sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A QUEM MUITO FOI DADO

A QUEM MUITO FOI CONFIADO, MUITO SERÁ EXIGIDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Não se pode nunca enterrar os dons de Deus, tesouro inestimável. Cumpre fazer frutificar tudo que se recebe gratuitamente do Criador. Jamais se valoriza demais o presente da vida com tudo que a bondade divina a cerca. Cada um é como que um gerente das dádivas do céu. Na lógica do Reino de Deus é necessário se faça tudo que está ao alcance de cada um. No dia do juízo será pedido contas do que se recebeu da munificência do Onipotente Senhor. Ele associa cada ser humano à sua obra maravilhosa e daí, em conseqüência, a responsabilidade pessoal. O mundo em derredor do cristão está repleto de possibilidades e no dizer de São Paulo “somos cooperadores de Deus” ( 2 Cor 6,1). Não se trata apenas de não se fazer o mal, mas mister se faz praticar o bem e desenvolver os talentos recebidos e isto para a glória de Deus e bem das almas. Todos, porém, baseados na mais total confiança na graça para a realização plena do projeto traçado pelo Criador. Este oferece ao homem espaço para bem usar a liberdade com toda criatividade, fruto das inspirações do Espírito Santo. Esta certeza da proteção divina condiciona um engajamento absoluto na busca da perfeição existencial. Donde resulta uma coragem em todas as circunstâncias da vida, mesmo porque a existência cristã pode ser definida como uma contínua busca do próprio enriquecimento interior. Não se trata de um subjetivismo deletério, mas do enriquecimento espiritual pessoal para, deste modo, santificar os outros, pois “ninguém dá o que não tem”. Elisabeth Leseur bem afirmou: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Eis por que o batizado é chamado à perfeição. Isto significa modelar os próprios pensamentos, os próprios gostos segundo a vontade de Deus, corrigir os próprios defeitos, procurar uma contínua retidão interior de sentimentos e de propósitos, deixando-se guiar inteiramente pelo amor de Deus e pelo amor ao próximo, escutando a voz do Espírito, alimentando o senso de Igreja, tornando-se cada um disponível na simplicidade e nas renúncias dentro dos planos de Jesus. É a metanóia e sua progressão contínua, ou seja, uma metamorfose ininterrupta. É deste modo que os dons divinos se multiplicam não por resoluções ocasionais ou efêmeras, mas resultado de um crescimento sem limites. A busca da maturidade espiritual é a maneira prática de um dia o cristão poder se apresentar diante de Deus repleto de merecimentos para a vida eterna. Para isto cumpre a convicção segura, plena, da presença de Deus, aprofundando o cristão suas relações com Ele e tomando progressivamente consciência do projeto salvífico que nele se dá e que deve contribuir para a salvação do próximo. Transformação e renovação da mente e do coração num discernimento do bem e do mal, da verdade e do erro. É assim que a perfeição do cristão se caracteriza pela docilidade e pela submissão à vontade do Criador que oferece suas dádivas, mas vai cobrar de cada um, pois “a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48) A maleabilidade diante da ação do Espírito Santo leva a “produzir frutos em todas as boas obras e a crescer no conhecimento de Deus” (Cl 1,27). É o caminhar no Espírito de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 5,22). Desta maneira, cristãos maduros têm a capacidade espiritual de penetrar até o fundo do mistério de Cristo e de, inteiramente, acatar o Redentor. Disto resulta a edificação da Igreja que é o sacramento de Cristo (Ef 2,20 ss). Com efeito, a pessoa inteira, corpo e alma, passa a se sentir em tensão para o termo único que é Deus, suma verdade e sumo bem e o quer transmitir aos outros. Deste pacto sério com Deus, numa opção livre, resulta não apenas o desejo da salvação pessoal, mas também a dos outros. Compromisso eclesial de salvar o mundo. Deste modo cresce não só a vida de cada um, mas também a vida da Igreja como totalidade. Torna-se o batizado então o administrador fiel e prudente que o Senhor colocou à frente do pessoal de sua casa (Lc 12,42). Grande, portanto, a responsabilidade do cristão a quem muito foi confiado e de quem muito será exigido, mas, em compensação, Aquele que o Doador de todas as graças, não apenas auxilia na gloriosa tarefa, como também recompensa com bens eternos aos que correspondem a suas dádivas sublimes. É por tudo isto que se diz que o cristão tem o mundo nas mãos! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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