sábado, 12 de dezembro de 2009

AQUELA QUE ACREDITOU

AQUELA QUE ACREDITOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Maria não está no centro da celebração natalina, dado que o foco principal é Jesus, seu divino Filho, mas ela se acha no coração do mistério do nascimento do Verbo Encarnado. O profeta Miquéias havia proclamado: “Deus deixará o seu povo ao abandono, até o tempo em que uma mãe der à luz” (Mq 5,2) e lemos na Carta aos Hebreus: “Ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo” (Hb 10,5). Maria está, portanto, na articulação dos dois Testamentos junto com sua prima Isabel. Desde toda a eternidade ela estava nos segredos messiânicos do Todo-Poderoso e lá para sempre habitava nos planos salvíficos. Com o aproximar do Natal ela, pelas palavras de Isabel, nos convida à felicidade de crer: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). Esta expressão é a chave que leva a penetrar a realidade íntima da grandeza de Maria, a Virgem que teve fé que cresceu sempre no itinerário penoso de seu Filho, passando pelos caminhos tortuosos do exílio no Egito e em todas as outras etapas do setenário de suas dores. Como declarou o notável escritor francês Charles Péguy, Maria, foi uma criatura excepcional, “infinitamente única, infinitamente rara”. Tanto isto é verdade que forçou Isabel a ser a primeira teóloga do Novo Testamento com a célebre saudação: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? “(Lc 1,42-43). Sua prima apregoa a divindade de Jesus que viera remir a humanidade, graças ao sim confiante daquela que jamais duvidou das promessas divinas. Escolhida por Deus dentre todas as mulheres, Maria era livre, mas havia dito ao enviado do céu: “Eis aqui a escrava do Senhor” (Lc 1,38). Seus assentimento se tornou o momento crucial da adesão a tudo que ultrapassa as considerações meramente humanas. Era o fazer-se Mãe de Deus e a fé é sempre uma reverência da razão à palavra divina. Para Maria fora a resposta ao Pai num ato de confiança absoluta. Depois ela cumpriria sua maternidade com um dom total de si, de sua pessoa a serviço dos desígnios divinos. É o que se chama a obediência da fé, ou seja, aceitar sem restrições, consentir sem reservas no que não se conhece, porque se lança nos braços da misericórdia e da sabedoria do Ser Supremo. Por tudo isto Maria foi uma crédula que perseverou. Como Jó e como Abraão, ela esperou tudo, suportou tudo porque “para Deus nada é impossível”. Mais tarde ela ratificou as palavras de Isabel, quando na Paixão de seu Filho ela guardou no coração uma fé total nele e no Pai. Maria cuja fé tanto impressionou a Isabel está a pregar a perseverança na prática de tudo aquilo em que se crê. Por tudo isto Maria é o exemplar primordial da Igreja que caminha nas veredas da fé e nas rotas do amor a Deus e ao próximo. É o que, na Constituição sobre a Igreja, declarou o Vaticano II: “Da Igreja [...] a Mãe de Deus é o modelo na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. [...] Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogênito de muitos irmãos (Rm 8,29), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe” (n.69). Assim todas as gerações cristãs participam da fé da Mãe de Deus e são levados a uma fidelidade irremovível às verdades pregadas por Jesus. É esta fé que ajuda os batizados a suportar os sofrimentos e penas da vida e a persistir na esperança, mesmo através de toda sorte de provações. Como dizia o Apóstolo Pedro, “estas situações aflitivas verificarão a qualidade de vossa fé que é bem mais preciosa do que o ouro, este ouro destinado a desaparecer, o qual se verifica pelo fogo” (1 Pd 1,7). A comemoração do Natal que se aproxima deve levar cada um, na esteira de Maria, a uma adesão incondicional a Jesus Cristo. A Igreja que no Advento medita e celebra o inefável mistério da vinda do Filho de Deus a este mundo nos apresenta assim, bem próximo do Natal, estas lições da admirável postura de Maria ante o mistério do nascimento de Jesus. Ela é a estrela que nos guia, fonte de graças e de bênçãos. Com sua admirável fé tornou possível que Deus tornasse visível seu amor por nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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