A CARIDADE PERFEITA E A GRATIDÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Santa Escolástica, dia 10 de fevereiro, oferece oportunidade para que se reflita sobre o amor perfeito e a gratidão que se deve ao Deus que é amor. Com efeito, tal é o pedido que se faz naS orações deste dia, a saber, imitar tais virtudes desta santa admirável, virgem e fundadora do primeiro mosteiro das Monjas Beneditinas. Entre as santas que tanto influenciaram na História da Igreja, de Santa Escolástica pouco se sabe, a não ser o breve relato de São Gregório Magno sobre o encontro anual dela com seu irmão São Bento, quando obteve de Deus o milagre de uma chuva torrencial que, impedindo o santo Abade voltar para seu Mosteiro, os levou a uma vigília de preces e reflexões místicas extraordinárias. Segundo São Gregório, São Bento, três dias depois, teve a visão da morte da irmã a entrar como uma pomba no paraíso para a eterna felicidade. É que toda vida de Santa Escolástica se passou imersa no amor a Deus e numa gratidão profunda pelos sinais de Sua dileção infinita. Segundo a teologia, o amor é a vida e a fonte da vida: é a vida inesgotável, ou seja, é o próprio Deus. Santo Tomás de Aquino, no tratado sobre a Verdade, bem explicou que o bem é de si difusivo. Ora, assim, é de sua essência o ser gratuito e irradiador de uma cadeia de bens. Quem por ele se deixa dominar ama e torna os outros capazes de amar como aconteceu com Santa Escolástica. O amor une profundamente a alma a Deus e a paz, que daí resulta, envolve também os outros numa onda de tranqüilidade, de afabilidade recíproca e de comunhão. Aliás, São Paulo aconselhava: “Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). Entretanto, para que tal aconteça, mister se faz a presença do Espírito Santo, que é o amor eterno, mútuo, entre o Pai e o Filho. Apenas tornando-se criaturas novas no Espírito que é possível responder com amor ao amor de Deus e o irradiar por toda parte. São Paulo foi claro: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). O ser humano de si nada pode, mas sua força vem do alto. Este reconhecimento da atuação do Espírito do Amor leva à gratidão pelos sinais desta presença maravilhosa de Deus. Eis por que a santidade que contemplamos em Santa Escolástica não foi senão a plena realização do amor na relação com Deus e com o próximo. Este amor rompe as resistências do egoísmo, é generoso e faz empreender coisas grandes e estimula a tudo o que há de mais perfeito e melhor nos céus e na terra, porque não conhece limites, já que sua fonte é o próprio Deus. Como lemos no livro Imitação de Cristo, “quem ama corre, voa e se alegra, é livre, nada o detém, nada lhe pesa, nada lhe custa, tenta fazer mais do que pode, não considera nada impossível, porque tudo crê possível e lícito. Por isso pode tudo e realiza muitas coisas, diante das quais, quem não ama desanima e tomba por terra”. Foi neste sentido que Santo Agostinho pôde afirmar: “Ama e faze o que quiseres”. Eis aí o segredo de todo progresso espiritual. É a forma ativa da ação do cristão, determinando seu dinamismo no que tange ao Ser Supremo e as demais criaturas. Tanto isto é verdade que São Paulo aconselhava aos Efésios: “Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oblação e sacrifício de agradável odor”! (Ef 5,2). Deste modo o amor de Deus em nós é perfeito (1 Jo 4,12). Por tudo isto a caridade não é só virtude a ser realizada, mas caminho a ser percorrido, itinerário espiritual pelo qual, sob a direção do Espírito Santo, e na imitação de Jesus, se pode aproximar de Deus e de suas perfeições. Este amor é desta maneira ascendente, levando ao cimo da perfeição, e descendente porque envolve o próximo numa beatitude celestial. A exemplo de Santa Escolástica, cumpre servir a Deus com caridade perfeita, reconhecendo sempre os sinais do amor divino, os irradiando por toda parte. * Professor no Seminário de Mariana 40 anos.
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domingo, 14 de fevereiro de 2010
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