quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

NOVOS TEMPOS, NOVOS PROBLEMAS

NOVOS TEMPOS, NOVOS PROBLEMAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os Papas através de encíclicas cujos princípios se incorporaram à doutrina social da Igreja nunca deixaram de insistir nesta tecla: “O supérfluo dos ricos pertence aos pobres”. Atendendo as necessidades específicas de cada contexto no fundo era esta a tese sempre defendida com ardor. Leão XIII na encíclica Rerum Novarum assim se expressou: “Lembrem-se os ricos e os patrões do seus deveres; tratem os operários cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas”. Pio XI na Quadragesimo anno foi bem explicito: “Nem ficam de todo ao arbítrio do homem os seus rendimentos livres, isto é, aqueles de que não precisa para sustentar a vida convenientemente e com decoro. Ao contrário as Sagradas Escrituras e os Santos Padres da Igrejas intimam continuamente e com a maior clareza aos ricos o gravíssimo dever da esmola e de praticar a beneficência e a munificência” Pio XII na Sertum laetitiae confirmou “a exigência incontestável de que os bens criados por Deus para todos os homens, afluam eqüitativamente a todos, segundo os princípios da justiça e da caridade”. João XXIII na Mater et Magistra denunciou: “ Nalguns Países, a abundância e o luxo desenfreado duns poucos privilegiados contrasta, de maneira estridente e ofensiva, com as condições de mal-estar extremo da maioria; noutras Nações obriga-se a atual geração a viver privações desumanas para o poder econômico nacional crescer segundo um ritmo de aceleração que ultrapassa os limites marcados pela justiça pela humanidade. Deu norma preciosa: “ A riqueza dum povo não depende só da abundância global de bens, mas também, e mais ainda, da real e eficaz distribuição deles segundo a justiça, para tornar possível a melhoria do estado pessoal dos membros da sociedade: é este o fim verdadeiro da economia nacional” Paulo VI e João Paulo II ampliaram os temas sociais, visando desfazer a distância entre as classes, exigindo a co-participação dos poderosos para uma efetiva mudança de mentalidade e maior distribuição da renda em todos os sentidos. Constantes os apelos a favor dos mais necessitados e sofredores. O papa Paulo VI que encantou o mundo com a encíclica Populorum progressio, em 1977 deixou esta frase lapidar numa de suas mensagens: “ É Cristo que inspira, guia, sustenta, transfigura e santifica o programa, na sua parte mais empenhativa e expressiva, da sua Igreja; porque tal é o seu programa, tal o seu gênio: amar e servir Cristo-Deus no Homem que sofre”. Veementes as declarações de João Paulo II contra a miséria, a fome, a favor dos que são marginalizados ou estão a padecer, posicionamento firme elogiado até por aqueles que não se simpatizam com a Igreja Católica. Num de seus pronunciamentos João Paulo II chamou a atenção para os excluídos da sociedade nestes termos: “Os meios de comunicação, todos os dias, atraem os nossos olhares e impressionam os nossos corações, fazendo chegar até nós os apelos angustiados e urgentes de milhões de irmãos nossos menos favorecidos e atingidos por algum cataclisma, natural ou provocado pelo homem, e isto nos põe diante de irmãos famintos, feridos no próprio corpo ou na alma, enfermos, espoliados, prófugos, isolados e desprovidos de qualquer auxílio. Todos eles estendem as mãos para nós que queremos viver o Evangelho e o maior e único mandamento, “o mandamento do Amor”. Bento XVI na sua encíclica Deus caritas est doutrinou: “O amor — caritas — será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda na linha de um amor concreto ao próximo” . Tudo isto fomentado pelo exemplo de Jesus Cristo e incrementado pelas suas palavras: “Amai-vos uns aos outros”. Que hoje tais ensinamentos penetrem vivos em cada coração. Na prática aí estão as associações caritativas, felizmente tão numerosas por toda parte.. Os empregadores podem e devem pagar o salário justo e aí está uma verdadeira promoção humana em cada setor específico. É uma obrigação elementar do poder público, do comércio, da indústria, do lar, onde as funcionárias domésticas dever ter sempre seus direitos reconhecidos. Além disto, cada um de nós pode com módicas contribuições, dentro da possibilidade de cada um, ajudar, amparar as Entidades que favorecem os mais necessitados. Elas estão a clamar: “Ajude-nos a ajudar!” Quem apreende e compreende, assimila e mentaliza o que o Filho de Deus ensinou não pode se omitir, mas é levado a engajar-se na promoção dos indigentes de maneira atuante. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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