segunda-feira, 8 de junho de 2009

uMA RESPOSTA E UMA PROPOSTA

UMA RESPOSTA E UMA PROPOSTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cumpre uma resposta a quantos se preocupam com o destino de nosso idioma. Um acender de luzes, iluminando as Letras pátrias. Não apenas um brado efêmero contra os despautérios e despropósitos lingüísticos. Com razão Latino Coelho proclamou que “nenhum povo culto pode viver sem literatura. Os indivíduos para viver e satisfazer seu destino hão de comunicar suas idéias e traduzir na linguagem as manifestações de sua inteligência. A expressão das nações, e sua conversação, o desafogo do seu espírito, é a literatura de cada época e de cada sociedade. Um povo sem letras não vive muito tempo, e, se vive, é uma exceção muito privilegiada”.
Ora, a gramática com suas normas a serviço do reto entendimento fornece o recurso para o diálogo com o mundo exterior, imergindo as consciências no belo apreendido por espíritos de escol, corporificado pela arte literária. A validade desta foi colocada em relevo por Rui Barbosa: “... só o influxo da arte comunica durabilidade à escrita humana, só ele marmoriza o papel e transforma a pena em escopro”. Eis aí uma das propostas: o retorno à valorização da gramática.
Além distto os órgãos governamentais competentes devem estar atentos à observação do emprego do português no rádio e na televisão. Os meios de comunicação de massa são, tantas vezes, transformados em mestres do mal falar. Artistas, apresentadores, publicitários a agredirem normas elementares e a infestarem a língua com neologismos de péssimo gosto, sobretudo os programas ditos humorísticos, que modificam as palavras fixando deturpações alarmantes, transmitindo modos de falar falhos e incoerentes. Luta sublime contra a impropriedade dos termos, a deformação dos vocábulos, a deficiência nas regências, as incorreções de concordância, as construções defeituosas ou sem lógica, os solecismos clamorosos. Não apenas o rádio e a televisão, mas ainda os livros, revistas e jornais a aprimorarem o uso da língua. O ex-ministro da Educação, Abgar Renault, quando recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Minas Gerais declarou que “pelas leituras que faz freqüentemente, tem a impressão de que a língua escrita no Brasil é, atualmente, o mais maltratado instrumento de expressão”. Alexandre Herculano afirmou: “a religião e a língua são as duas cadeias de bronze que unem no correr dos tempos as gerações passadas à presente, e esses laços que se prolongam através das eras são a pátria”. Pedro Calmon, num instante de pulcra inspiração, em plena Academia de Ciências de Lisboa, assim se expressou, exaltando a língua portuguesa: “é a língua de meu povo. Nela ele vive a sua forte vida independente. É a manifesta expressão de sua unidade política: como que a Arca Santa da pátria imortal”. Tem razão o grande mestre. Eis porque amar a língua pátria é um ato de civismo; cultuá-la, um gesto de patriotismo. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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