A PESCA MIRACULOSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Através dos tempos, inúmeras as mensagens que são recolhidas da narrativa da pesca miraculosa na qual Jesus singulariza não apenas o seu poder, mas também mostra como se deve proceder em tantos lances da vida cotidiana (Lc 5, 1-11). No final de um dia afanoso os pescadores haviam desembarcado e lavavam suas redes. Eram homens trabalhadores que, malgrado sua perseverança nada haviam conseguido. Cristo está sempre atento às vicissitudes humanas. Grande era a decepção daqueles homens: trabalharam, mas nada conseguiram! Como Mestre que era, o divino Redentor sobe a uma das barcas, aparentemente indiferente à situação dos proprietários das mesmas e ensinava as multidões, ansiosas por ouvir a palavra de Deus. Após sua prédica a grande surpresa. Ele diz a Simão: “Avança para águas mais profundas e lançai vossas redes para pesca” (v. 5). Uma ordem dada a um profissional habituado àquela tarefa que havia fracassado, apesar de ter se esforçado a noite inteira! Psicólogo profundo, Jesus de plano o havia encorajado, indicando um outro local de águas mais profundas e requer confiança total à sua palavra. Pedro confia e vai obter um resultado faustoso. Aqui vai uma indagação: “Será que sempre o cristão confia inteiramente em Jesus”? Sua palavra é sempre uma promessa de graça e, em todas as circunstâncias, eficaz. Trata-se de uma atitude de fé, dado que Deus é fiel. Aquilo que parece ao homem impossível se torna para Deus um sucesso absoluto, um fato deslumbrante, um final feliz. É, mormente, nos momentos mais difíceis que Cristo quer intervir, mas tudo depende da disposição interior de cada um. Pedro não tergiversou, não criticou a determinação do Mestre. Ao contrário, age imediatamente: “Em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (v. 5). Cumpre ao seguidor de Cristo jamais desesperar, mas guardar sempre uma total certeza de que Ele, no momento certo, intervirá. Ele, porém, não apenas repleta de bens os que nele confiam, mas em contrapartida quer a cooperação de cada um. Pedro seria mais do que um simples pescador de peixes, mas “pescador de homens” para o Reino do Céu. Um dos efeitos do batismo é exatamente a participação no múnus sacerdotal, régio e profético do Redentor. É a missão evangelizadora que é conferida a cada um, apesar de sua fraqueza. Num primeiro instante, maravilhado, Pedro havia dito: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador”! (v. 8) Maior do que a fragilidade humana é o poder divino. A consciência da própria pequenez é um ato de humildade, mas deixar Deus agir em si é um gesto de alcance imponderável. Transformando o cristão em pescador de homens, Deus quer que ele penetre fundo lá dentro do coração dos que se acham nas trevas do erro e do pecado, nas águas profundas onde se dão as tragédias pessoais para que haja uma metamorfose admirável. É preciso, contudo, jamais temer, pois a obra é de Jesus, cada um é mero instrumento em suas mãos poderosas. Cumpre se lembrem as palavras de São Paulo aos Coríntios: “Lembrai-vos disso: quem semeia escassamente, escassamente colherá; quem semeia com largueza também com largueza colherá. Cada um dê conforme estabeleceu em seu coração, não com má vontade ou constrangimento; “Deus ama quem dá com alegria” (2 Cor 9, 6-11). Cada um deve se engajar nas mais diversas pastorais, de acordo com seus talentos pessoais, embora todos possam fazer o apostolado poderosíssimo da oração pela conversão dos pecadores. Abertura generosa do coração, sem cálculos, tudo para glória de Deus e bem das almas. A barca de Pedro significa a Igreja. Ela lembra a barca de Noé. Simboliza, outrossim, o coração que não se deixa levar pelas emoções passageiras, os medos, as paixões. Coração inteiramente espiritualizado e não um coração doentio, frívolo, inconstante nas obras de Deus. A Igreja e os cristãos estão num mundo agitado pela presença do Inimigo, mas sempre vitoriosos com a graça de Cristo: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). É preciso que haja sempre o testemunho cristão por gestos e palavras, cooperando no domínio social face aos sofrimentos, diante da pobreza, perante o desemprego e as injustiça sociais. É necessário espiritualizar um mundo secularizado no qual impera o pecado, a desordem moral, as aberrações éticas, o menoscabo da Lei divina. Trabalho árduo, sem desânimo, pois a pesca será admirável, se houver pescadores que confiam na graça do Senhor e semeiam os valores do seu Evangelho. Peçamos a Deus que aumente em cada batizado a fé, fazendo crescer a audácia das comunidades para serem reveladoras do apelo de Cristo que continua a convidar a todos a avançar para águas profundas e a lançar as redes para que a salvação chegue a todos que se acham no caminho da perdição. Hoje, mas do que nunca, cumpre se diga a cada um o que tantas vezes tem sido falado no final de tantos encontros: “ Ânimo, irmão! Cristo conta com você " !* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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