quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O ÓRGÃO DA CATEDRAL-BASÍLICA DE MARIANA

O ÓRGÃO DA CATEDRAL-BASÍLICA DE MARIANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A este articulista da CATOLICANET foi enviado a seguinte solicitação: “ Recebemos a Veja desta semana (edição 2150- ano43- nº5) e nela consta uma reportagem sobre órgãos barrocos em igrejas brasileiras. A reportagem chama a atenção para um órgão assinado por Arp Schingter e há no máximo 30 deste no mundo e somente 1 no Brasil. Este órgão localizado em Mariana foi doado em 1753, pela imagem mostrada na revista trata-se de um instrumento lindíssimo e cheio de detalhes, característica marcante da época barroca. Gostaríamos que o senhor, caso tenha disponibilidade, retratasse em um artigo, um pouco sobre este órgão”. É o que com muito prazer fazemos no texto a seguir. A restauração do Órgão da Catedral de Mariana foi, sem dúvida, um dos maiores benefícios prestados por D. Oscar de Oliveira à Sede arquidiocesana e ao progresso artístico de todo o país. Trabalhos especializados foram inicialmente feitos no sentido de se levantar o real estado da preciosa peça. Estes se deram a 18 de julho de 1974. Estava, de um modo geral, em situação péssima aquele instrumento . Coube ao melhor organeiro do Brasil, José Rigatto, fazer os estudos preliminares, por comissão do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais (IEPHA), do qual D. Oscar era o Vice-Presidente. Segundo Rigatto, “o Órgão da Sé de Mariana saiu, praticamente, da oficina do maior organeiro de todos os tempos, que aliás era o preferido de Sebastião Bach, que foi Harp Schnitger” . De valor inestimável, fôra oferecido pelo Rei Dom João V e fôra assentado por Manuel Francisco Lisboa em fins de março de 1751. Idêntico aos órgãos alemães, segundo Rigatto, é o único da América Latina na oitava curta. O jornal Estado de Minas, dia 9 de março de 1978, publicou uma nota dizendo que o engenheiro Francisco Afonso Noronha, presidente da CEMIG recebera confirmação telefônica da Alemanha de que poderosas indústrias daquele país iriam doar 230 mil marcos. A quantia seria apenas para a restauração do instrumento, devendo sua caixa em madeira entalhada e policromada ser recuperada por técnicos brasileiros com recursos obtidos no Brasil . Dia 30 de agosto de 1978 o Dr. Francisco Afonso Noronha, que era também Presidente da Fundação Palácio das Artes do Governo do Estado de Minas Gerais, em histórico documento detalhou a D. Oscar tudo que já estava planejado para a completa restauração do Órgão. A firma Von Beckerath, de Hamburgo, na Alemanha, executaria lá os serviços de restauração do valioso instrumento. O IPHAN em Convênio com a Arquidiocese de Mariana e a Fundação Palácio das Artes regularia a recuperação da caixa e reforma geral da Catedral. Assegurava o Dr. Noronha que com os diversos patrocinadores estavam acertados os pagamentos das despesas em moeda estrangeira relativas aos serviços da firma Rudolf Von Beckerath e das despesas de transporte das peças para a Alemanha e de passagens aéreas dos técnicos que viriam ao Brasil para a desmontagem e remontagem e afinamento. Rogava a autorização para a execução dos serviços. No dia seguinte recebia tal autorização (991,1). O ARQUIDIOCESANO, órgão oficial da Arquidocese de Mariana, do qual fomos Diretor durante 36 anos, dia 6 de janeiro de 1980, publicava notícia de que este Órgão de Mariana iria dar tese de doutorado em Roma, defendida pelo Pe. Marcelo Martiniano Ferreira, salesiano, filho de Ponte Nova, no Pontifício Instituto de Música Sacra (1060,1). Ele se mandou para Hamburgo, na Alemanha, para pesquisar dados técnicos e de lá enviou preciosas informações a D. Oscar. Dia 8 de dezembro de 1984 ocorreu a reinaugauração do precioso instrumento. Pronunciou D. Oscar um memorável discurso do qual destacamos este trecho: “Nesta hora de Aleluias, a triunfal reinauguração do valiosíssimo ÓRGÃO, obra do Organeiro, genial artista da Alemanha: Arp Shnirtger! Nesta hora, Irmãos caríssimos, cantemos com aquele entusiástico canto do salmista: “Louvai a Deus com a cítara e a harpa ... Louvai-o com o toque da trombeta; Louvai-o com cordas e órgão”. Agradeceu também a todos que cooperaram com a restauração da Catedral, fato que era também motivo daquela festividade. Especial hino gratulatório dirigiu ao Dr. Francisco Afonso Noronha com uma apreciada poesia da qual seguem os dois versos finais: O ÓRGÃO FAMOSO, emudecido há tanto, / Renasce sonoroso, para a História, Graças a Ti que agiste por encanto.// Deixa que, em Tuas Mãos, ora, eu deponha / Rosas douradas de louvor e glória, Rubras de gratidão, Doutor Noronha! Às 20 horas houve Concerto na Catedral e uma série de recitais haveriam de se seguir e a Mariana viriam os mais renomados organistas do mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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