sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

JESUS EM NAZARÉ

JESUS EM NAZARÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Segundo São Lucas, em Nazaré, o Menino Jesus crescia cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). A infância de Cristo, assim lembrada pelo Evangelista, conduz a uma reflexão sobre a infância espiritual mediante a qual cada cristão se santifica repleto do Espírito Santo pelo qual se deixa inteiramente guiar. Trata-se de uma imersão no Deus que habita no íntimo da alma numa confiança absoluta de uma criança que deposita nos pais toda sua segurança. O Mestre divino dirá: “Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará (Mc 10,15). É um processo de interiorização, de intimidade da alma que acaba experimentando no céu interior da própria personalidade o grande amor de Deus através da humildade de um menino. O cristão passa a ter então um procedimento silencioso, tranqüilo, atingindo a imperturbabilidade total, mesmo diante dos dissabores próprios de um exílio terreno. É que a graça de Deus está com ele, como acontecia com Jesus na sua infância em Nazaré. É esta graça divina que leva a mente e o coração do cristão a perceber a presença divina dentro de si, encontrando as três Pessoas da Trindade Santa que nele habitam. É um movimento de fora para dentro de si através do afastamento de qualquer falta e até das imperfeições voluntárias. O cristão fica então iluminado pela luz divina como acontecia com São João Maria Vianney. Quantos se aproximavam do Cura d`Ars percebiam uma luminosidade inefável que dele fluía. Como tantos outros santos e santas, ele chegou àquela simbiose do amor que leva a usufruir uma alegria celestial. Santo Agostinho pôde deste modo reconhecer que no mais íntimo de seu ser estava Deus. São Francisco de Assis descobriu uma perene manifestação da força e da bondade divinas na existência e no agir de todas as criaturas, por que ele vivia numa união íntima com o Criador dentro de sua alma. Santa Teresa de Ávila deu provas de tal senso de proximidade do Senhor, dado que achava graça quando alguém manifestava o desejo de ter vivido com Jesus em Nazaré. São Gregório mostrou como a vida de São Bento estava imersa em uma atmosfera de permanente oração. Quem, de fato, penetra fundo no sentido mais profundo da revelação de Deus no Antigo Testamento pode captar que para Abraão e outros Patriarcas, para os Profetas, a mensagem era de um Deus presente e operante no coração dos que O temiam. Jesus de maneira admirável fundamentou esta postura ao proclamar: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Nesta inefável verdade está inclusive um fundamento da imortalidade do cristão dado que Deus está tão próximo dele, nele realmente morando. Como, entretanto, Deus é tão inesgotável, por mais que Ele seja encontrado dentro da alma humana, sempre restará ainda a ser totalmente descoberto. Eis por que esta presença de Deus é sumamente educadora, pois implica uma passagem contínua para um contato cada vez maior com Ele. Donde a purificação, a metanóia, estarem no cerne da vida daquele que vive na presença divina, percebendo-se o cristão como uma eterna criança diante da majestade e santidade divinas. Por isto mesmo acata como meios santificadores todas as provações que Deus envia. É que a presença de Cristo no cristão é uma presença toda embebida de amor pessoal, total, infinito. Eis o motivo pelo qual muitas vezes o batizado parece tocar o Infinito. A exemplo de Jesus em Nazaré, aquele que vai crescendo cheio de sabedoria percebe que se passam coisas inefáveis dentro de si. O Filho não cessa de arrebatá-lo consigo no impulso de seu dom ao Pai. O Espírito Santo não para de se unir ao Pai para incorporar o cristão nesta corrente de amor e o Pai não cessa de entregar, a quem vive em união com Ele, o Filho e o Espírito Santo. Presença dinâmica de Deus nem sempre percebida. A graça de Deus estava com o Menino Jesus em Nazaré e está sempre com o cristão e o faz triunfar das trevas. Unido a Deus ele torna universal o seu louvor. A dependência para com o Deus que habita a cela interior ou, no dizer de Santa Teresa de Ávila, o “castelo da alma”, influencia virtualmente toda a atividade humana. Quando Paulo VI visitou em 1964 a Casa de Nazaré, ele falou que “o silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade [...] o valor da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo”. É preciso, de fato, saber captar “o som do silêncio”! *Professor no Seminário de Mariana 40 anos.

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