domingo, 14 de fevereiro de 2010

Construir uma sociedade mais humana

CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MAIS HUMANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A pugna por uma sociedade na qual impere a tranqüilidade e a justiça tem uma enorme dimensão evangélica e precisa ser coerente e eficaz. São muitas as atitudes a serem tomadas. O respeito ao outro a partir dos que moram sob o mesmo teto é a postura inicial. São eles os próximos mais próximos de nós. A ajuda oportuna a quantos estão na dependência das drogas, da bebida ou de outro vício qualquer. As palavras e ações que confortam os desanimados e oprimidos e um constante serviço a eles. O interesse pelos mais necessitados, os excluídos da sociedade, sobretudo através das entidades filantrópicas que devem merecer especial carinho de todos. A valorização das organizações populares que buscam promover a participação dos cidadãos, o exercício pleno da cidadania e da defesa dos direitos de cada um. A denúncia de todas as manifestações de violência no tráfego, pois, de fato, inúmeras são as vítimas dos que dirigem na contramão ou com extrema velocidade nas ruas de nossas cidades e estradas num desrespeito flagrante aos pedestres. O conselho amigo aos que colocam em circulação carros sem a menor condição de uso e que todos que possuem veículos façam sempre conscienciosamente a manutenção dos mesmos em nome da segurança geral. O combate aos traficantes de droga que levam tantos jovens e até crianças à total infelicidade. A ação contra as desigualdades, a falta de remédios e o péssimo atendimento dado às camadas mais pobres, ainda que haja oposição de uma certa faixa privilegiada da sociedade. A luta pela moralidade, para que se diminua o número de portadores de doenças contagiosas. A proclamação da libertação integral do homem que tem direito a um hoje feliz, bem como a um porvir beatificante. O exercício consciencioso das tarefas de cada dia que são um serviço ao semelhante e contribuem para o desenvolvimento geral de uma comunidade. Cumpre que elogio de Jesus aos pacíficos penetre bem no fundo de nossas mentes: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Nesta cruzada sagrada em favor da vida as dificuldades são grandes, mas não insuperáveis, a ponto de gerarem o desânimo. As vagas da violência ameaçam a todos nós. Resta então um dever e uma esperança. O dever inadiável de colocar em prática o que Jesus ensinou sobre o amor ao próximo, não como um compromisso, fruto da emotividade, uma mera promessa que logo perderá sua força, mas como uma opção livre, consciente, que perdurará sempre. A esperança iluminará esta decisão porque Cristo afirmou: “Eis que estou convosco todos os dias” (Mt 28,20) e com Ele tudo podemos. Somos todos responsáveis pela difusão da paz na sociedade e da segurança para todos os cidadãos. Daí nossa obrigação de erradicar a violência. Cada um saiba conter a impulsividade que é uma disposição nata ou adquirida, levando a reagir aos estímulos internos e externos de modo impensado, imediato, intenso, por força das cargas instintivas e afetivas. A impulsividade cria para o indivíduo dificuldades inúmeras e é fonte permanente de violência. Conduz aos desajustamentos familiares e profissionais. Causa reações anti-sociais e auto-agressivas. É terreno favorável a toxicomanias, perversões de todo tipo, criminalidade passional e recidivante. Vítima de si mesmo o impulsivo faz vítimas em torno de si, irradia desgraças. As tensões no mundo de hoje, por sua vez, causam perturbações que levam a este proceder violento, radicalmente oposto ao preceito do Cenáculo. O autocontrole, que aliás é um dos frutos do Espírito Santo (Gl 25,5), ou seja, a continência, o autodomínio, levam àquela conduta equilibrada preconizada pelos ensinamentos do Evangelho. É esta atitude serena que se deve contrapor à neurótica síndrome da impulsividade descontrolada. Cumpre, assim, ao discípulo do Mestre divino banir toda e qualquer agressividade que é uma postura anti-social. Segundo a psicanálise profunda é ela manifestação do instinto de morte, do espírito de destruição fruto de frustrações profundas. O indivíduo deve aprender que muitos males que vê nos outros nada mais são do que a projeção externa de seu próprio egoísmo, de sua incapacidade de doar, de sua insegurança interior. Praticar o preceito do amor é autoeducar-se, canalizando todo o dinamismo pessoal para fins nobres, dignos e elevados, para objetivos construtivos. Eis aí meio valioso para a edificação de uma sociedade mais humana e cristã. O preceito de Jesus: “Amai-vos uns aos outros” é capaz de mudar a vida de cada um e de toda a sociedade. São Paulo que decodificou magnificamente esta lição nos aconselha: “A ninguém pagueis o mal com o mal; seja a vossa preocupação fazer o que é bom para todos, procurando viver em paz com todos, por quanto de vós depende. Não vos deixeis vencer pelo mal, mas vencei o mal com o bem” (Rm 12,17 ss). Belo programa de vida para o verdadeiro cristão! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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