domingo, 14 de fevereiro de 2010

Agressividade no contexto atual

A AGRESSIVIDADE NO CONTEXTO ATUAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A agressividade que paira na sociedade deste início de milênio exige uma tomada de posição por parte de todos. A realidade é que as injustiças generalizadas inquietam e atemorizam, neste momento da História, os homens e as mulheres de todos os rincões da terra. O mais lamentável é que os pobres, no cenário social, são os que mais sofrem afrontas e injustiças, pois os poderosos, geralmente, nunca são punidos, embora sejam eles os grandes responsáveis pelas estruturas injustas que massacram o ser humano. Por vezes, falhas humanas pequenas de pessoas humildes, sem recursos, são alvo de terrível castigo, ao passo que crimes hediondos que prejudicam famílias, comunidades inteiras permanecem impunes. Ficou já célebre o bordão de certo locutor de Televisão: “O Brasil precisa deixar de ser o país da impunidade”. A CNBB no documento 42, número 27 já denunciou que a própria Justiça que deveria ser o reduto intacto do exercício ético do Direito, em determinados casos é desvirtuada, lenta, etilizada, protelando o processamento de causas especialmente criminais. A cumplicidade e a impunidade favorecem os corruptos e estimulam, no campo e na cidade, o sacrifício de vítimas inocentes.” Adite-se que a própria estrutura social, política e econômica do mundo de hoje é violenta. Cresce o número não de pobres apenas, mas daqueles que jazem no pauperismo, isto é, que não têm o mínimo para a sobrevivência. O modelo concentrador de riquezas, incentivado agora pela globalização da economia, implanta por todas as regiões da terra uma situação desumana. Tudo nas mãos de uns poucos: lucros, terras, bens, poder. A maioria na penúria, no analfabetismo, na doença, na fome. Tudo isto indícios claros da institucionalização do aviltamento da pessoa humana. O poder do Estado existe para servir o povo todo e não um grupo de privilegiados. O que vemos, porém, é o Estado protegendo a elite dominante, indiferente ao sofrimento das massas massacradas. O sistema se torna mais importante que a população, a qual se torna escrava dos interesses dos donos do poder. As condições de vida são cruéis para a maioria: desemprego, falta de moradia, a assistência precária à saúde, estrutura educacional discriminadora, abandono dos idosos e doentes, descaso com os aposentados. Estamos assistindo a violência no campo e os “sem terra” não podem ser ignorados, enquanto os latifundiários continuam dominando e manipulando as leis e impedindo a Reforma Agrária. Sangue derramado nas chacinas que maculam a História contemporânea de nossa pátria e que clamam aos céus. Por tudo isto a criminalidade aumenta. Há hoje mais probabilidade de alguém ser contemplado numa loteria do que não ser morto por uma bala perdida no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Atos de terrorismo, assaltos, estupros, seqüestros, linchamentos, torturas, atropelamentos deixam a população inteiramente insegura. Neste diagnóstico do que se passa na sociedade não podemos deixar de notar que são formas de violência os salários baixos, a instabilidade no emprego, horas-extras de trabalhos não pagas, a exploração do trabalho dos menores, o crime organizado, a eliminação sumária dos mendigos e meninos de rua, o nefando crime do aborto, as drogas, a precariedade do sistema penitenciário, a esterilização em massa das mulheres, a não observância da lei do silêncio com aparelhos de som a toda a altura, impedindo o descanso a quem tem direito ao mesmo, após um dia de trabalho. Acrescente-se que há nos meios de comunicação social uma verdadeira cultura da violência, inclusive nos programas infantis. Não apenas cenas de selvageria de todo tipo de crueldade, da maldade, de refinada perversidade, mas ainda é violência a imoralidade, a permissividade e o ataque virulento aos valores que engrandecem o ser racional, criado à imagem e semelhança de Deus. A exaltação do egoísmo, da sexualidade, da dissolução da família, a distorção de tudo que é puro, nobre, o distanciamento das leis morais são fontes do mal que arruína a tantos e a todos deixa apavorados, perplexos, tensos. A presença da morte não se manifesta apenas contra os seres humanos, mas é ainda visível na violência com que a fantástica e maravilhosa natureza, que a Sabedoria Divina criou é agredida com as mais variadas formas de degradação. O ar, a água, a fauna, a flora são poluídos, massacrados, desaparecendo as belezas naturais deste lindo planeta terra. A solução para contornar tão sérios problemas é o combate às causas destes males e o cultivo de um humanismo cristão profundo que leve sempre em conta a dignidade da pessoa humana que merece ter os seus direitos respeitados. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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