O ATUAL CONTEXTO HISTÓRICO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os grupos humanos vivem em função de três dimensões distintas: a do passado, a do presente e a do futuro. É impossível dissociar estas três etapas nas quais os indivíduos e os grupos vão construindo sua História. O grande equívoco da historiografia foi, num primeiro momento, viver debruçada sobre o passado, de costas para o futuro. Depois, só se considerou o presente. Em seguida, surgiu uma futurologia espúria. O certo, porém, é colher lições do passado para melhorar o presente e fazer projeções inteligentes no porvir tudo na perspectiva de um grande amor a Deus e ao semelhante. Embora não tenha a sociedade todas as características que Spencer lhe quis atribuir, de certo modo, ela funciona como um organismo vivo. Todo agrupamento humano tende, irreversivelmente, a evoluir, a transformar-se, expandir-se com objetivos claros de segurança, de bem-estar de seus membros, de uma infra-estrutura que proporcione o máximo de conforto a todos. Esta transição do passado para um presente melhor e para um futuro ainda mais alvissareiro só colimará os fins intrínsecos de uma natural evolução se forem observados determinados padrões éticos. Na verdade, uma moral calcada nos mandamentos divinos. Se tal não ocorrer surge o tumulto, a revolução, até mesmo a convulsão social. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os hebreus revoltados com os desmandos do rei Salomão, com os escravos chefiados por Espártaco na Roma antiga, com o povo francês na célebre Revolução de 1789, com os escravos no Brasil, chefiados por Zumbi, com os Conjurados mineiros no século XVIII. Os fatos se multiplicam na História dos povos, momentos dramáticos que mancham inclusive páginas da gesta deste nosso século tão convulcionado. Hoje, porém, por meio da mídia, uma tal interveniência ocorre que, no jogo dos interesses, a grande massa fica como que neutralizada, anestesiada, joguete das elites que mistificam e impõem as regras, dado serem onipotentes e onipresentes. Dentre as mazelas atuais se encontra, por exemplo, a exploração do sexo. O sexo, que foi instituído por Deus como a forma natural de reprodução dos seres vivos. Uma vez objeto de exploração, desencadeia uma série de comportamentos nem sempre controláveis pela razão, que fica inteiramente obnubilada, comprometida pelo impulso do instinto. O sexo é então utilizado barbaramente, induzindo condutas e uma mentalidade hedonistas favoráveis à moral do êxito dos poderosos. A exploração sexual, portanto, é duplamente agressiva ao mandamento do amor que Cristo pregou no Cenáculo. Contradiz o verdadeiro, o genuíno, o autêntico amor, e é instrumento da ambição dos ricos, conduzindo à miséria, além de ser a fonte de tantos malefícios e doenças. Estas, por sua vez, enriquecem as multinacionais dos medicamentos.Mais de cem milhões de dólares anuais são consumidos para investigar a mente e os mais recônditos anelos do público-alvo. A meta é desvendar a esfera do desejo e, para isto, o discurso verbal não é suficiente, pois trata de se trabalhar o inconsciente coletivo. Daí os recursos subliminares tão a gosto daqueles que comandam a sociedade de consumo. É mister seduzir a qualquer preço, não importam os meios a serem empregados. Dá-se até a “feminização” do automóvel, empregando-se mecanismos de projeção psicológica do tipo inconsciente, facilitado pelas linhas curvilíneas de seu desenho, cores e até acessórios. Assim inúmeras outras propagandas que usam o encanto feminino para impor determinado comportamento. Além deste aspecto de sedução exercida para induzir a uma ação que visa o enriquecimento empresarial, há uma verdadeira exaltação afetiva para com objetos materiais. Como é doloroso a um sacerdote escutar de esposos, filhos, amigos, frases como esta: “Antes fosse eu um carro ou uma moto, pois seria alvo de muito mais atenção”. Até neste pormenor o amor é vilipendiado, afetado, invertido. A psicologia profunda está, deste modo, a serviço da propaganda mais ignóbil em todos os sentidos. Propaganda que não apenas vende produtos para mais enriquecer os ricos, mas ainda passa idéias visando manter o status quo, formando hábitos num processo de automatização que atua sobre o modo de agir e de pensar das pessoas. Assim é que o trivial da vida cotidiana é contaminada por milhares de imagens que transmitem mensagens que agem de maneira inexorável. Uma verdadeira poluição mental. Cumpre sempre denunciar situações tão deploráveis. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
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