segunda-feira, 8 de março de 2010

A FILDELIDADE EXIGIDA POR JESUS

A FIDELIDADE EXIGIDA POR JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando Jesus afirmou que quem praticar e ensinar os mandamentos “será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5, 19), estava a patentear a necessidade de uma fidelidade ilimitada. Cumpre, porém, ter da fidelidade uma noção positiva, ou seja, virtude que aumenta o afeto a Deus e leva esta dileção à sua plenitude. De fato, a fidelidade faz parte intrínseca da verdadeira afeição. Seu dinamismo exige totalidade, isto é, que, por respeito ao Autor dos preceitos, nenhum deles, por menor que possa parecer, é desobedecido. É que o afeto autêntico supõe adesão durável e indefectível, persistente na duração, não obstante as dificuldades que possam surgir, para que não se desfaleça na busca de um amor que é, de si, exigente. É que o amor é a essência da fidelidade e a fidelidade é a amostra categórica e a demonstração suprema do amor. De sua parte, Deus sempre se manifestou como fiel. Lemos no Deuteronômio: “Reconhece, pois, que o Senhor, teu Deus, é verdadeiramente um Deus fiel, que guarda a sua aliança e a sua misericórdia até a milésima geração (Dt 7,9). Davi assim se expressou: “Ó Deus, tu és fiel a quem te é fiel, és sincero com quem é sincero para contigo” (Sl 18,26). Entretanto Moisés alertou: “O Senhor, teu Deus, é fogo devorador, é um Deus ciumento” (Dt 4,24). Ele, realmente, estabeleceu uma aliança com seu povo e o que mais O aborrecia era a infidelidade. Daí o clamor que ecoou no Antigo Testamento sobretudo através dos profetas. Entretanto, quando o povo lhe era infiel e o traia, adorando deuses falsos, ele mantinha seu amor e, até, por incrível que possa parecer a rebeldia humana como que fazia crescer ainda mais este amor. Contudo, a atitude humana é sempre ilógica, pois bem diz o provérbio que amor com amor se paga. Deste modo a fidelidade na sua essência dinâmica e criativa impõe por si mesma uma adesão ao desígnio do amor divino e deve levar a uma obstinada correspondência, não obstante os obstáculos criados pela fraqueza inata a uma natureza limitada. O que se esquece muitas vezes, porém, é que o desejo de amar o Ser Supremo deve ser renovado continuamente, mesmo porque um ato de amor sincero, impregnado de arrependimento, repara logo qualquer infidelidade. Todo cristão, seja qual for o seu grau de santidade, é cotidianamente chamado a esta aventura maravilhosa na qual se percebe a novidade perene e ilimitada da dileção de Deus. É que, através da ação do Espírito Santo, Ele vem a cada alma dando forças e luzes para corresponder aos sempre renovados chamados que assinalam sua benevolência sem limites. Deus quer, realmente, amar e ser amado. Quando o cristão tenta, nem que seja por um instante, tocar o Infinito, percebe o impulso para renunciar tudo que não é de Deus e para dar-lhe completamente todo o seu ser. O Todo-Poderoso vem ao encontro da fragilidade humana e quer agir. Se a alma se torna maleável como a cera nas mãos de um artista, Ele, artista divino, processa maravilhas na existência daquele que não oferece resistência à sua obra de purificação, dando rumos ao roteiro de uma vida espiritual intensa, luminosa, frutuosa. A fidelidade da parte de Deus é como uma linha retilínea, da parte da criatura ela apresenta altos e baixos. Quem, contudo, se restaura num amor contínuo percebe em seu derredor mais luz que trevas, mais paz do que intranqüilidade, mais imperturbabilidade do que agitação. Nota-se então que o amor é sempre novo, é uma renovação constante que fortalece sempre mais a fidelidade que tende para a estabilidade. É o avançar sereno para a eternidade envolvido no Infinito. Eis aí a razão pela qual os santos que cultuamos, apesar de suas debilidades, viviam unicamente em função da vida futura na qual há um algo permanente sem as flutuações do percurso terreno. É que tudo isto exige uma luta sem tréguas contra o Tentador, e, por isto, requer vigilância e oração, como recomendou o próprio Cristo: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41). São Paulo orientou os Filipenses: “Não vos inquieteis com nada! [...] E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus. Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos” (Fp 4,6-9). Então, sim, se vive a plenitude da fidelidade a Deus, respondendo à sua amabilidade sem limites. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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