pode substituir o que a outrem cabe por direito líquido e certo. Não se dê por esmola o que ao outro pertence, mas a generosidade cristã abre os corações e distribui bens, isto sim, lá onde alguém precisa de amparo efetivo por injunções circunstanciais da vida a gerarem mendicidade ou outras dificuldades insuperáveis.
Além disto, a eqüidade é filha da caridade, pois toda exploração é aberrante e frontalmente adversa ao amor. Adite-se que a caridade supera, porém, a justiça e a equidade por predispor e mover os corações e o que o Direito tem de impessoal a Caridade envolve numa ternura pessoal. Por isto, só a força integradora e unificadora do amor ao próximo é capaz de dar à sociedade o calor da paz verdadeira e alicerça uma comunidade no sentido essencial e pleno. Deste modo, o amor social atinge o seu apogeu. Dele nos falam Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, mas foi sobretudo o papa Pio XI na Encíclica Quadragésimo Anno que explicou a densidade destes sublimes vocábulos. Para o papa o amor social é a alma da ordem pública. Ele obriga a todos os membros da sociedade, quer indivíduos, quer os grupos, a pensarem e se comportarem de molde a servirem à completa realização do bem comum, firmando o senso comunitário. Aparta então o espírito de classe fechada, a falta de compreensão, o ódio entre facções, o espírito de vingança, as parlendas e resolve todos os conflitos, afogando-os na união mais fraternal.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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