sexta-feira, 12 de março de 2010

OS GRITOS DAS CRIANÇAS

OS GRITOS DAS CRIANÇAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Como bem ensina a Psicologia, os gritos das crianças são sintomas que devem ser analisados com perspicácia pelos verdadeiros educadores.
Mister se faz, em primeiro lugar, salientar que muitos meninos e meninas que soltam seus irritantes clamores o fazem porque seus pais gritam com eles.
Além disto, há muitos instrutores de educação física que confundem gritaria com selvageria e incitam as crianças, ao invés de lhes transmitir serenidade, calma tranqüilidade, imperturbabilidade. Assim sendo, os vizinhos é que se danem, sobretudo, se estão perto de escolas que não primam por dar uma boa formação cívica a seus alunos, não formando cidadãos, mas futuros desordeiros.
Um bom educador não se exalta, fala; não se impõe pela altura de sua voz, mas pela sabedoria de suas atitudes.
Muitos se esquecem que os sinais não verbais falam mais do que as próprias palavras. As crianças precisam dos adultos para serem bem formadas e não resistem à doçura de uma voz serena e, apesar de ser um longo aprendizado, vão se acostumando a serem civilizadas. É preciso que se crie a consciência de que é possível se divertir, sem gritaria. A poluição sonora irrita, deixa os nervos em frangalhos.
Ocorre que muitos lançam brados por questão de audição. Têm problema para escutar e então compensam esta deficiência com a algazarra. Muitas vezes se esquece que perturbar os outros não é uma atitude digna de um ser humano que se prepara para os embates da vida. É necessário, de fato, uma educação integral.
Os gritos sempre surgem de uma sensação de inferioridade, podendo denotar carências interiores que devem ser vencidas por pedagogos eficientes e conscientes de sua missão sublime. É de se notar o seguinte: “O autoritarismo que se exercia há algumas décadas converteu-se numa permissividade tão ineficaz como contraproducente”. O especialista espanhol em Psicologia Educativa, Guillermo Ballenato, que atualmente trabalha no Programa de Aperfeiçoamento Pessoal e Assessorias Técnicas de Estudo do Gabinete Psicopedagógico da Universidade Carlos II de Madrid, refere que há pais ameaçados pelas crianças que gritam.
Ballenato defende também a tese de que o professor “deve ser um modelo, uma referência moral, um exemplo de conduta. A educação eficaz consiste em conseguir o equilíbrio entre a firmeza e a flexibilidade, a razão e as emoções, o controlo e a liberdade”. De grande valia o seu livro Educar sem Gritar. O autor ensina como ministrar uma educação primorosa a crianças e adolescentes, baseada em cinco conceitos básicos: afeto e reconhecimento; diálogo, escuta e compreensão; autoridade, aplicada com competência e equilíbrio; a coerência e o senso comum; o respeito e os valores humanos.
Educar é um o privilégio, mas só educadores conscientes da sua responsabilidade realizam este sublime ideal, apesar de ser uma tarefa complexa e difícil. O citado especialista, mostra que “a docência é uma tarefa muito difícil cujo valor deve reinvidicar-se continuamente como contribuição para melhorar a sociedade. O docente é um agente de mudança social”.
Cumpre, realmente, adquirir estratégias educativas alternativas que sejam mais positivas do que permitir o alarido das crianças.
O grito, além disto, pode ser sinal de mal-estar pessoal e é necessário ao educador arguto perceber isto. Pinçar os efeitos negativos dos maus costumes da comunicação infantil é de vital importância.
O Lar e a Escola, acima de tudo, devem ser um lugar onde as crianças e os jovens são convidados a meditar sobre princípios que os guiem por toda a vida.
A tarefa magna do educador é levar o educando a se conhecer a si mesmo e a tornar-se um participante na edificação de um mundo mais humano no qual os direitos alheios são respeitados.
Tal ideal só será colimado num ambiente de paz, de harmonia, de ordem, de disciplina no qual o grito não faz parte do dia a dia nem do educador e nem do educando.
* Professor durante 40 anos no Seminário de Mariana - Mg

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