A APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre os homens. No Natal se deu, realmente, o maravilhoso fato do nascimento do Filho de Deus que entra na aventura humana. O Criador do universo, o Senhor do tempo e da história, se torna um menino, aceitando, por amor, conhecer as alegrias e dores de suas criaturas racionais nesta terra. Quando Maria apresenta Jesus no templo, ela estava cumprindo a obrigação que incumbia a toda família judia de agradecer e de oferecer o primogênito ao Autor da vida. Cristo pertencia, de fato, a uma família, a uma época, a uma religião, pois se fizera um companheiro de jornada do homem. Simeão o proclama luz das nações. É que nascido em um determinado país, membro de um povo concreto, ele viera para cumular de esperança todos os homens, trazendo ao mundo a Boa Nova. Deus concretizava, deste modo, o seu projeto de procurar e salvar os que estavam perdidos, dando oportunidade a todos de encontrar a ventura de um amor sem fronteiras e sem medidas. No templo de Jerusalém ocorre o anúncio solene da missão do Redentor que passará pela rejeição e pela morte. O mistério pascal seria inseparável do mistério da Encarnação. Era o caminho traçado para que os homens fossem libertados da sina do pecado e suas funestas conseqüências. O Salvador pelo seu sangue redimiria a humanidade apagando a horrípila injúria feita a Deus, a qual estava, até então, impressa no frontispício de todas as gerações. Ele traçaria para o homem um caminho de luz e de esperanças. Ele apagaria qualquer laivo de absurdidade que alguém pudesse entrever na existência humana, patenteando que o amor divino não é um sonho impossível, pois Ele venceria a morte por amor. Um futuro fulgente estaria garantido a quantos aceitassem sua obra salvífica, triunfando sobre todos os obstáculos. Por tudo isto a festa da Apresentação de Jesus no templo chama cada cristão a uma tríplice atitude. Em primeiro lugar, um instante de contemplação das maravilhas da bondade de Deus. Cumpre apreciar e degustar nos seu justo valor o dom que o Ser Supremo fez à humanidade na pessoa de seu Filho bem-amado. Que surpresa foi maior do que esta: “Com amor eterno eu te amei" é declaração que o Criador faz algumas vezes nas Escrituras: (Dt 4,37; 10,15; Jr 31,3; Sf 3,17; Ml 1,2 ...). Imerso numa sociedade de consumo, num contexto materialista, num ambiente dominado pelo hedonismo o homem hodierno se esquece do Infinito e o que diz também a Bíblia sobre uma felicidade completa junto de Deus: “Vós me ensinastes o caminho da vida, há abundância de alegria junto de vós, e delícias eternas à vossa direita.” (Sl 15/16). Simeão ficou extasiado diante do Verbo Encarnado e de sua misericórdia sem fim e pôde dizer: “Agora. Senhor, conforme a tua promessa podes deixar teu servo partir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação” (v. 29-30). Em segundo lugar, é preciso uma atitude de oferenda. Tudo que se possui é dom do Senhor do universo. Daí a necessidade da ação de graças e do louvor. Simeão tomou o Menino nos braços e bendisse a Deus. Ana chegou e se pôs também a louvar a Deus. Que exemplos magníficos. A melhor maneira de glorificar o Senhor é colocando tudo que se faz ao serviço do amor e da vida. Finalmente, a solenidade da Apresentação do Menino Jesus no templo pede uma mentalidade repleta de esperança. Jesus, proclama Simeão, é a luz para iluminar as nações. O cristão é um iluminado. Sua existência terrena tem um sentido, uma significação, uma direção, pois Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Não obstante todas as incertezas e todas as provações inerentes a um exílio terrestre quem está unido ao seu Redentor não conhece trevas, nem desilusões, nem se entrega à depressão. Está mergulhado no otimismo. Sabe que vem do Amor trinitário, marcha para um final feliz no reino do Pai e está nesta terra para amar a seu Deus e ao próximo. Está certo de que este amor cantará sempre a vitória. Poder-se-ia dizer que a solenidade da Apresentação do Senhor é uma festa da esperança tal como São Paulo a apregoou: "O Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm 15, 13).. Para que tudo isto aconteça que se realize o que é solicitado na oração da Missa deste dia, ou seja, que nos apresentemos diante de Deus com os corações purificados. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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