segunda-feira, 8 de março de 2010

LIÇÕES DA TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

LIÇÕES DA TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Transfiguração de Jesus se situa alguns dias após a profissão de fé de São Pedro ao proclamar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). O príncipe dos Apóstolos fez um ato de fé na divindade de Cristo por meio de uma revelação interior advinda do Pai. Jesus era, de fato, Deus e homem verdadeiro, o Verbo Encarnado, Segunda Pessoa da Trindade Santa. No Monte Tabor a fé petrina nesta verdade ficará confirmada e robustecida. Pedro, Tiago e João ouviram a voz do Pai que dizia: “Este é o meu filho, o escolhido. Escutai o que diz!” (Lc 9, 35). O domingo da Transfiguração poderia ser dito também o domingo da Contradição, uma vez que borbulha no íntimo do ser humano o desejo da felicidade perene, mas, estando ainda nesta terra, o homem tem que conviver com as tribulações inerentes a um exílio. Pedro queria ficar para sempre lá na companhia de Jesus, Elias e Moisés. Antes, porém, como aconteceria com Cristo, ele deveria passar por provações para poder ir para a Jerusalém celeste, para o gozo eterno. Na nossa vida neste mundo as duas realidades não podem ser dissociadas, pois per crucem ad lucem – pela cruz é que se chega à luz eterna. São Paulo foi claro: “Por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (Atos 14,22). Aos Filipenses ele mostrou que “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso salvador, o senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 20-21). Quantos a exemplo de São Pedro querem já o céu na terra e diante das situações críticas, dramáticas, quando a lógica humana desfalece e Deus experimenta a firmeza daquele que nele crê, desanimam, não perseveram na caminhada rumo à Casa do Pai. Falta para muitos a constância do Apóstolo das Gentes a proclamar: “Quem poderá nos separar do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? [...] Nada nos poderá nos separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm 8,35-38). Cristo transfigurado convida a todos os seus seguidores à contemplação que significa imergir no mistério divino com admiração e concentração. Trata-se de um olhar simples sobre a verdade revelada o que conduz a um grande amor por tudo que se refere a Deus. Por um instante, o ser racional como que toca o Infinito e se inebria na luminosidade celeste. Foi o que aconteceu com Pedro que não mais queria descer do Tabor. Depois compreenderá que ele, Tiago e João deveriam testemunhar a divindade de Jesus. Cristãos que contemplem as maravilhas de Deus e as testemunhem são mais do que necessários no atual contexto histórico, que se mostra tão incapaz de se voltar para as coisas do alto. Tal a tarefa de todos os batizados que são chamados a ser transfigurados, transformados, purificados no meio da sociedade hodierna para poderem atestar que só em Jesus há a salvação. Cumpre colocar em prática o que o Pai determinou, ou seja, escutar a Cristo, Palavra Encarnada que vivifica. Escutá-la é colocá-la em prática, ainda que Ela seja exigente e peça renúncia, amor, perdão. Os apóstolos viram a glória de Jesus e se extasiaram com aquela visão. Transfigurado em Cristo, o cristão deve oferecer ao mundo um pouco do esplendor do Mestre divino através de seus atos, de seu comportamento político, social e religioso. Cristo se apresentou ao lado de Moisés e Elias, por ser Ele o Libertador por excelência e o maior dos Profetas que nunca temeu dizer a verdade e por causa disto seria crucificado, consumando sua obra Redentora. O episódio da Transfiguração apresenta uma síntese da obra de Jesus e aquilo que deve ser a existência de seu autêntico seguidor. A exemplo do Mestre divino é preciso que o cristão se transfigure para arrancar das trevas do erro os que se deixam levar pelas ilusões terrenas. Cumpre ser como Jesus um libertador e um profeta. Há, contudo uma condição que é a adesão integral de todo o nosso ser a Cristo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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